quinta-feira, dezembro 13, 2007

Carta pra Mainha

Rio, 12 de dezembro de 2007

Bença mãe!

Aqui é tanta belezura que fico aboletado, arriado dos quatro pneus. Já fui ao Cristo (que os daqui chama de Corcovado), Maracanã, Copacabana, na Feira da Gente em São Cristóvão e na feira de Foguinho. Vixe Maria! Já posso bater a caculeta! Tô tirando a maior gréia, é muita fuleragem. Ê lasqueira! Mas ainda não consegui nenhuma colada com as minas daqui. Até as graxeiras são umas jumentas, mas as daqui não são piriguetes.

To trabaiando num tar de DSG. Esta sopa de letras de letras é pomposa e significa “Desenvolvimento de Sistemas de Gestão”, porém num pense que eu faço computador não. Deus que me livre! É porque como a palavra sistema é arretada de holística, botaram este nome. Pra entrar na minha sala tem um tar de crachá (crachá é um prástico, com a foto da gente e uma faixa preta por detrás). Eles dizem que o tar de crachá é quem abre a porta, mas como eu sou sabido mãe, já descobri que é a Luana e o Tiago os abridores de porta. Precisa ver meu computador! Aqui eles deram outro nome pro retado, eles chamam de workstation. Na sala tem uma renca deles; tem três que são mais engalalados do que cruz em beira de estrada.
Por falar em nome esquisito, tem uma coisa que não tô gostando. É que toda reunião que vou, tem sempre um garganteiro usando uns dizeres estranhos. Até os nomes dos galalaus são diferentes: Alexandre Cara Vai Tu (parece propaganda de político), outro tem nome de povilho antiséptico, a outra tem nome de profissão de fabricante de bolsas e, um novato (no setor, não de idade), tem nome de homem-bomba. O nosso sobrenome é pinto aqui.

Mas, pra piorar, a linguagem deles é abilolada. Outro dia, num meeting (esse é o apelido que eles dão para reunião), meu colega gazo perguntou pra mim se eu tinha acordado o plano de cut over. Olhei estranho e perguntei “O de quem?”. Aí ele me disse “Preciso do plano deste plano para o go live do projeto. Sem ele não tenho referência para o business case, não tenho como especificar o workflow, nem identificar os drivers e outcomes.”. Mirei aquele aquerijebá de gravata, já apoquentado, e pensei “Tô a ponto de fazer uma agrestia, mas como preciso da bufunfa perguntei “O prezado está falando sério ou dizendo dixotes?”. Superiormente, ele arreliou da minha fala e continuou “Colega, se você ainda não desenvolveu os modelos mentais para estar aqui no DSG, talvez seja melhor eu falar com seu sponsor sobre um programa de change management para roll out as necessárias competências. Talvez um mentoring ou um coaching, sendo conduzidos por um deliverable business plan possa ser um adequado kick off para o seu desenvolvimento.”. Naquela altura, tive vontade de procurar frete, mas com medo de perder a chave e ficar com fama de azuretado ponderei, e, na tora, como um chibungo, perguntei educadamente “Prezado, para a gente se entender, para evitar mandu, qual é o prazo para a entrega do tal plano de cut over?”. Mas fique tranqüila, porque depois desta iniciação, tô sabendo até o que é slide wear ( a tradução é: dê-me o power point que eu conquistarei o mundo. Power point é um programa legal de computador que serve para amenizar notícia ruim), outros dizeres da língua-patroa e a começar meu correio sempre com o tratamento de “Prezado...”.

Bem, vou ficando por aqui, cheio de efes e erres, cheio de guéri-guéri e com meu paletó preto e minha gravata colorida apertada, neste Rio Maravilha de 40ºC, em um dezembro ensolarado.

Do seu filho.

Cássio Távora Cavaco

domingo, dezembro 02, 2007

Le Petit Prince

Lendo o blog Disritmia, descobri que sou afetulosa. Foi justamente na frase da raposa que fiquei pensando quando terminei de ver o filme do post de ontem. Claro que a autora lança mão deste termo de uma forma totalmente pejorativa, mas... não é que a frase da raposa tem tudo a ver com os dias de hoje, nos quais as pessoas temem em se conectar com as outras e são completamente irresponsáveis com o que fazem (inclusive com quem cativam!)?!!!?

Veja só:

“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.”
A sábia raposa ensina o pequeno príncipe a compartilhar.
E explica-lhe que, apesar de existirem milhares de flores parecidas, a dele é única, e foi o tempo que ele dedicou a ela que a fez tão importante.
Cativar quer dizer conquistar e requer responsabilidade.
Responsabilidade por um amor, por um amigo, pelo talento que possuímos e pelo que conquistamos em nossa carreira profissional e pessoal.
Seja responsável pelas suas conquistas.
Valorize-se. Cuide do que você cativou.

Esta é a terrível fala da raposa, que só toca o coração dos "afetulosos"!!! O mais incrível é que ela fala em sermos responsáveis por nós mesmos... E eu, que só comecei a me dar conta do quanto eu me adoro depois de duas anestesias gerais! Pode?

Quer ver a fala dos outros personagens? Entre no site oficial, ele é bacaninha: http://www.opequenoprincipe.com/index.html

O engraçado é que eu só fui procurar por este site por causa da definição de "afetuloso"! E aí, encontrei o oficial dos oficiais: o francês. Eu não falo francês, mas o site é legal à beça. Uma boa recomendação para os afetulosos! Dá uma olhada: http://www.lepetitprince.com/fr/



Em especial, sugiro que você visite o link "Le Club", onde você vai encontrar um Concurso promovido pelo site só de Calligrammes... e eu nem sabia que isso tinha esse nome!!!

Adorei! Ah, se todas as crianças e adultos conseguissem entender este livro...

PS.: Ele vai muito além do universo das misses, viu? Obrigada por me lembrar que, quando criança, eu li e adorei este livro e não tenho vergonha disso!!!

PS2.: Já estou preparando o meu Calligramme, para postar aqui antes do Natal!

PS3.: O livro "El principito" em Espanhol também é muito bacaninha!

sábado, dezembro 01, 2007

Uma estrela e dos cafés

Este título singelo logo me atraiu e tirei o filme da estante disposta a levá-lo. Perguntei ao vendedor se era bom e ele me respondeu dando de ombros.

Já tinha virado hábito passar na "El Ateneo" toda vez que eu ia a Buenos Aires a trabalho. Dava sempre um jeitinho de dar uma corridinha lá para comprar alguma coisa. Desta vez, orientada e estimulada por minha professora de Espanhol, resolvi trazer DVDs. Escolhi dois, um espanhol e este, argentino, "Una estrella y dos cafes".

A sinopse não dizia muito do filme, mas eu resolvi arriscar. Conta a história de uma cidade distante de Buenos Aires, Purmamarca, que fica ao norte da Argentina, e cuja população não se parece em nada com a aristocracia portenha. Todos têm estereótipo andino, e aquele pelo maravilloso!


Vale à pena visitar o site do filme, depois de assistí-lo. Ligue o som, a trilha sonora é linda! Mas, voltando ao filme, ele é de uma sensibilidade impressionante. Aborda um tema não muito comum aqui pelas nossas locadoras - nem os filmes brasileiros, nem as super produções americanas tratariam do mesmo tema. Mostra a transformação pela qual passa uma menina de treze anos ao se apaixonar por um estranho, que chega a cidade, passa uma chuva e depois vai embora.

O cara jura para a esposa que não seduziu a menina, mas não há como negar que o modo como ele a tratou fez com que ela deixasse de se sentir menina e passasse a se sentir mulher. A menina muda com o comportamento cativante do cara.

Por isso, tome cuidado! Veja lá o que você faz, rapaz!

Conselho apropriado nesses nossos tempos, né?