segunda-feira, março 07, 2011

Sem...

Abriu a torneira e ficou observando a água escorrer pela pia. Fria.
Tirou uma tesoura da gaveta e checou seu fio. Estava bom.
Segurou uma mecha de cabelo. Cortou. Depois outra. E mais outra.
Observou com calma sua transformação.
Não queria mais nada.
Nem a moldura do rosto.
Usou uma loção adstringente para limpar o rosto.
Nada, nem impurezas da rua.
Tirou os óculos e os colocou sob os pés, a estraçalhar suas lentes.
Não precisava mais de nitidez.
Pra quê enxergar?
Despiu-se das roupas que trazia no corpo e olhou pra ele.
Contou uma, duas, três, várias cicatrizes.
Quantas vezes lutou pela vida?
Achava que tinha algo maior pra fazer...
Que nada!
Lembrou-se de ter lido que a medida de sua importância é proporcional ao quanto se lembram de você depois que você se vai... Dez anos é um bom número.
Nos tempos de hoje, dez minutos é um bom número.
Questionou-se do quanto já quis ser lembrada e do quanto desejava hoje ser esquecida.
Olhou praquela mulher no espelho e viu a menina que brincava com os primos de bola de gude, pique e outras artes.
Era outra mulher.
Sem vaidade, sem medo, sem...

Um comentário:

Clarisse Bronté disse...

"Com" sabedoria.

Bjo