terça-feira, junho 21, 2011

Pequeno conto de fadas xadrez

Evitando perder o rei, entregou a rainha ao bispo negro. Deu sua cabeça numa bandeja de prata e torceu para achar saída que lhe permitisse manter o reino. A rainha obteve clemência e sua cabeça de volta. Colocaram-na em seu corpo, mas restou-lhe a cicatriz. Estava lá, para lembrar-lhe que, na hora de maior ameaça, de nada lhe servira a fidelidade ao reino, ao rei. Vão se as rainhas, ficam-se os anéis. Manteve-se ao lado do rei, ainda que magoada, por medo de se aventurar em outras terras, em aldeias longínquas. Não mais como rainha, mas como criada. Optou pela dor a lidar com o desconhecido. Mas, ao contrário do que esperava, a mágoa corroía-lhe o corpo, marcava-lhe o rosto, envelhecia a rainha, pobre e medrosa rainha. Tinha estado tão bem ali e por tantos anos. Quanto ao rei, quanto mais ela permanecia ao lado do rei, mas ele se enfraquecia. Perdera seu bem mais precioso: o respeito dos súditos. Um dia, em visita àquele reino, um trapezista do circo concedeu à rainha um grande ensinamento. É preciso voar, se aventurar, mas não sem antes assumir o seu lugar... de rainha. E foi então que ela despiu-se da capa do medo, que há anos lhe acompanhava e acolhia e partiu. Viveu grandes momentos felizes, até que a cicatriz finalmente desapareceu...

quinta-feira, junho 16, 2011

Ombro amigo

Um dia, conversando com uma amiga que frequenta aqui o blog, ela me relatou uma experiência sobre uma de suas amigas que a tinha associado a um momento ruim de sua vida e que, por conta disso, tinha se afastado dela, o que a princípio, a havia deixado muito triste. Mas, depois ela entendeu.

Aquilo me deixou encafifada por muito tempo, pensei à beça naquilo, porque pra mim era quase inimaginável que alguém a quem você ajudou num momento difícil de repente se afastasse de você simplesmente para não se lembrar do momento. Não dizem que a gente pode até se esquecer daqueles com quem rimos, mas nunca daqueles com quem choramos?

Acho que talvez esse seja o X da questão. A gente pode até não se esquecer das pessoas com quem choramos, e talvez, justamente por isso, a gente se afasta, para não se lembrar do momento da dor.

Essa semana, numa conversa com o maridão, ele me disse que existem mesmo pessoas que classificam as demais segundo a situação que viveram, e se foi um momento triste, colocam esse grupo de pessoas numa “gaveta” específica do cérebro. Se foi uma situação feliz, a “gaveta” é outra. E assim vão vivendo.

Isso me veio novamente à mente porque eu tenho vivido isso constantemente. Para alguns, sirvo como o ombro amigo... Constatei que como ombro amigo, não sirvo para soltar fogos com alguns amigos quando eles estão bem. Sou só um ombro, uma escora, em quem as pessoas se apóiam quando precisam.

Sei que isso é assunto para terapia, que talvez não seja tão simples assim, mas o fato é que Lacan foi o grande responsável por aproximar a psicanálise da literatura, então, enquanto seu lobo não vem, isso é, minha terapeuta, eu vou escrevendo nesse espaço aqui.

Eu não sei se sou tão evoluída quanto a minha amiga, que entendeu. Eu não entendo, não. Acho que amigos são para todas as horas. Não me venha chorar as pitangas se na hora da comemoração, eu não te sirvo. Pronto, falei!

quarta-feira, junho 15, 2011

Vivendo e aprendendo a jogar

Semana passada, dei uma sumida aqui do blog. Estava recebendo uma consultora norte-americana e isso implicava em garantir que ela fosse ficar bem e conhecesse um pouco mais a cidade. Essa senhora, bem uns 15 anos mais velha do que eu, foi a grande inspiradora das minhas pesquisas na época que eu estava fazendo meu Doutorado. Eu citei ela à beça.

Na terça-feira, levamos a consultora para conhecer o restaurante Cais do Oriente, próximo ao Centro Cultural do Banco do Brasil, no Centro da cidade. O lugar é lindo e a comida é uma delícia. E o melhor, não fica entulhado de gente.

No meio do nosso bate-papo, ela me disse a seguinte frase:

"Quando eu era jovem, costumava ter sonhos tão grandes para o meu futuro...
... hoje, quando olho pra trás, vejo que eles eram pequenos demais para mim..."


Essa frase me tocou profundamente. Na despedida, eu me emocionei de pensar que estava diante daquela pessoa que tanto havia me inspirado, que estava fazendo um curso com ela, que tinha estado ali, num restaurante falando da vida com ela... enfim...

Levamos a consultora para comer bolinhos no Chico e Alaíde, e ela adorou os mais pesados: "choquinho de camarão", "baião de dois", "feijoada"...

Na segunda-feira, ela fez questão de enviar um e-mail muito gentil falando que os bolinhos tinham sido o ponto alto da viagem, e o papo que tivemos naquele dia, ela, eu, o maridão e um grande amigo também...

É, a gente realmente se dá conta de que, muitas vezes, nossos grandes sonhos do passado são mesmo muito pequenos...

sábado, junho 04, 2011

Quando ele finge que é surdo...

Amor, não vai por aí não que está muito engarrafado...

{e ele parece que não te escuta...}

Amor, por favor, estou super atrasaaaaaada...

{e ele continua seguindo pelo mesmo caminho, super focado no trânsito caótico a nossa frente}

Amor, dobra a direita...

{e ele continua na mesma velocidade como quem não está nem aí}

PORRA, vira nessa entrada à direita, CACETE!

{pronto, acabou o problema!}