Eu tenho um monte de amigas da minha geração que ainda estão solteiras. Já os amigos, a maioria deles casaram ou se arrumaram. Uns demoraram mais, outros menos, mas o que a gente ouve falar mesmo é da mulherada que está sozinha, e se ressente da solidão. Solidão tem um peso danado.
Recentemente, um grande amigo se separou da esposa e já arrumou uma namorada. É natural ouvirmos dizer que o homem não consegue ficar sozinho e que, por isso, emenda um relacionamento no outro. Quanto às mulheres, o que a gente escuta é:
não vá trocar um problema por outro, resolve esse seu problema primeiro para depois partir pra outro relacionamento. Enfim, é mais comum as pessoas aceitarem o fato das mulheres terem que passar por um momento de "luto" do antigo relacionamento pra poder começar outro de peito aberto.
Eu, particularmente, acho isso tudo uma besteira. Acho que o que importa nessa vida é sermos felizes, juntos ou separados, felizes sozinhos, na pista, como se diz por aí, ou acompanhados de um novo amor que nos faça crescer e sentir bem.
Mas, voltando às amigas solteiras. Outro dia, eu estava conversando com um amigo e ele disse:
mulher solteira, ou separada, sem filhos, com mais de trinta e cinco anos, tem um alarme na testa, é sinal de perigo pra qualquer homem, que ao se aproximar, vai pensar logo que a mulher quer casar, quer uma família, vai virar encosto. Tudo bem, tudo bem, meu amigo não foi nada gentil. Mas, deve ser isso mesmo que os caras pensam, porque no fundo é assim que eles agem: fogem de mulheres desta faixa etária como o Diabo foge da cruz.
A mulher, então, pra se dar bem com esse tipo de homem medroso tem que ter muita auto-estima. Tem que saber muito o que quer, e o que não quer. Esse meu amigo, por exemplo, tem um
check-list mental, e parece que vai checando as perguntas e as respostas, à medida que as escuta. Chega a ser engraçado.
Você gosta de samba? Ah, você quer ter filhos? Você vai pra baladas no sábado à noite? Que tipo de filmes você vê? São tantas exigências que ele faz, que eu chego a pensar que ele não está pensando no "chinelo velho pro pé descalço" e, sim, no quanto esse chinelo velho vai exigir de manutenção por parte dele. E se, em contrapartida, as mulheres fizerem o mesmo?
Então, não se trata mais de avaliar o custo de mudança, nem o custo de oportunidade, mas sim, o custo de manutenção. A vida é mesmo feita de decisões econômicas.
O fato é que as pessoas não se entregam mais. E quando vêem alguém se entregando, começam a soar seus alarmes, pra avisar a pobre coitada:
Cuidado, não vá amar demais, não vá sofrer demais, não seja boba, não acredite nele, ele não presta! E quem é que presta nesta vida? Quem é que já não fez uma bobagem, se apaixonou pelo cara errado (ou pela mulher errada)? Foi trocado, sacaneado, corneado? Quem? Atire a primeria pedra quem ainda não passou por isso... Somos todos seres humanos...
Agora, ainda sobre as mulheres solteiras...
Tenho que dizer que a minha tese é um pouco pessimista (ou machista, vocês podem dizer). Eu sempre penso que se o cara tem mais de trinta e cinco anos e está sozinho, ele deve ter problemas... ou é um cara muito cheio de manias e exigências, como o meu amigo... ou muito tímido... ou está separado, e tem uma ex-mulher muito presente, e que de quebra, ainda o quer de volta... ou não gosta do sexo oposto (mais comum do que a gente pensa)... ou ainda, tem tanto medo de se envolver num relacionamento, que prefere ser um solteirão convicto.
Pois é, imagine a cena e comprove a minha teoria.
O casal chega no restaurante bacaninha da moda (o Alessandro e Frederico, da Garcia D'Ávila, Ipanema), e senta numa mesa na varanda, à luz de velas, um de frente pro outro (pra mim, já começou mal, tem que sentar do lado, pra ficar roçando a perna, depois o braço, depois passar a mão no cabelo, no rosto, enfim, tocar). Os dois com mais de trinta e cinco, talvez mais de quarenta, aparentemente bem resolvidos. Ela, bem vestida, de preto e sapatos altos, mas sem maquiagem (como assim, num sábado à noite?). Ele, um trapo de camiseta, com umas mangas indecentes... Começam um papo empolgado, que de repente descamba pra religião, pra Buda, pra espiritismo, pra fé em Deus... parece um tipo de pregação. A conversa não engrena... ela até que insiste, tenta mudar de assunto (
olha só, estamos só nós dois aqui, pega na minha mão), mas o cara só quer saber do sentido da vida.
É lóóógggggiiiiiiccccccooooo que não dá em nada! E podia dar?
Eles vão embora lado a lado, caminhando (nenhum dos dois parece ter carro...), mas a brisa está fresca, vão em direção à praia (quem sabe uma esticada e uma mão no ombro), mas aquele papo foi o maior corta tesão, vamos combinar!...
E, então, a mulherada que está a fim de homens que vão direto ao ponto, e que sabem o que querem, não aguentam o tranco e caem fora... Quem é que aguenta uma abordagem dessas?
Não é que a gente desista fácil, mas o fato é que a fila anda, e anda cada vez mais rápido nestes últimos tempos. Eu sei, eu sei, que é preciso investimento numa relação pra que ela dê certo, mas as pessoas bem que podiam dar uma forcinha, não?
Eu ando descrente dos relacionamentos. Acho que está tudo muito difícil e que pessoas que encontram o amor são as maiores sortudas. Mesmo que esse amor seja torto, ou difícil... o importante, como eu costumo dizer, é ter história.