quarta-feira, junho 27, 2012

Persistência e acaso

  E foi então que o galho retorcido encontrou finalmente a luz do dia...


Enquanto tentava se concentrar no trabalho, sabia que ele estava na outra mesa, olhando ela trabalhar, meio de rabo de olho. Então, mirou no painel que construía e deixou que ele se divertisse com o que via na tela de seu computador. De vez em quando, ele dava uma ou outra risada - nervosa, diga-se de passagem - e ela pensava em como ele era bobo - deliciosamente bobo.

Tinha dito que precisava sair às cinco em ponto, porque senão perderia seu ônibus. Ela já tinha avisado: são 5 para as 5. Vai perder o ônibus. Depois, percebeu que ele tinha que ir... mas não queria ir. Ela estava ali, trabalhando sentada de frente para ele, na sala dele, e ele estava incomodado...

Enquanto escrevia, ela pensava: aviso ou não aviso? Já deu cinco horas! Foi então que outro serzinho interior entrou em cena: Avisa nada, boba, ele já é bem grandinho. Se não foi, é porque não quer ir. Imediatamente, ela se viu numa cena de desenho animado em que anjinho e demônio ficam duelando como se fossem duas vozes de consciência distintas. A voz boa então replicou: mas se ele não for, vai ficar cansado. Amanhã, ele tem que estar inteiro para o evento. E a outra então retrucou: Que nada, boba, olha que delícia esse homem aí se exibindo todo pra você. Você está até gostando...

É, de fato, ela estava gostando. Tinha tanto tempo que havia esperado por esse momento, de estar assim perto. Mesmo que isso nunca desse em nada, finalmente, ela estava ali pertinho dele, usufruindo de sua companhia.

E pensando por que é mesmo que algumas pessoas insistem em fazer parte da nossa vida, não é mesmo?

Música do dia: Só Hoje - Jota Quest

-- Porque ao ouvir esta música, ela sempre se lembra dele.

segunda-feira, junho 25, 2012

O rio diante do mar

"Diz-se que, mesmo antes de um rio cair no oceano, ele treme de medo. Olha para trás, para toda a jornada, o cume das montanhas, o longo caminho sinuoso através dos povoados e vê à sua frente um oceano tão vasto que entrar nele é desaparecer para sempre.

Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar. Voltar é impossível na existência, pode-se apenas ir em frente. O rio precisa arriscar-se e entrar no oceano. E somente quando ele entra no oceano o medo desaparece, porque apenas, então, o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas tornar-se oceano..."




Tudo que Deus reservou pra você, Ele reservou pra você e mais ninguém. Se é teu, um dia você pisca os olhos e está aí, diante de ti. Basta aguardar... perdas e ganhos são inevitáveis ao longo do caminho; o resultado final, pra quem merece, é muito aprendizado.




Música do dia: Time do Say Goodbye - Andrea Bocelli & Sarah Brightman

domingo, junho 24, 2012

Tempos outros



Depois de um período muito tranquilo financeiramente, vivi recentemente o tempo de apertar os cintos. De novo. Coisa normal para todo o ser humano que quer fazer algo maior. Para se sonhar e de fato conseguir realizar os sonhos, às vezes, é preciso fazer escolhas que nos levam a abdicar de certos luxos mundanos, como, por exemplo, só usar removedor de maquiagem da melhor marca francesa.

Quem de fato precisa disso, não é mesmo?

Eu já vinha acompanhando o blog da Jojo, que passou por perrengue semelhante no ano passado e teve que aprender a deixar o cartão de crédito em casa. Criou um blog para contar suas aventuras, chamado "Um ano sem Zara", que mostrou o quanto uma pessoa pode ser criativa com o que tem em seu guarda-roupas. Você não conhece? Está ai na lateral, nos meus blogs queridos.

Bom, mas voltando ao meu caso. Mudei de casa, comprei apartamento, fiz uma pequena reforma e fiquei apertada... muito apertada de grana! Normal, vai passar. Vou pagar minhas dívidas, sem pegar dinheiro emprestado! Este ano talvez não viaje de novo, mas ano que vem, o mundo que me aguarde.

Esta semana, estava olhando para meu estojo de maquiagem e pensando que as cores que eu mais gosto estão acabando. Droga. O pior de ser fiel a uma marca é que, por comprar sempre no site da mesma, a gente acaba recebendo quilos de propaganda, com ofertas de brindes muito legais e promoções... e DESCONTOS!

Eu não sucumbi. Não comprei! Mas, confesso que aquilo estava me deprimindo. "Calma", eu dizia para mim mesma, "ainda falta muito para esta e aquela cor acabarem, você vai conseguir esticá-las o máximo que puder"...


Foi então que mamãe mencionou que estava precisando de um hidratante, e queria que eu indicasse um que fosse bom. E eu disse a ela: "não compra, eu tenho vários estocados". Como assim? Eu vivo de comprar hidratante?

Não, nada disso. É que depois de uma certa idade, a maneira que as muheres têm de dizer que você precisa se cuidar e muito é dando cremes de presente: cremes de aniversário, cremes de Natal, enfim... Ninguém lembra mais de dar um CD, um DVD, um livro... Pra quê cuidar da cabeça e do espírito?, pensam elas... tem que cuidar do corpo, que está perdendo colágeno vertiginosamente e precisa de muita hidratação... se não, um dia você acorda, e parece finalmente um maracujá de gaveta (aliás, quem inventou esta expressão, heim?!) !!!!



Eu separei um hidratante para mamãe, mas já tenho outros para dar a ela, porque não consigo usar todos os que eu ganho dentro do prazo de validade. É fato!

Pois procurando o tal hidratante, encontrei uma maxi-necessaire cheia de produtos de maquiagem, com todo o investimento que eu tinha feito nas minhas viagens ao exterior. Lá estava ela esquecida no fundo do meu armário. Tanta coisa, mas tanta coisa, que me levou a pensar no meu comportamento de esquilo.

Por que ser como o Tico e o Teco que guardam nozes dentro do tronco da árvore e não as consomem??? Por que preciso ter tanto sem consumir? Só para ter? Por que não usar?

Tirei tudo de dentro do armário, dei uma boa avaliada e... acabou a depressão. Está na hora de botar tudo isso na guerra, vamos usar tudo!!!!

E se é para ficar mais alguns meses com o cartão de crédito aposentado, que seja com classe... porque a vida está aí para ser aproveitada, para ser vivida. Se a gente não estoca comida há um bom tempo, por que estocar "coisas", que perdem a validade e acabam no lixo?!

Sustentabilidade no meu armário já!

Madureza...

Quando a vida não mais te amedronta, quando o peito está aberto e parece que nada mais abala a fortaleza em que habitas, talvez tenhas chegado ao tempo da madureza... teu corpo e teu cérebro já podem estar tão calejados e 'amaciados', que só te resta pular...


Pular, se jogar, aceitar os riscos, lidar com eles, aprender e, infinitamente, crescer. Olhar pra vida como um espectador de si mesmo, mas ainda como alguém capaz de descobrir algo novo todos os dias, capaz de se surpreender, e de gostar, capaz de sentir prazer com coisas pequenas e mundanas, e, principalmente, simples.

Quando a vida fica assim, colorida, simplificada, correta, quando a vida perde a complexidade do tempo das dúvidas, das inseguranças, das frustações eternas... aí, tu podes dizer que estás finalmente...

... em paz!



quinta-feira, junho 07, 2012

Saudade, das boas

 

Ela foi a última a entrar no avião, que estava lotado. A comissária só a aguardava para fechar a porta e dar início às instruções de decolagem. Procurou seu acento e sentou-se, esbaforida, tratando de colocar sua bolsa de mão embaixo da cadeira da frente.

Quando relaxou, apertou o cinto de segurança e colocou um chiclete na boca, sentiu um desconforto. Devagar, olhou para o lado. Ele estava ali, sentado ao seu lado. Dez anos depois.

Quando terminaram o namoro, ela sofreu tudo que tinha pra sofrer. Parou de comer, a vida perdeu a graça, não quis sair de casa por dois anos inteiros. Ele era tudo pra ela, a luz que iluminava seus caminhos, a única razão de viver, ela não olhava para o lado quando estava com ele. Pensando bem, mas muito bem mesmo, aquilo era uma doença. Das boas.

Depois de muita análise, ela chegou a triste conclusão de que tinha passado seis anos em função de uma única pessoa - e que não era ela. Péssimo isso. E com o tempo, havia esquecido de se perguntar: é isso que eu gosto de fazer? É isso que eu quero fazer hoje? É pra isso que eu quero mesmo viver?

Sempre abria mão de suas vontades para agradá-lo, porque ele "era o homem da sua vida". Muito pouco pra mulher que ela era hoje, decidida, forte, coerente.

Dez anos haviam se passado e eles nunca mais haviam se falado. Sabia dele pelos outros, que insistiam em contar para ela como ele estava, com quem tinha casado, onde estava morando... isso sem ela perguntar, nunca perguntara, nunca quisera saber. Saber pra quê?

Das vezes que o viu no shopping perto de casa, fingiu que não o conhecia, que ele não havia sido o homem com quem desejara envelhecer, com quem desejara ter uma família, a quem amava mais do que tudo...

E agora ele estava ali, sentado ao seu lado.

Ele também estava incomodado. E não pretendia falar com ela. Até que ela se virou para ele e disse:

- Afinal, como você está?

Ele ficou surpreso com o tom da pergunta e com a pergunta em si, mas respondeu:

- Bem, e você?

Daquele momento em diante, eles deixaram o inevitável de lado e começaram a conversar sobre a vida, seus desdobramentos, filhos que vieram e os que não vieram, separações, encontros, e o desconforto foi passando, ela foi percebendo que aquilo já não a incomodava tanto, afinal eram dez anos...

Trocaram impressões sobre a vida, sobre tudo o que havia mudado em cada um em termos de expectativas, sobre o que haviam sentido quando se separaram. Sim, eles falaram sobre eles, com uma franqueza que nunca haviam usado quando estavam juntos. Viram que a vida deles juntos não era assim o mar de rosas que havia ficado na memória dos dois. E que os desgastes existiam e que era natural que eles não ficassem juntos.

Foram 45 minutos. São Paulo - Rio.

O avião pousou suavemente e ela pôs outro chiclete na boca. Ele olhou para ela em silêncio por longos 2 minutos, enquanto ela abria a bolsa, tirava um batom, penteava o cabelo com os dedos, e retocava a maquiagem. Ele nunca a vira fazer isso.

- Bom te ver, ela disse.

- Idem, fiquei feliz por saber de você - ele respondeu.

E foram cada um para o seu lado, certos de que haviam feito a coisa certa, mas com saudade do toque, do beijo, das mãos... uma saudade perdida no tempo.

Música do dia: Need you now - Lady Atebellum