O que se seguiu foi uma enorme torrente de emoções, abraçando os dois da mesma forma. Sentiram-se como na primeira vez, quando enfim decidiram parar de fugir um do outro e encarar o que sentiam. Talvez naquele momento achassem que era só tesão, mas o que resultou daquele primeiro encontro foi algo que nem eles mesmos poderiam imaginar. Era uma questão de pele. Passaram horas em um motel do centro da cidade sem se dar conta. Eram apenas beijos, pernas enroscadas, gemidos e desejos há muito contidos pipocando sem controle. Viveram intensas fantasias, todas contidas em uma única tarde de encontro. E se sentiram perdidos, totalmente sós quando saíram daquele motel. Perceberam quão intenso tinha sido seu primeiro encontro e se viram desorientados. E passaram a se ver mais, almoçar mais, trepar mais. Não viam aquilo, em princípio, como uma traição. Era paixão, solta, livre, atingindo seu ápice. Nos primeiros meses não se cobravam nem se perguntavam nada, apenas vivam o corpo um do outro, o hálito, os cheiros, os sonhos, todos sonhados em algum motel sem luxo, porque eles não precisavam disso, apenas de tempo para soltar seus desejos.
Depois de um tempo, a necessidade de estar junto mais tempo foi brotando e, como uma raiz de erva daninha, foi corroendo o que havia brotado de bom. Passaram a se desentender, a se cobrar, a se desrespeitar. O tempo foi ficando curto, pois discutiam muito mais que qualquer outra coisa. E sempre que se separavam, se arrependiam. E tornavam a se ver, se impunham momentos de trégua para voltar a ser como naquele primeiro dia. E como nas histórias de fadas, o tempo foi passando e o mato cresceu ao redor da relação deles. Ela via isso claramente, e pensava se um dia ele veria e cortaria tudo com sua espada para tirá-la dali. Pensava em como fazer, mas não via saída. Sabia que não poderia viver nunca mais sem ele, mas também não sabia se poderia viver com ele. Desde que expressara sua angústia ele se tornara agressivo, começara a beber mais, a dizer certas coisas duras. Afinal, ele havia decidido e ela não. Ainda não.
Voltou a si depois de muito tempo, percebendo ele ainda dentro de seu corpo. Sim, fora como na primeira vez, intenso, mágico. Ela não conseguia compreender como aquele homem podia alternar extrema delicadeza com a mais profunda violência e se perguntou se era disso que ela gostava. Porque sim, gostara quando ele começou a bater nela. Sentira um sinistro prazer nisso. O problema foi quando ele começou a marcá-la, machucá-la. Ela não tinha como explicar isso em sua casa e, pior ainda, não conseguia explicar a ela mesma. Pensava: será que somos doentes, os dois? Mas sempre dizem que entre quatro paredes vale tudo... o que é esse tudo permitido, aceitável? Não tinha coragem de confessar isso a suas amigas, para saber o que elas achavam. Também não sabia se elas iam dizer o que realmente achavam. Só sabia que, quanto mais ele a batia, mais ela se sentia presa a ele, e mais queria fugir.
De tanto devanear, acabou adormecendo também. E sonhou.
(continua...)