Sim, sim, já estou encerrando este tema...
Mas, falando em meu pai, lembrei-me dos dois anos de despedidas entre meu pai e minha mãe que presenciei...
Acredito que, para eles, devia ser muito difícil sustentar aquela situação. Para mim, que era pré-adolescente, ver meu pai despedir-se todos os domingos, e minha mãe triste em sequência, era algo que eu não compreendia bem, mas que me ajudou a amadurecer muito.
Depois de alguns anos desempregado e aceitando qualquer tipo de trabalho (vendedor de roupas, de uniformes, de carros etc.), meu pai finalmente havia conseguido um novo emprego na sua área. Mas, em São Paulo. Nós todas (minha mãe, eu e minha irmã) ficamos irredutíveis: não nos mudaríamos com ele para aquela cidade terrível (terrível por conta de uma fantasia nossa, afinal nenhuma de nós três sabia de fato o que era morar em São Paulo)... Ele então alugou um apartamento com uns colegas de trabalho e ficava todas as semanas na ponte rodoviária. Sim, porque o meu pai não ganhava o suficiente para viajar de avião. E o trato era que ele viria todos os finais de semana.
Quem me ouve contar não consegue imaginar o quanto ele chegava cansado e o quão duro era para ele ter que voltar para São Paulo no domingo à noite. Acho que, com o tempo, ele foi desistindo, aquele trabalho foi se tornando para ele um martírio...
Meu pai era um desenhista à moda antiga, daqueles que foram substituídos pelos "cadistas", na onda do AUTO-CAD dos anos 90. A cada despedida, minha mãe ficava rezando para que ele fizesse uma boa viagem, não fosse assaltado no ônibus, não sofresse um acidente, e depois tivesse uma boa semana, maneirasse na bebida (se bebesse) e se alimentasse direito... Eu ia para a cama da minha mãe, e dormia com ela de mãos dadas... às vezes, ela chorava. E eu deixava a minha irmã sozinha no outro quarto. Ficava preocupada, mas sabia que era muita preocupação para uma garota de 12 para 13 anos. Enfim, ninguém - nem minha mãe, nem eu, nem minha irmã, nem meu pai - merece isso!
Hoje, ele já não trabalha com desenho...não sei o que se passa pela cabeça dele. Nem na da minha mãe. Não sei se eles ainda se lembram desse tempo que vivemos. Ou se já passaram uma borracha nesse passado. Hoje, eu teria dado uma força para a família ir com ele. A gente teria ficado mais unido.
Mas sabe se lá o que o destino deseja para a vida da gente?
2 comentários:
E eu não tive essa percepção do sofrimento da minha mãe na época...
Letícia,
O seu comentário me fez chorar...
Rebecca
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