Rio, 12 de dezembro de 2007
Bença mãe!
Aqui é tanta belezura que fico aboletado, arriado dos quatro pneus. Já fui ao Cristo (que os daqui chama de Corcovado), Maracanã, Copacabana, na Feira da Gente em São Cristóvão e na feira de Foguinho. Vixe Maria! Já posso bater a caculeta! Tô tirando a maior gréia, é muita fuleragem. Ê lasqueira! Mas ainda não consegui nenhuma colada com as minas daqui. Até as graxeiras são umas jumentas, mas as daqui não são piriguetes.
To trabaiando num tar de DSG. Esta sopa de letras de letras é pomposa e significa “Desenvolvimento de Sistemas de Gestão”, porém num pense que eu faço computador não. Deus que me livre! É porque como a palavra sistema é arretada de holística, botaram este nome. Pra entrar na minha sala tem um tar de crachá (crachá é um prástico, com a foto da gente e uma faixa preta por detrás). Eles dizem que o tar de crachá é quem abre a porta, mas como eu sou sabido mãe, já descobri que é a Luana e o Tiago os abridores de porta. Precisa ver meu computador! Aqui eles deram outro nome pro retado, eles chamam de workstation. Na sala tem uma renca deles; tem três que são mais engalalados do que cruz em beira de estrada.
Por falar em nome esquisito, tem uma coisa que não tô gostando. É que toda reunião que vou, tem sempre um garganteiro usando uns dizeres estranhos. Até os nomes dos galalaus são diferentes: Alexandre Cara Vai Tu (parece propaganda de político), outro tem nome de povilho antiséptico, a outra tem nome de profissão de fabricante de bolsas e, um novato (no setor, não de idade), tem nome de homem-bomba. O nosso sobrenome é pinto aqui.
Mas, pra piorar, a linguagem deles é abilolada. Outro dia, num meeting (esse é o apelido que eles dão para reunião), meu colega gazo perguntou pra mim se eu tinha acordado o plano de cut over. Olhei estranho e perguntei “O de quem?”. Aí ele me disse “Preciso do plano deste plano para o go live do projeto. Sem ele não tenho referência para o business case, não tenho como especificar o workflow, nem identificar os drivers e outcomes.”. Mirei aquele aquerijebá de gravata, já apoquentado, e pensei “Tô a ponto de fazer uma agrestia, mas como preciso da bufunfa perguntei “O prezado está falando sério ou dizendo dixotes?”. Superiormente, ele arreliou da minha fala e continuou “Colega, se você ainda não desenvolveu os modelos mentais para estar aqui no DSG, talvez seja melhor eu falar com seu sponsor sobre um programa de change management para roll out as necessárias competências. Talvez um mentoring ou um coaching, sendo conduzidos por um deliverable business plan possa ser um adequado kick off para o seu desenvolvimento.”. Naquela altura, tive vontade de procurar frete, mas com medo de perder a chave e ficar com fama de azuretado ponderei, e, na tora, como um chibungo, perguntei educadamente “Prezado, para a gente se entender, para evitar mandu, qual é o prazo para a entrega do tal plano de cut over?”. Mas fique tranqüila, porque depois desta iniciação, tô sabendo até o que é slide wear ( a tradução é: dê-me o power point que eu conquistarei o mundo. Power point é um programa legal de computador que serve para amenizar notícia ruim), outros dizeres da língua-patroa e a começar meu correio sempre com o tratamento de “Prezado...”.
Bem, vou ficando por aqui, cheio de efes e erres, cheio de guéri-guéri e com meu paletó preto e minha gravata colorida apertada, neste Rio Maravilha de 40ºC, em um dezembro ensolarado.
Do seu filho.
Cássio Távora Cavaco
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