Hoje, ao chegar em casa, tudo me pareceu muito normal. Fora o fato da faxineira não ter aparecido, nada estranho. No entanto, às 18:40, um alarme começou a soar desesperadamente na vizinhança. Parecia uma tentativa de roubo de automóvel.
Tudo bem, pensamos, uma hora acaba a bateria, ou o dono aparece.
Às 19:40, o alarme soou novamente. Foram mais 20 minutos de um barulho ensurdecedor. Meu marido foi até a varanda e gritou, já feito um doido, "miseráveis, desliguem isso". Foi quando ele me confidenciou que a barulheira havia começado no meio da tarde.
Às 20:40, o alarme voltou a soar. Às 20:50, eu liguei pro 190, e pedi ajuda. Fui atendida por uma moça muito educada, de nome Larissa, que fêz de tudo para localizar o suposto endereço que eu estava informando. Sim, suposto, porque eu não sabia exatamente onde estava aquela coisa que tanto nos incomodava. Eu até fui pra varanda para ela ter certeza de que eu não estava mentindo e que aquilo não era trote, e disse que o tal alarme era temporizado. Em pouco tempo ele desligaria e seria difícil descobrir de onde vinha. Ela me deu um número de um protocolo e depois disse que ia mandar uma patrulinha do 6o. BPM para atender a ocorrência.
Em torno das 21:40, o alarme disparou de novo e o meu marido resolveu ir até o local para tentar descobrir o endereço correto. Viu diversas pessoas desesperadas, pedindo que aquilo parasse, mas todo mundo meio apático, sem saber como proceder. Voltou para casa danado da vida e me disse solene: "hoje aqui ninguém dorme".
Às 22:30, eu liguei de novo pra PM, quando o alarme tocou mais uma vez. Daí eles disseram que nada poderiam fazer, que a patrulhinha já havia estado no local, mas que não havia denúncia de roubo e que se eles mandassem alguém pra arrombar o veículo, poderiam ser "processados" pelo proprietário, que poderia alegar que eles sim estavam tentando roubar seu carro. Foi quando me deram o número do 6o. BPM e eu liguei para lá, para saber como estava o andamento do meu atendimento.
Eu falo com eles com a maior educação do mundo. Sou uma cidadã que trata todos os servidores com o maior respeito, pois eu sei que "gentileza gera gentileza". Mas, às vezes, percebo que eles pouco podem fazer por nós, porque as leis protegem quem não as cumpre. Ora bolas, se já são mais de dez horas da noite e existe uma Lei do Silêncio, dentro do que se convencionou chamar ordem pública, temos o direito a um sono sossegado para trabalhar no dia seguinte, ou não?
Fiquei me perguntando se eu não poderia entrar com uma ação amanhã contra a Prefeitura, alegando incompetência para proteger os meus direitos, visto que eu pago os meus impostos em dia e tenho tanto direito a dormir quanto o cidadão que colocou um alarme num carro ou numa casa, nem sei mais.
O Cabo Oliveira, que me atendeu, me telefonou de volta pedindo mais informações, porque estava tentando localizar de onde vinha o tal alarme e não conseguia. Então, eu percebi que não existe essa de sigilo e confidencialidade, eles têm um Bina do outro lado, identificam o seu número e, então, é bom não brincar com coisa séria. Eu fiz uma vozinha chorosa e disse que estava enlouquecendo, e ele ficou compadecido de mim, e disse que ia tentar resolver, mas que não garantia nada. E pediu pra que depois eu ligasse de volta dizendo se tudo tinha ficado bem.
Eu só sei que são 23:24 agora e que daqui a pouco a porcaria do alarme deve soar de novo. Se eu acordar com olheiras negras amanhã, aqueles olhos-de-quatí, já sei que a culpa será do Eduardo Paes e do Rodrigo Bethlem. Vou fazer vudu com os bonequinhos deles...
Um comentário:
A Prefeitura não tem nada a ver com isso. A tal Lei do Silêncio (que foi publicada há muito tempo) é muito clara e fala que pode ser usada força policial para resolver o problema.
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