O que mais me amedrontava no que eu ia ver era que se tratava do Rio de Janeiro, cidade onde eu nasci e que eu amo tanto. E olha que eu saí do cinema muito mais triste do que eu imaginei que ia sair.
Não, o filme não é ruim! Ao contrário, ele é ótimo! Muito bem feito, digno de indicação para o Oscar, ao contrário do "Lula, o filho do Brasil". Cá pra nós, né?
Como disse a minha irmã, o Wagner Moura carrega o filme nas costas. Ele está muito bem mesmo. O drama do policial que vive alheio ao convívio com o filho, que é criado por um padrasto que o critica o tempo todo, que critica a sua profissão e que o chama de assassino "pra-baixo", comove a gente... (Mas, a propósito, ele é o que mesmo? Ele foi treinado pra que mesmo? Ah, pra matar, né, gente? ok!)
A gente está precisando de quem nos defenda... só posso concluir isso. Me lembra da época da escola, quando vivíamos com medo dos meninos que desciam o morro e nos roubavam quando saíamos da escola. Quando eles eram pegos, nós urrávamos com uma combinação de alegria-e-raiva que nos fazia quase seres irracionais. Era a nossa vingança contra os "pivetes" (tolos que éramos). O fato é que com dez, onze anos de idade, e em desvantagem (porque nós nem sabíamos o que era aquela violência toda - arrancar lóbulo de orelha pra roubar brinco era algo surreal!), nós só queríamos que alguém nos protegesse, sem entender que o problema da diferença de classes era algo muito mais grave e ainda é... Político nenhum tinha, e ainda não tem coragem de botar a "mão naquela cumbuca"...
Essa cena do helicóptero sobrevoando o morro Santa Marta é mesmo fantástica, como o Padilha disse na tv, mas muita coisa passou pela minha cabeça naquela hora. Todo moleque correndo no morro na hora do tiroteio é bandido? Todo mundo que está na linha de tiro tem que ser morto? Que justiça é essa dos que entram no morro "para resolver"? Onde está a nossa capacidade de se indignar com isso? Por que a gente continua apoiando aqueles que dizem que "bandido bom é bandido morto"?
Na hora da raiva, na hora que somos assaltados, na hora que eles fazem arrastão, bonde, e tudo mais, a gente só quer mesmo vê-los mortos, mas esse nosso comportamento (o famoso "tapar o sol com a peneira") é solução para um problema crônico? Essa história de UPP funciona mesmo? Já ouvi taxista dizendo que a boca continua funcionando nas comunidades que têm UPP... e então, é tudo história pra boi dormir? Pra gringo ver? Dá pra acreditar nisso?
Não está na hora de pensarmos numa solução de verdade pra esse problemão do Rio de Janeiro?
A gente fica com vergonha de quem permite que certas ações sérias, que envolvem a vida (e a morte) das pessoas, decida tudo com base na política. E o pior é ir identificando os governantes que estão por aí nos personagens retratados na tela. E isso porque o filme começa com aquela frase clássica "esse é um filme de ficção, qualquer semelhança é mera coincidência"(ou algo parecido).
Pra finalizar, o que é essa criatura (o ator André Mattos) gritando "Imperador, fecha o close! Close em mim, Imperador! Isso não é possível?" Te lembra alguém?