domingo, abril 22, 2012

Expropriada



Ela tinha um pedaço de terra. Fazia daquele cantinho escondido no latifúndio daquele peito, uma colônia perfeita, onde tudo era muito colorido e a qual se supunha que o rei dava a maior importância. Qual o quê?
Um belo dia, ela foi viajar. E deixou alguém lá, tomando conta da colônia. Alguém assim, meio displicente.
O rei resolveu construir uma estrada nova, para facilitar o ir e vir da rainha às compras pelo reino.
Analisando as trajetórias possíveis da estrada, percebeu que a melhor delas implicaria na expropriação de toda aquela pequena colônia.
E assim determinou: - cortem-se árvores, derrubem as casas, livrem o caminho!
Quando retornou, não havia mais colônia...
E assim permanaceu por muito tempo, vagando sem ter mais pra onde voltar...



Carolina, nos seus olhos fundos guarda tanta dor, a dor de todo esse mundo
Eu já lhe expliquei, que não vai dar, seu pranto não vai nada ajudar
Eu já convidei para dançar, é hora, já sei, de aproveitar


Lá fora, amor, uma rosa nasceu, todo mundo sambou, uma estrela caiu
Eu bem que mostrei sorrindo, pela janela, ah que lindo
Mas Carolina não viu...
 

Carolina, nos seus olhos tristes, guarda tanto amor, o amor que já não existe,
Eu bem que avisei, vai acabar, de tudo lhe dei para aceitar
Mil versos cantei pra lhe agradar, agora não sei como explicar


Lá fora, amor, uma rosa morreu, uma festa acabou, nosso barco partiu
Eu bem que mostrei a ela, o tempo passou na janela e só Carolina não viu.

Carolina - Chico Buarque


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