segunda-feira, novembro 26, 2012

Tudo posso...



...eu sei! E hoje começa mais uma semana. 
Semana de cuidar, de nutrir, de acalentar 
e, principalmente, de me cuidar! 
Eu sei que dá...



Música da semana: "Começar de novo" - Ivan Lins

domingo, novembro 25, 2012

Vazio


Estava lá, vivendo no vazio. Sem gravidade, sem dor, sem som, sem nada. Só a luz das estrelas, do iluminado refletido pelo Sol.

Dormia de vez em quando. Sonhava até. Sonhava com os mortos. Eles vinham para assombrá-lo e dizer tudo que ele tinha se recusado a ouvir na encarnação anterior. Ou seria ele quem estava morto e os demais eram os vivos? Não sabia mais.

Sentia o quanto tinha sido tóxico com os outros. Não poupou verdades àqueles que as mereciam, mesmo que estas verdades os fizessem sofrer. Era bom vê-los sofrer. E agora, lá estava ele, sozinho, no vazio.

De vez em quando, sentia um aperto no peito, um aperto enorme, algo que ele, muito depois, foi definir como angústia. Uma angústia que ele não sabia de onde surgia, por que surgia. Era como se ele se culpasse dos seus erros terrenos. Mas, teria sido mesmo na Terra que ele passou seus últimos anos? Há quanto tempo estava ali no espaço vazio, vagando, perdido, sem rumo?

Já não tinha noção do tempo. Não via para onde voltar. Nunca pudera dar tanto valor ao conceito de porto seguro. Para porto, precisa ter mar. Sentia falta do mar, da água, do gosto da água em seus lábios. Agora, que prescindia das coisas mais simples, conseguia perceber o quanto havia valorizado o que não tinha valor. O que tinha valor era o calor, a água, o contato com a terra, com a areia, com a grama... que ele outrora odiava.

Tinha sido rabugento demais, arrogante demais, intolerante... E estava ali, no vazio.

Lembrava-se do carroussel de outrora, do qual ele tanto gostava. Lembrava-se de sua mãe, e do tempo em que se sentia amado por ela. Não foi sempre assim. Houve um tempo, depois de adulto, em que gostava de torturá-la. E, aos poucos, ela foi deixando de aparecer. Depois, ele esqueceu a data de seu aniversário. E vice-versa. Até que ele passou a saber dela apenas pelas redes sociais.

E agora, depois do salto, lá estava ele, no vazio.

domingo, novembro 04, 2012

Terapia





https://s3.amazonaws.com/blogfarm.apps/gnt-sessao-de-terapia/images/bg-header.jpg


Eu sempre quis fazer terapia de casal com o meu marido. Sinto que temos questões importantes da nossa vida a dois que não conseguimos tratar por nós mesmos. Então, imaginei que fazer terapia de casal pudesse ser uma solução para nós.

Nunca fizemos. Continuamos sem tocar em alguns assuntos. Discutir a relação o aborrece muito e então fazemos o que sabemos fazer melhor, colocamos os assuntos embaixo do tapete.

O que ganhamos?

Algumas coleções de mágoas. Elas ficam por aqui, rondando a cabeça, sempre prontas para vir à tona a qualquer momento. Nas grandes brigas, elas são o estopim que falta para que percamos a cabeça. Às vezes, consertar isso sai mais caro do que se tentássemos conversar.

Faço terapia há muito tempo. Agora numa segunda vez, com uma terapeuta diferente, que tem me ajudado a chegar a algumas boas conclusões. Sempre acho uma hora muito pouco. Queria mais às vezes. Noutras, queria menos. Aliás, não queria nem ir.

Talvez tenha sido por isso que o seriado "Sessão de Terapia", no GNT, me atraíu e que eu esteja tentando acompanhá-lo. Digo tentando porque é muito difícil pelo horário, 22:30, e porque tem dias que eu chego apagando em casa, de tão cansada do trabalho.

Todos os sábados e domingos tem maratona. Os cinco episódios da semana são apresentados em sequência, mais de 2:30h de programa. Meu marido tem acompanhado comigo.

Hoje, assistindo a um dos programas que trata de um personagem difícil, um policial que matou uma criança de dez anos durante uma troca de tiros, meu marido me pediu que eu explicasse a reação do terapeuta. Fiquei impressionada com a minha capacidade de sintetizar-lhe a estória, com meu pragmatismo, e a simplificação que fiz de algo tão complexo. Será que estou levando este pragmatismo também para as questões da minha vida? Tenho medo de tornar-me muito fria...

E duas das sessões apresentadas esta semana foram terapia de casal. Daí minha vontade de escrever sobre isso. Achei que deve ser profundamente desconfortável discutir assuntos pessoais na frente de uma pessoa estranha. Como confiar no terapeuta seus segredos mais profundos? Como se abrir para uma pessoa que - francamente - está ali te julgando, na frente de seu parceiro de vida?

Quando se faz terapia, é a sua verdade que você expõe. Ou pelo menos, o seu lado da estória. Se você finge, mente, transforma a estória para se beneficiar e ficar bem na foto, é a você que você está enganando. Ponto. É o seu dinheiro que está sendo gasto numa coisa inútil.

Não há, em nenhum momento, alguém para lhe apontar o dedo e dizer "não, não foi bem assim, você está inventando coisas!!" Então, é como se, com o outro presente, você tivesse que lidar com duas verdades, mais o juiz! Ou não?

Sinto que quando eu e meu marido assistimos às sessões dos outros, isto gera uma certa tenção no ar. Ficamos tensos. Como se os personagens dissessem um para o outro o que nos falta também dizer. Quase como se quiséssemos estar ali, naquela situação, mas certamente com muito menos desenvoltura para passar por ela. Então hoje, depois de dois lances difíceis, quando a maratona do programa finalmente acabou, nos abraçamos e nos beijamos. Quase cúmplices.

Como se soubéssemos que ainda que não falemos, nossos problemas são um pouco menos difíceis do que aqueles apresentados na tela. São, principalmente, fruto das distintas tintas com que pintamos a nossa vida.

Do drama à comédia de costumes, encontrar nosso ponto de equilíbrio é o desafio.

A propósito, o site do programa faz um quiz para sabermos com qual personagem mais nos assemelhamos. Esta é a minha resposta...


"Talvez por ser tão idealista e sensível, você goste tanto de ajudar o próximo e não de competir com ele. Só que, às vezes, dedicação demais aos outros pode representar uma fuga da nossa própria vida. Estar consigo pode ser mais difícil do que parece. Só se consegue ser inteiro com o outro quando estamos inteiros conosco. Este é o seu desafio."