Você veio com força, com a força de sempre. Se na memória estava a
primeira tentativa, na qual a porta encontrou um pé, um braço, um corpo
dizendo "não", desta vez você veio preparado para abrir. Forçou tudo que
havia pela frente e entrou.
Deixaram você entrar.
Veio com fome, querendo tudo que você achava que lhe era de direito: queria o corpo, queria a alma, queria o coração, principalmente. Estava disposto a jantar aquele coração pulsando arrebatado por você numa baixela de prata sobre a mesa, como um viking voraz.
Queria as noites estreladas, queria o sol inundando a vida de luz, queria tempestade para florescer os campos, queria guerra, queria paz... Já não se importava em nominar o que sentia, como ela...
E com voracidade e beleza, foi cuidando do que achava que era seu. Aos poucos, pareceu indispensável. Quem deixou você entrar passou a temer que você quisesse sair. E se quisesse?
A vida é mesmo uma caixa de surpresas, nunca se sabe que ideia se pode ter para o próximo intervalo: levantar, fazer uma pipoca, tomar uma água? Que dirá manter-se junto uma vida inteira.
Enquanto você quis, dominou a cena, foi protagonista. Naquele quarto úmido, no qual odores de suor misturavam-se aos perfumes do amor que você plantou, viveu feliz o tempo que quis, o quanto quis. Quando ela percebeu que não adiantava tentar controlar o tempo e que a decisão não era dela. Então, esperou pelo desfecho final, o encaminhamento da fita, com trilha sonora e tudo... sabia que não podia com você.
Deixaram você sair.
E com a mesma voracidade que chegou, você saiu. Foi breve. Intenso, mas breve. E deixou um cheiro perverso e inebriante de almíscar no ar.
Música do dia: "Lovesong" - Adele