sexta-feira, novembro 15, 2013

Saudade do que não viveu


Abriu sua caixa de lembranças e foi tirando as fotos dele que ela guardava com tanto carinho. Estavam um tanto quanto amareladas, mas aquelas imagens ainda tinham um certo frescor, e pareciam revelar o amor profundo que ele sentiu por ela um dia. Um amor não declarado em palavras, mas confessado em atos desencontrados, inócuos, inúteis. 

Ela o amou por tanto tempo, que só conseguia enxergar sua vida ao seu lado... Quando resolveu romper o ciclo e seguir adiante, ela se viu perdida no caminho, como se não soubesse caminhar sem ele, andar ereta, sobre os dois pés... por muito tempo se sentiu cambaleante, sem seu prumo de sempre, sem o porto seguro dela para ancorá-la. Foi difícil.

A data da resolução se tornou emblemática em sua vida. E ela começou a contar o tempo a partir deste dia. Dez dias sem saber dele, depois, 20. Um dia, já eram 50 dias. E o que ela viu foi a lembrança dele apagando de sua memória, o rosto sumindo, a mente esquecendo o som de sua voz, os dedos da mão, os pelos do peito, o cabelo, o perfume que ele usa, o estilo das roupas, o jeito de andar e de dizer a ela o que fazer...


Passou o tempo e, de repente, lá estava ela sentada no chão do quarto, com a pequena caixinha de lembranças que lhes eram caras aberta ao seu lado, olhando as fotos, se perguntando se aquilo tudo tinha mesmo acontecido, se aquelas fotos eram de verdade, se aquilo tudo era desta vida, a vida dela, ou de outra pessoa, se ele tinha sido de verdade, se o amor que ela sentiu foi verdadeiro, se não foi tudo invenção da sua cabeça, e como é que ela ia viver o resto dos seus dias sem ter contato a ele!!!!????? Não se cabia em si de tanta saudade.


Sabia que só o que tinha que fazer era esperar. Que do mesmo jeito que ele um dia lhe abriu os braços em plena rua para lhe oferecer abrigo, ele ia voltar a fazê-lo um dia. Se fosse mesmo para ser.


Mas, por via das dúvidas, guardou as fotos na caixa, e a escondeu no lugar de sempre. Somente para garantir provas de sua sanidade, para se saber sã, e não uma louca onírica.


Um comentário:

Anônimo disse...

Rebecca Leão,
Sua escrita vem do coração
Lhe digo então:
Continue no labor de escritora
Revelando os olhares do amor
Esse é seu legado importante
que num instante toca a alma do leitor
Siga destemida e confiante
Ciente de que a palavra bem dita se eterniza
Palavras que brotam do coração de Rebecca Leão...

Abraços da leitora
Denise França