Falar com ela ao final da tarde era rotina |
Depois daquela tarde, de pernas e cheiros entrelaçados, de amores roubados, de ausência de promessas e declarações de amor, só corpo, só sexo, só o lado animal ali presente, Marco e Bia ficaram mais próximos um do outro. E também mais distantes.
Falavam-se todos os dias, compartilhavam acontecimentos rotineiros, trocavam confidências e segredos, abriam um para o outro seus ideais como se fossem parceiros de um crime que seria cometido em breve. Ou de um plano muito bem arquitetado.
No entanto, como se aquilo que viveram tivesse sido muito mais forte do que podiam suportar, não tocaram mais no assunto. Ainda avaliavam, cada um a sua maneira, se o custo de mudança seria mesmo bem maior do que o custo de oportunidade. Queriam repetir a dose, mas tinham medo das consequências.
O fato é que a dúvida que cultivavam os mantinha próximos, mas não o suficiente para torná-los amantes. Cúmplices, sim, mas não amantes.
De vez em quando, Bia se via perdida em seus pensamentos repassando aquela tarde saborosa, em que se sentiu amada como nunca, desejada como nunca, viva, finalmente! Estava nos braços do homem que queria, do seu homem! Não sabia como voltar àquele ponto. Tinha perdido o timming? Não acreditava! Mas, não sabia qual era o caminho para o coração de Marco.
Todas as tardes, enquanto dirigia para casa, Marco cumpria o ritual de ligar para Bia e saber como tinha sido o seu dia. Ouvir a voz daquela mulher, doce, o chamando de "meu amor", o fazia retornar àquela tarde, em que havia sido o melhor homem que uma mulher pode ter na cama. Ele sabia disso, ela sabia disso. Tinha medo de causar expectativas na Bia, sabia que ela tinha muito o que mudar na sua vida e não queria ele ser responsável por tanta mudança. E o pior de tudo, ele estava satisfeito com a vida que levava, não queria mudar nada, quando muito, ter com a Bia várias tardes como aquela. E seguia o caminho perguntando a si mesmo se estava sendo egoísta ou mesquinho... ou ainda, omisso.
Até que um dia, Bia não atendeu o telefone... e não retornou. E também não atendeu no dia seguinte...
Continua na parte 6.
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