Cheguei ao escritório e bati na porta. Três vezes. Aguardei que alguém viesse atendê-la. Era tarde da noite e eu esperava que ainda houvesse alguém lá, que tivessem algum projeto urgente para entregar. Meu coração esperava.
Após certa demora, um rapaz baixo e franzino atendeu a porta. Olhou-me com espanto...com a minha nítida condição de ansiedade. Trocamos algumas palavras e ele convidou-me a entrar. Cumprimentei a todos, como de costume. Algumas caras me eram conhecidas; outras ainda não. Fui apresentada a alguns, outros me receberam com indiferença.
O novo escritório tinha ficado realmente muito bom, a disposição dos móveis estava ótima, tudo era amplo e arejado. A ante-sala estava bem decorada. No dia anterior, eu havia mandado entregar um vaso de bouganvilles e, ao entrar, os havia reconhecido na mesa de canto, ao lado do sofá, enfeitando a sala.
Não haviam mulheres no local. Meus olhos rapidamente percorreram a sala buscando encontrá-lo. Lá estava ele, no meio de muitos papéis, falando ao mesmo tempo ao celular e ao telefone fixo. Sorri ligeiramente e acenei com a mão. Senti rapidamente meus lábios ressecarem. Passei minha língua por eles para umedecê-los, numa atitude discreta. Ele, porém, estava me observando atentamente e viu tudo...era hábito.
Podia jurar que ele havia descoberto uma forma de ler meus pensamentos. Sabia, inclusive, quando os meus batimentos cardíacos aceleravam. Tínhamos uma intimidade inexplicável.
Rapidamente, ele se desvencilhou dos telefonemas e papéis e caminhou em minha direção. Foram poucos passos, foi muito tempo.
Todo o tempo do mundo entre nós era muito, era uma eternidade. Ele entendeu, sem eu dizer, que eu pedia socorro. "Socorro, salve-me da minha vida", eu pensava, sem ter coragem de pronunciar palavra alguma. "Leve-me contigo, para onde quiseres".
Ele me pegou pela mão e me conduziu até uma pequena cafeteria, perto dali. "O que você tem?", ele perguntou. "Onde você está agora, em que mundo?" "Eu estou aqui", respondi, "com você". "Queria mudar tudo e ficar aqui para sempre", pensei.
Tomamos um café e, o tempo todo, ele me olhou fixamente. Quando saímos, perguntei-lhe se ainda tinha muito o que resolver. Ele disse que não e fêz um sinal de que "era todo meu".
Sem trocarmos palavra, seguimos em direção a casa dele. Caminhamos lado a lado, em silêncio, durante uns quinze minutos. Outra eternidade. Senti meu coração disparar outras tantas vezes. Senti que, pouco a pouco, o coração dele ia batendo no ritmo do meu. Nós queríamos privacidade, queríamos estar longe de tudo e de todos, num lugar só nosso. Tínhamos muito a nos dizer, apesar de não sabermos porque aquilo estava acontecendo agora e se era prudente acontecer.
"O que dizer do futuro?", pensei.
Ele abriu a porta, suavemente. O longo corredor até a sala revelava alguma luminosidade ao seu final. Ela um pequeno abajour que permanecia aceso para guiá-lo ao chegar em casa, tarde da noite.
Ao fechar a porta, ele virou-se para mim, passou a mão nos meus cabelos, depois no meu rosto e repetiu: "Que saudade! Que saudade! Quanto tempo!"
Tempo? Cinco longos anos. Uma vida inteira.
Trocamos um beijo, intenso, acelerado, febril. Ficamos um longo tempo abraçados, como um só. Eu agora já estava bem.
Senti aquele momento profundamente. Tinha medo das consequências, da vida que continuava, mas desejava como nunca estar com aquele homem.
Nós permanecemos juntos aquela noite. Fizemos amor, no real sentido da palavra. Eu fui só dele; ele, só meu. Diversas vezes.
Pegamos no sono já era dia claro. Não queríamos que a noite acabasse. Mas, acabou.
De manhã, ele se vestiu como se veste alguém que tem uma batalha para enfrentar. Olhou-me novamente com ternura...não, com amor. Como de hábito. Esperou que eu me vestisse e nós descemos.
Na esquina, havia um chaveiro. Ele puxou o molho de chaves e mandou copiar uma delas. Aguardamos pacientemente embaixo de um sol escaldante. Por fim, ele tomou a chave e entregou-me. "Esta é sua", disse. "Sem cobranças, sem 'por ques', sem 'e agoras'!", completou.
"Volte quando quiser", falou por fim.
Eu consenti, sabendo que, depois daquela noite, a minha vida teria que ser diferente. E parti.
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Este texto foi escrito no dia 14 de outubro de 2000.
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