quarta-feira, setembro 01, 2010

Coisa normal

Liguei pro maridão assim que cheguei no Largo do Machado, para saber se ele estava melhor do resfriado. Não estava. Ele foi logo perguntando "onde é que 'cê 'tá?". E eu fui contando que ia na minha sessão de análise, mas dispensaria o passe no Centro Espírita (dois cuidados com a alma, que me dou ao direito).

Cheguei no consultório atrasada e a minha terapeuta foi logo me mandando entrar, que ela estava me esperando. Falei à beça, chorei, me descabelei, achei que estava ficando louca e saí de lá com a recomendação de procurar por outro médico, porque o buraco estava ficando bem mais em baixo, no meu caso. Deve ser este estado de mulher na menopausa forçada, que me tira do sério, além de proporcionar uns calores horrendos e uma variação de humor sem tamanho.

Quando saí do consultório, achei que o melhor era pegar um táxi para chegar logo em casa (não, não achei. Peguei um táxi porque não estou conseguindo andar de metrô, entrar naquele buraco, e aturar aquele trem cheio de gente que fica me encarando o tempo inteiro e que me dá angústia). Lembrei do marido de uma amiga que é cheio de critérios para pegar táxi, mas fiz sinal apenas pro primeiro táxi novinho que vi (esse foi o único critério que usei, aliás).

O táxi não era de nenhuma cooperativa, e os vidros eram forrados daquele insulfilm bem escuro, o mais escuro que há. Aquilo me deu um certo mal estar. Depois que olhei pro tamanho do motorista (enooooooooorrrrrmmmmmeee e apavorante!), decidi que era melhor manter os vidros da frente abertos. Quando ele me perguntou se eu queria que ligasse o ar, respondi "não, obrigada", com a voz mais doce que eu pude fazer (para disfarçar o meu pânico) e emendei com um "a não ser que você faça muita questão do ar". Ele não fêz e seguimos com os vidros abertos.

Quando saímos do Túnel Santa Bárbara, em direção à Tijuca, ele me perguntou: "Presidente Vargas ou Estácio?"... e eu olhei pro relógio. Pensei comigo mesma, em fração de segundos: "ah, ainda são 19:05, está cedo, vou pelo Estácio". Sugeri então o caminho pelo tobogã, no que ele assentiu e virou o volante, para pegar a direção do Batalhão. Quando começávamos a subir o tal tobogã (é um morrinho que todo mundo conhece por esta alcunha), vi um artefato aceso, com uma luz azul, sendo arremessado na nossa direção. Era uma bomba. Mas, não uma bombinha de São João, nem uma brincadeira qualquer de criança. Era efetivamente uma bomba, que jogaram (!!!!!) na direção do carro. Com que intenção, não sei!

Considerando a aceleração constante do motorista, e a velocidade em que estávamos, calculo que ela tenha estourado uns 30 seg depois que passamos. Só deu tempo de me encolher toda e contrair a barriga, mas ainda fiquei com um pouco de dor nas costas.

O motorista então comentou, com a maior calma, como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo: "já imaginou se cai embaixo do carro?" Não, não imaginei. Nem quero imaginar.

Depois do lanche, estava vendo uma reprise de um programa da série "Brava Gente", na tv à cabo, quando o personagem disse: "houve um tempo em que as pessoas do Rio de Janeiro eram tão boas e ingênuas que você precisava importar assassinos de outros cantos do Brasil. Hoje, há um assassino em cada esquina. Tantos, que a gente até exporta..."

Nossa, como eu tive que concordar com a pensata, sem entrar no mérito da questão. O tom era de comédia, mas confesso que não achei graça nenhuma com o que quase aconteceu comigo. Ai, meu Rio de Janeiro...

Em tempo, o motorista do táxi enorme e apavorante era um doce de criatura, e o meu preconceito com a primeira impressão foi pura perda de tempo e energia. Eu cheguei em casa sã e salva!

Hoje, confesso, ao sair de casa, olhei pro Cristo Redentor e pedi proteção. Só assim pra se sentir seguro nesta cidade.

2 comentários:

Bia Prado disse...

Querida, alguns comentários...
- Vc NÃO está na menopausa!
- Este tal outro médico faz um bem danado!!! A mim tem feito, viu? Só assim tem sido possível sobreviver.
- Não pegue santanão, por favor! Estão todos mto ferrados.
- O Rio é maravilhoso, mas que a gente vive morrendo de medo, a gente vive, né?
- E, por último, vamos nos encontrar logo!!! Quam sabe conseguimos rir um pouco das nossas dores? Xuntinhas!!!
Beijos!

Paulo Guerra disse...

Pois é, vivo vendo amigos contando experiências como essa e ainda sim defendendo a cidade "maravilhosa". Depois que eu saí do Rio pude perceber como a vida por aí é desgastante, medo o tempo inteiro.