Quando eu estava na faculdade de Engenharia, vivi uma sina. Volta e meia estava envolvida em um assalto. Daqueles que davam estórias pro "Retrato Falado", que a Denise Fraga apresentava no Fantástico.
Tinha sempre comigo um amigo, pequenino, que vou me furtar de dizer o nome (vai que ele se reconhece aqui) e que sempre me dizia: "De novo, não!?"
Fomos assaltados várias vezes. Várias.
Numa delas, quatro caras e duas mulheres entraram num 326 (Castelo - Bancários) atolado de gente e começaram a apalpar todo mundo. As mulheres possuíam bolsas de palha enormes, e tudo que os caras tiravam das pessoas colocavam naquelas bolsas.
Quando percebi o movimento, comecei a gritar: Cambada de otários!!! Nós somos muitos, nós podemos com eles, olhem só o que eles estão fazendo.
Eles limparam todo mundo, menos a doida aqui, que eu não deixei ninguém meter a mão na minha bolsa. Até porque eu era estudante, e o que eu tinha era muito pouco e se levassem, ia me fazer uma falta danada... Nem HP eu tinha, que o professor tinha mandado comprar, mas eu não tinha dinheiro. Trabalhei, trabalhei, trabalhei, e nunca comprei a tal HP 12C. Nunca foi minha prioridade.
Ah, o meu amigo se virou pra mim e disse: "De novo, não!?"
Ele tinha mais medo de mim do que dos assaltantes.
Um outro dia, quando embarcávamos num 605 (Rodoviária - Méier) na Leopoldina, com destino ao Maracanã, um casal me imprensou na roleta, que naquela época ficava nos fundos do ônibus. Eu tinha uma mochila jeans da Cantão, com bolso de camurça preta, que era o meu orgulho, e o cara meteu a mão no meu bolso. Eu gritei: "Tira a mão daí. Não tem nada aí pra você. O motorista, pára essa porcaria de ônibus que eu vou descer (detalhe, o ônibus estava parado)"...
Meu amigo, ainda na calçada, dizia: "Ah, não, de novo? Eu não vou mais andar com você. Você só arruma encrenca!"
Acho que por ele, eu seria sempre assaltada. Entregaria tudo, sem reclamar. Fala baixinho pra não incomodar o assaltante!
Mas, isso não começou aos dezoito, não. Com treze, andava com a minha irmã de volta pra casa pela Rua Doutor Satamini, quando dois moleques pediram o relógio dela na mão grande. Eu os fiz devolver o relógio, aos gritos.
O fim da picada foi quando, voltando da praia, fomos assaltadas no 433 (Barra - Rodoviária), eu, minha irmã e Clarice. Os garotos entraram no ônibus vazio e chegaram pedindo os anéis e o dinheiro. Eu, com a minha barraca de praia, resolvi enfrentá-los. Um deles me dizia que estava armado, e eu segurando a barraca, dizia que também estava. Queria partir pra luta armada, olha só.
Havia uma senhorinha no ônibus, que se fêz de surda, e ficou imóvel, como se nada estivesse acontecendo. Dela, nada levaram. Vovó esperta! 70 anos de praia! De mim, levaram um anel de prata lindo, que na verdade era da minha mãe, e que eu tinha "pego emprestado" para tirar onda na praia. E eu ainda tive que ouvir que "como patricinhas, nós estávamos muito sem dinheiro pro gosto deles".
Por incrível que pareça, eu sinto falta do tempo em que se roubava na mão grande e que dava pra gente gritar "pega ladrão!". Hoje, eu tenho medo. Está todo mundo armado. Nós, que entregamos as armas, estamos por nossa conta e risco. Até que uma bala perdida nos encontre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário