De tempos em tempos, eu sento à mesa com um saquinho de um quilo de feijão e cato montinho por montinho. Não tenho quem faça pra mim, e mesmo que tivesse, não terceirizaria. Essa é uma atividade que me faz muito bem, e eu faço devagarzinho, calmamente. Lembro-me de minha bisavó, sentada à mesa da cozinha na Rua das Palmeiras, catando feijão, com uma perna cruzada em baixo do corpo para que ficasse um pouco mais alta, a pequenina. Ela fazia aquilo como que se para estender o tempo, já que àquela altura da vida, com pouco mais de 90 anos, tinha o tempo que quisesse ter. Catar feijão hoje é como estar conversando com a vó Santinha, que faleceu quando eu ainda era garota, mas que me deu muito do seu tempo livre em papos e estórias da sua infância, tão diferente da minha.
E assim venho fazendo ao longo da vida, repetindo gestos de meus queridos só para estar um pouco mais perto deles. Quando dou uma gargalhada, lembro da minha avó Maria, que gostava de rir de tudo, era uma pessoa simples, e como eu, mostrava logo na sua expressão quando não estava gostando de alguma coisa. Ah, como a gente gostava de jogar buraco. Eu ficava horas olhando o jogo, e eu para pegar a de fora, porque as avós Maria, Irma, Yolanda, Eudete e Lourdes não paravam o carteado para me dar uma deixa. Eram as noites em Saquarema. Ainda hoje, ao jogar buraco, é impossível não lembrar de todas elas.
E também faço barquinhos de pão francês e molho no café com leite, como fazia meu avô Alcir, e me lembro dele todas as vezes. E quando faço o meu arroz soltinho, lembro da primeira vez já casada em que quis fazer um arroz, e liguei pra minha avó Irma pra pedir a receita... e ela me perguntou: mas você não sabe fazer um arroz??? Eu quase desesperada porque não sabia fazer nada, e ela ralhando comigo... Eu consegui, custou um pouco, mas hoje meu arroz é uma delícia...
Eu lembro deles em cada gesto, em cada ato, e me confortam essas memórias. Eu gosto de tê-las... ah, como gosto! Sem nostalgia...
2 comentários:
legal!
eu também gosto.
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