segunda-feira, outubro 24, 2011

Melancolia de primavera

Queria ter de volta meus vinte anos...

Para andar de patins despreocupada, até cansar, curtir minha bicicleta sem me preocupar tanto com os meus joelhos e soltar do guidon as mãos para curtir o vento numa tarde fresca de primavera às margens da lagoa,

Para saltar de asa delta, paraquedas, parapente, gritando a plenos pulmões, e desfrutando a paisagem em segundos de emoção...

Queria os beijos apaixonados na juventude, num corpo jovem, com viço, capaz de tudo.

Queria um retrato sem rugas, sem a flacidez do pescoço, sem as marcas do tempo.

Queria que as marcas que trago na alma e no corpo fossem simplesmente resultado de um aprendizado e que esse aprendizado me permitisse errar menos, ou ao menos, errar diferente.

Queria hoje uma boca de batom bem vermelho, mas com a insegurança que eu tinha aos 25 anos.

Queria um espelho que me rejuvenescesse e me permitisse viver tudo de novo, com menos pressa, sabendo que há um dia após o outro, sempre,

E que todo mundo é mortal, que a gente é eterno enquanto dura, e que os sentimentos precisam ser intensos, precisam de calor, para valerem à pena. E que você precisa dizê-los, para que eles façam sentido, para dar-lhes significado.

Queria de vonta os meus vinte anos e também os amigos que se foram... Os que se perderam pelo caminho e os que entenderam errado algo que eu tenha ou que eu não tenha feito. Queria de volta a memória perdida para lembrar do nome dos meus professores e também de todos os amigos da foto da escola.

Queria um trago do cigarro de palha, do ilícito, aquele que eu não dei quando fazia sentido. Queria apertar o oferecido sem medo de perder o domínio e o controle sobre mim mesma. Quanto tempo perdido!

Queria a cantada do estranho, e o corpo seco e bonito que exibia sem força, nem malhação. Queria a liberdade do biquini feito em casa e os desejos de menina que emergiam naquele corpo queimado pelo sol. Queria de volta a paciência de ir à praia de ônibus, sacudindo por horas no engarrafamento, sabendo que a volta seria infame, e correndo todos os riscos, do acidente ao assalto, sem que nada disso fosse problema.

Queria menos indiferência e intolerância, queria o olhar de preocupação do outro que houve um dia, queria a solidariedade perdida, a solidariedade que não temos mais com o outro há muito tempo.

Queria cuidado e consideração, queria que as pessoas olhassem menos para seus umbigos e para a sua urgência em ser feliz, e pensassem que toda escolha tem um ganho... e uma perda. E que nem sempre dá para ter tudo ao mesmo tempo. Queria mais verdade, e menos mentiras. Queria que quem diz que confia, simplesmente confiasse, sem se perder em considerações sobre o que pode e o que não pode ser dito.

Queria de volta o tempo que eu não tenho mais e o meu descompromisso com a vida, além daquela certeza que eu tinha que tudo ia dar certo.

Queria a fé nas pessoas, e que elas merecessem que eu botasse fé nelas. Queria uma paz, que não está em lugar nenhum. Queria me livrar desse engasgo que me faz chorar às vezes...

Queria essas palavras, que eu trago presas na garganta, bem soltas, livres, encontrando a expressão de surpresa ou agradecimento ou mesmo ira de quem as recebe, sem que eu me prendesse na expectativa da dor que me causaria uma reação inesperada.

Queria...


Música do dia...

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