Eu tenho andado muito distante deste blog, eu sei, e os leitores que me acompanham já devem ter percebido isso. A vida anda muito corrida e eu andei um pouco melancólica, e como isso começou a se refletir aqui nos textos que eu estava escrevendo, resolvi que era hora de parar.
Parei, e parei mesmo. Parei de pensar na vida. Outro dia, comentei com a minha terapeuta que se não fosse a hora que tenho com ela toda a semana, teria me abandonado novamente, porque não está dando tempo. As leituras que me acalentavam e me faziam pensar em questões interessantes relacionadas à minha vida, como os três gaúchos que estava lendo (Martha Medeiros, Fabrício Carpinejar e Mario Quintana), ficaram para depois. De vez em quando, eu ainda abro um destes livros e leio um trechinho, mas é tão pouco que quando eu recomeço, acabo sempre tendo que retomar de um pouco antes de onde parei.
Descobri que não sei lidar com perdas. E elas têm sido muitas. Aliás, 2011 foi um ano bem difícil, eu não saberia dizer o que me doeu mais. Recentemente, mais uma me acometeu pelo caminho e fui percebendo que o meu coração está tão dilacerado, que ninguém diz que é colado... mas, em pedaços, muitos pedaços. Fui me fechando de um jeito que eu nem sei mais, convivo com uma dor no externo, no esôfago, e ela vai me impedindo de falar. Falar pra quê?
Prefiro conviver com os meus mortos, as minhas perdas, como se convive com mortes físicas, com a saudade que se sente quando se está longe e se sabe que não se verá mais alguém que foi muito, mas muito importante na nossa vida. A gente se lembra de um sorriso, de uma gargalhada, mas com o tempo, começa a esquecer do rosto, da fisionomia e só se lembra do que vê nas fotos, quando há fotos. Quanto não há, a pessoa se perde na fumaça do tempo, que a tudo apaga.
De real nesta história, foi que o sofrimento me empurrou pra frente. A minha vida mudou completamente, em todos os aspectos... profissionais, pessoais, emocionais... eu me olho no espelho e me vejo como outra pessoa, mais adulta, mais racional, menos infantil e otimista, mas mais realista. Eu realizei muito, fui além das minhas forças, fiz mais do que eu podia, ou tinha condições de fazer, e fiquei feliz pelas minhas conquistas. Se eu posso agradecer por algo a todos que me feriram com mais ou menos intensidade, com intenção ou não de fazer, agradeço por este crescimento. Quando penso em todos a quem me doei, e vejo o abandono que enfrentei ao longo do ano, começo a concluir que, de fato, não devemos fazer nada esperando algo em troca: isso de fato nunca vem. O que vem é sempre o inesperado. Vem de onde menos se espera. A gente tem que fazer de graça mesmo. E fazer menos, quando a iniciativa em ajudar nos exige demais. Não vale o esforço. Os outros têm que entender os nossos limites. Tudo que é demais, é muito, como diria a minha irmã.
O ano nem acabou e quando eu olho pra trás acho tudo muito pequeno, muito insignificante. O que ganhei em experiência, em razão, em qualidade dos meus relacionamentos, não tem preço.
“É tempo de me fazer, eu sei. E sei que é bom ser ainda indefinido. Pelo menos as deformações não calaram fundo, não se afirmaram em feições. É bom, sim, mas ao mesmo tempo é terrível. Porque me vem o medo de estar agindo errado, de estar gerando feições horríveis, que mais tarde não sairão com facilidade. Não, não é fácil ser a gente da cabeça aos pés, da unha do dedo mindinho até o último fio de cabelo”.
– Caio Fernando Abreu, Limite Branco, 2007.
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