Dos amores contemporâneos
Hoje
em dia, tão comum quanto esbarrar num amor atravessando o sinal, é encontrar
alguém nas redes sociais ou nos aplicativos de encontros amorosos. O difícil é
saber se comportar num relacionamento deste tipo depois.
A
primeira coisa que se repara é se a criatura trocou o status na sua rede
social, se disse que está num relacionamento sério, ou se continua livre, leve
e solta como antes. Dói quando ela mantém tudo como antes, mas é preciso ter
consciência de que cada um tem o seu tempo. Além disso, não se pode esperar que
seu novo par não tenha tido vida antes da sua chegada. Existiam as paqueras
reais e as virtuais, as amizades reais e as virtuais, os lugares onde nós
estivemos e onde os outros estiveram, e os momentos felizes que ambos passamos.
Querer que seja tudo diferente, que as coisas mudem com a chegada da nova
pessoa, é muita utopia. Nem sempre quando uma porta está aberta, é atrativa
para que alguém entre, mas se alguém entra, naturalmente, é por que algo a atraiu.
E o que a atrai é o rico mundo interior do outro.
Devia
haver uma etiqueta para relacionamentos nas redes virtuais. Devia ser proibido
criar um perfil para o casal ou mesmo usar a foto de perfil como a foto do
casal. Confunde as coisas e, ao mesmo tempo, dá a falsa impressão de que aquele
que ali está só existe na presença do outro, que não tem individualidade. E se
mudar tudo amanhã? E se não estivermos mais juntos? Deixaremos de existir? Como
casal, sim, mas como indivíduos que se expressam, criam, se relacionam, claro
que não.
E
quando tudo vira ciúme? E quando a criatura resolve tornar-se amigo(a) de todos
os seres que podem inspirar algum tipo de interesse para o seu par? E quando
insiste em ser a primeira pessoa a curtir todas as fotos, todas as postagens, e
endossar todas as opiniões, como se a sua não tivesse relevância? E quando
curte os comentários das pessoas para marcar presença, fazendo um "xixi
virtual" no campo do inimigo, ou contraparte? Chega a ser patético...
Precisa
explicar para essas pessoas que o amor-próprio é algo que deve ser valorizado
em ambos os mundos: o real e o virtual. Que a gente precisa deixar o outro
viver, que quando a gente deixa o outro livre, temos plena certeza de que ele
volta porque quer e não porque não tem opção...
Só
muita terapia para entender...
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