Desde o iníciozinho de Novembro, começamos a ver os lojistas aprontando as vitrines para o Natal. Aos poucos, tudo foi sendo coberto por uma estranha mistura de branco, vermelho, verde-bandeira e dourado. Continuamos a fazer menção a uma cidade coberta de neve e a um monte de renas, que ajudam o tal Noel a entregar todos os presentes, mesmo estando em um país dos trópicos.
Eu ando tão sem paciência para comprar presentes, que nem sei. Todo ano, participo de um amigo oculto em família, e na hora do sorteio, fico rezando para retirar o nome de alguém bem próximo (tipo o meu pai, ou a minha mãe) para facilitar, porque ando meio cansada de dar presente errado! A gente vê na cara da pessoa que ela não gostou. E não adianta comprar numa loja da moda, que nem sempre isso é sinal de que você vai acertar.
Me lembro da vez que, num outro amigo oculto, o meu marido 'sorteou' uma conhecida e nós compramos uma garrafa de vinho branco caríssima pra ela.... e ela deixou a garrafa cair no chão assim que abriu o pacote!!! Eu quase tive um enfarto ali mesmo. Graças à Deus, a garrafa não se quebrou, mas tanto eu quanto o meu marido ficamos estupefatos com a cena. Depois de meses, nossa amiga nos encontrou num almoço e nos disse que, finalmente, depois de um bom tempo, havia aberto a garrafa. Até que o vinho era bom, ela disse. Pois é.
Eu fico me perguntando onde foi parar o espírito do Natal ou, ao menos, a delicadeza de outras épocas (ou será que as pessoas eram delicadas comigo só porque eu era criança?). Estão todos muito estressados e irritados com o mundo. Só nesta semana assisti a duas cenas de extrema violência, que poderiam ter acabado em desgraça. As duas aconteceram no trânsito.
A primeira briga foi em frente ao Sambódromo, templo do samba carioca, onde um rapaz que tentava atravessar a rua, apontou para o sinal fechado para mostrar a um motorista prestes a jogar o carro sobre ele, que ele ainda estava dentro do seu direito... O motorista enfurecido encostou o carro e partiu para cima do rapaz, para tomar satisfações. Nós não ficamos para ver o desfecho.
Na segunda vez, os protagonistas foram o motorista de um táxi e o de um ônibus. Não sei ao certo como tudo começou, mas sei que o taxista quebrou o espelho retrovisor do ônibus, com uma paulada (isso eu vi). E daí, como uma flecha, o motorista do ônibus desceu do veículo e começou a chutar a porta do táxi desesperadamente. Tanto, que seu sapato foi arremessado para longe.
Eu ando com medo de andar na rua e alguém não ir com a minha cara por qualquer coisa que eu diga ou faça. De repente, posso chegar em casa com um olho roxo, sem ao menos, saber porquê. Eu fico pensando que tenho que ser boazinha, deixar rolar, passar, fingir que não vi, que não é comigo.
Na saída do cinema outro dia, estávamos na fila do táxi e um casal nos passou a frente, sem pedir licença. Meu marido ficou transtornado com a cara-de-pau dos dois, e queria tomar satisfações. Vale à pena?, eu perguntei. Não vale! A gente corre o risco de se aborrecer seriamente por nada.
Mas, aí, acabamos trancados em casa, com medo do que pode acontecer na rua. Não adianta não estar dirigindo, vai que a mulher do taxista dormiu de calça jeans!? Não adianta ir ao cinema que tem lugar marcado, vai que alguém quer ver o início do filme que perdeu e esquece que naquela sessão seu lugar já não vale mais, e decide que não vai mudar de lugar... enfim, todo mundo está "tolerância zero". Viramos todos uns "Saraivas", ótimo personagem do saudoso Francisco Milani, mas que era engraçado na ficção - na vida real, ele deixa tudo muito pesado!
E o espírito do Natal, por onde anda, heim?
Para que a gente não fique tão triste com o jeito que estamos, ainda mais numa cidade tão linda como o Rio de Janeiro, posto aqui uma música do U2 - City of Blinding Lights - que eu acho muito bacana, que pra mim tem a ver com essa época de Natal (não sei porque) e que está num dos CDs que eu me dei de presente (a trilha sonora do filme "O Diabo veste Prada").
Um comentário:
É difícil viver sob essa violência gratuita, cada vez mais. Se pelo menos as pessoas pegassem o espírito natalino para serem mais pacíficas umas com as outras, já seria um começo. Ideal que levassem ao longo do ano.
De qualquer forma, o CD que você me deu no amigo oculto da família ainda é um dos mais tocados na minha casa. Adorei.
Beijos!
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