Enfim, sem filosofar demais, essa terra aqui é a terra do consumo, verdadeiramente. Você vê isso nitidamente no shopping, que é enorme, diga-se de passagem. Nos primeiros andares, os daqueles que chegam a pé, as lojas mais simples, as multimarcas. À medida que se sobe, vão surgindo as marcas mais bacanas, Luis Vuiton, Burberry, Dior, Sephora e tantas outras. Tem uma ala só de alta costura, bacanérrima, com a presença de lojas de alguns brasileiros. Um must. Só para olhar.
O que me incomodou de fato foi o tratamento dado aos latinos. Se você não está atento, a coisa acaba sendo muito sutil, você pode até não perceber. Mas, com um pouquinho de atenção ao que acontece ao seu redor, dá para ver que quem não fala inglês fluente está literalmente lascado, ferrado, enfim, encalacrado... vai ser sim tratado de forma diferente. Quem te atende numa loja de marca não está preocupado em vender, está preocupado com quem está comprando. Ninguém se preocupa em agradar o cliente, em entender o que você está dizendo. Problema seu se você não sabe a língua deles, se vira, malandro!
Eu pensava que isso só acontecia na França, com o bendito francês. Mas, pelo visto, a tal da globalização, que os norte-americanos tanto pregam, só existe mesmo no papel, nos livros e revistas que eles vendem para nós, os trouxas, que acreditamos no que eles dizem. Eu fui comprar um batom para uma amiga na Sack's, e a atendente fez a seguinte observação: "até que você fala um bom inglês".
Como assim? Te conheço? Tô pagando!
Definitivamente, certos consumismos não são mesmo para mim. Uma capa de chuva na Burberry (feminina) custa a bagatela de US$ 995,00. O interessante foi que quando eu entrei na loja, de calça jeans e tênis, a vendedora logo começou a falar comigo em espanhol, disse que era argentina, e nem sequer tentou me vender alguma coisa, me mostrar algo ou perguntar se eu queria alguma coisa em especial. Não devo ser mesmo o tipo de gente que compra nesse loja e dá para ver pelo estereótipo.
Me lembro de uma passagem do último livro do Dalai Lama que li que contava de uma vez em que ele havia ficado hospedado na casa de um casal amigo no interior da França por um tempo. Os dois, segundo ele, viviam em pé de guerra, estressados um com o outro, impacientes, mesmo morando numa cidade bucólica. Quando se acomodou no quarto que lhe foi destinado, ele pôde perceber que no armário do banheiro haviam vários tipos de remédios diferentes. Muitos para combater insônia, manipulados e controlados, comprados apenas com receita médica. Ele comentou, então, em seu livro, que mesmo morando bem, com uma qualidade de vida excelente, dispondo de uma casa boa, sendo estáveis profissionalmente, com uma relativa segurança financeira, o casal não parecia feliz. O foco, para ele, era no TER e não no SER.
Se eu posso dizer que aprendi alguma coisa com o povo da minha terra foi a dar valor ao que eu tenho. E, principalmente, ao que eu sou. A gostar das pequenas coisas, a apreciar os momentos. Fiquei encantada hoje de ver uma aula de patinação no gelo, com as crinças se esbaldando ao cair no chão. Fico feliz em não me sentir em casa, em me entender estrangeira nesse país difícil, onde todos se sentem melhores que você, e sofrem cada vez que percebem que não são mais o país número 1 do mundo. Fico feliz com todas as dificuldades e idiossincrasias do meu país. São muitas, são duras, mas são nossas.
Mesmo quando o americano-número-1-do-mundo se assusta ao ver a favela-mais-pobre ao lado da riqueza-da-loja-de-carros-de-luxo no Rio de Janeiro, eu ainda assim sinto uma grata felicidade por ter nascido na minha terra...
Um comentário:
Também adoro ser de onde sou. =)
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