sábado, junho 08, 2013

Eu que não sei nada do mar, descobri que não sei nada de mim...

Subiu mais uma vez. Tomou ar. Uma camada espessa de espuma vinha na sua direção. Mergulhou novamente. Sentiu um repuxar da corrente marítima em seus pés, levando seu corpo a chicotear como um pedaço de couro contra o lombo de um cavalo. Todo o corpo doía.

Num esforço gigantesco para não perder os sentidos, relaxou o corpo até que pôde mergulhar mais fundo. Quando praticamente encostou o corpo na areia, no fundo do mar, encontrou calmaria e paz. Foi então que se deu conta que tinha enfrentado algumas grandes ondas e que não tinha mais fôlego.

Podia ouvir o barulho de um helicóptero sobrevoando a praia. Devia estar resgatando banhistas mais próximos a de praia. O perigo era bem real, mas ela não podia sentir medo, não tinha escolha. Precisava salvar a própria vida e, de preferencia, sair ilesa.

Foi então que o viu. Lá estava ele, com longos cabelos loiros, olhos claros, nadando em sua direção, oferecendo-lhe a mão, como Netuno, deus do mar. Com a outra mão, procurava fincar o corpo na areia e resistir aos refluxos do mar revolto. Estava na sua casa, dono do seu mundo, senhor de sua existência. Ela segurou sua mão e com ele saiu nadando por sob o estouro das ondas, alheia a tormenta da superfície. Aos poucos, foi esquecendo-se de que precisava de ar para respirar.

Foi relaxando num ambiente no qual ela percebeu muita calma, muita paz, no qual ela se sentia feliz. Foi se afastando da praia até que, depois das ondas, pôde ver de longe a praia e as pessoas, foi se afastando do burburinho, deixando de ouvir as vozes, o barulho dos carros, foi encontrando o silencio, a calmaria, um movimento de ondas mais tranquilo, que a embalava... E ele foi percebendo isso. Deixou que ela se despedisse do seu mundo real, e tornou a induzir o mergulho, proposta que ela prontamente aceitou...

Mergulharam juntos, de mãos dadas... a caminho de um mundo novo, contemplativo, e ela mal tinha reparado naquele ser que lhe inspirava tanta confiança. Foi se deixando levar por ele, até que mudou a paisagem, o mar clareou, os peixes apareceram, flora ficou mais rica, outros seres deram o ar da graça. E na confusão entre o que era real e o que fantasia era, ela optou por aquela paz de peixe, como que se pudesse nascer um rabo, que lhe tornasse sereia...


...

E encantada com a quase-morte, começou a cantar de uma forma mágica.

...

E até hoje, pescadores que freqüentam aquelas águas se dizem atordoados com um som doce e encantador, e quase irresistível, que os chama para as profundezas do mar...

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