A empresa para o qual trabalho é considerada no mercado local uma potência. Ela tudo faz, tudo experimenta, tem verba e interesse em testar muita coisa, e, no passado, preocupava-se pouco com os resultados, o que dava ainda maior oportunidade de experimentação, ainda que o processo resultasse em erro. Falhar não era problema quando se tinha tanto orçamento.
Hoje, com os recursos mais escassos, falhar é sim um problema, e a ordem é utilizar mais do mesmo, para que se ganhe em escala e se aplique técnicas e métodos já testados com sucesso. É o reaproveitamento que, para alguns, pode ser elegantemente chamado de Benchmarking Interno.
Fazer mais do mesmo me entedia muito. Tenho eu que ler os mesmos velhos manuais, ler os textos que eu já conheço, os padrões que não mudam, conhecer os velhos processos e inovar sobre aquilo tudo. Daí, eu concluo que a inovação incremental é talvez a coisa mais difícil que alguém pode empreender. Ou talvez, seja apenas a mais chata.
Lendo o livro do Rubem Alves, encontro um trecho que define esse meu momento... (entre tantos):
"Há textos que se parecem com uma lisa superfície de gelo sobre a qual o leitor desliza. O pensamento se move fácil: tudo lhe é conhecido com familiaridade. Mas, ao final desse exercício de patinação sobre o conhecido, o pensamento continua o mesmo. Quando as palavras deslizam suavemente como um patinador sobre o gelo, é certo de que nada novo irá surgir. Ao final, tudo estará como sempre foi. Bem que Hegel advertiu de que "o que é conhecido com familiaridade não é, de fato, conhecido, pela simples razão de ser familiar"".
Nossa, como isso é a minha cara! Como ando enfadada com a mesma comida, os mesmos ares, a falta de novidade, e a arrogância das pessoas. Sinto como se estivesse entrando num mundo de repetições e apertos de porcas com as boas e velhas chaves-de-fenda do Chaplin. Quanto mais eu repito as mesmas operações, executo as mesmas rotinas, crio nada sobre coisa alguma, mais tenho vontade de me dedicar às artes, de virar produtora de gente que cria, de criar eu mesma o belo, o que apetece aos olhos, o que encanta.
E começo a me sentir sugada pelas palavras. Palavras que dançam na minha cabeça e formam as ideias assim, enquanto escrevo, gerando crônicas, contos de amor, poesia, que se não encantam aos outros, ao menos me suprem da fatia de arte que eu mereço e da qual me abasteço para viver.
Talvez viva demais o mundo dos sonhos. E por algum momento, tenho medo de surtar, querer largar tudo, querer abrir mão do que conquistei. Mas, afinal, o que conquistei senão um mundo em tons de cinza... mas, nada a ver com o erotismo do best-seller da livraria da esquina...?
No filme "Tempos Modernos", sem dizer palavra, Chaplin delatava o tédio dos trabalhadores do chão-de-fábrica, aqueles que deviam deixar os problemas em casa para não interferir nas rotinas do dia-a-dia. Como trabalhadora do conhecimento que sou, parece que cabe a mim, inovar e criar as novidades das quais eu preciso para viver.
É isso, careço de doses diárias de arte e poesia.
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