sexta-feira, maio 16, 2008

Mulher-pratinho*

Era uma festa muito feminina. Muitas mulheres sobrando: bebendo, conversando, gargalhando, fumando, falando de homens, da barbárie em que se transformou o ambiente de trabalho, da excessiva competição, dos relacionamentos caquéticos que andamos construindo por aí...

Dos poucos homens presentes à festa, poucos solteiros, muitos acompanhados por mulheres acanhadas, que concordavam com muito do que estava sendo dito, se arriscavam a balançar a cabeça de levezinho, mas que, no fundo, estavam tentando não magoar o macho ao seu lado com aquele papo sinistro.

De repente, chegou um cara lindo e solteiro. Moreno alto, bonito e sensual, talvez eu seja a solução pros seus problemas... (a música das antigas logo veio à cabeça de muitas!) A mulherada pulou em cima, como abelha no mel. O cara ficou se sentindo. Além de bonito, ele faz o estilo culto e inteligente, mas sem aquele ar de almofadinha, que anda com um casaquinho no ombro combinando com a cor da listra da blusa. Todas querem um pouco da sua atenção, um flash de sorriso branco e bem tratado daquele rosto de olhos azuis da cor do mar.

No meio da conversa, uma das balzaquianas** ousou reclamar de um cara com quem ela sai de vez em quando que, segundo ela, só dá pista errada. O cara então se mostrou muito interessado no assunto e, sem perceber, deixou a conviva mais próxima no ar, sem ouvir palavra do que ela estava dizendo. Ficou escutando a reclamante com a maior atenção, mas ela nem percebeu e continuou:
- O cara insiste, liga para a gente sair, a gente sai, fica horas juntos, conversa sobre tudo, sobre nossos planos, ele me dá conselhos, diz que eu estou ótima, faz elogios a minha roupa, repara em detalhes ... que ele não é gay, eu sei. Já vi ele pegando outra mulher. Por que nunca acontece nada? Por que ele sempre me deixa no ar, e depois me pede para não sumir? Qual é a dele?

Do nada, o lindo resolveu se pronunciar:
- É que ele faz o tipo equilibrista de circo, aquele que faz o número dos pratos sobre as varetas. Qual é a função daquele cara? Não deixar os pratos cairem no chão, porque aí eles quebram. Quando ele percebe que um prato vai cair, ele se aproxima e dá um tapa no prato, para ele dar mais algumas giradas. E aí, ele vai mantendo os pratinhos à disposição. O número só é bacana se ele tem muitos pratinhos rodando! Pode ter até um "pratinho oficial", mas a estrela deste número é ele. Ninguém pode brilhar mais.

A balzaca reclamante ficou estarrecida com a metáfora. Isso responde a tudo. Como eu pude ser tão tôla, tão imbecil?

E o cara completou:
- A mulher-pratinho normalmente fica tonta... ou pira de vez ou resolve deixar de ser pratinho. Quer beber alguma coisa?

E saiu para buscar algo para a balzaca, que ficou em estado de choque com esta revelação. Homens são mesmo criaturas surpreendentes!

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* Este texto é uma homenagem a um amigo que vive em Brasília e que é um grande "filósofo" das relações humanas!
** balzaquianas - cunhado por Honoré de Balzac, este termo designa as mulheres com mais de trinta anos e foi popularizado pelo seu romance "A Mulher de Trinta Anos".

2 comentários:

Letícia disse...

Bela metáfora!
Mas pratinho é o C...!!!!

Claudia Moema disse...

Apesar dse concordar com a Letícia, acabo de encontrar a minha definição em muitas das minhas relações.
Bitocas
CM