Ela desceu as escadas do metrô no Largo da Carioca e lá estava ele. Sentiu que não poderia passar impune por aquela cena, e parou. Olhou bem pra ele e viu como ele era pequenino. Dava uns seis anos, e só.
Estava sentado no segundo lance de escadas. Uma caixinha de drops lhe fazia companhia. Ele abraçava os joelhos e soluçava. Ela se abaixou para falar com ele olho-no-olho, encostou de leve na sua perninha e perguntou: por que você está chorando?
Ele a olhou meio desconfiado, com medo. Na certa, ela pensou, toda vez que ele é abordado, é pra tomar esporro. Ninguém deve falar com ele carinho.
Ele, com a boca entreaberta, respondeu baixinho e agoniado: É que eu quase não vendi nada hoje...
E ela não teve como não pensar no mal-caráter que coloca uma criança desse tamanho na rua pra vender bala. E sofreu com ele pela pressão psicológica que ele devia sofrer. Toda criança merece brincar, não é mesmo? Toda criança merece receber os cuidados dos pais, né?
E aí, ela disse pra ele: Deixa a tia ver uma coisa aqui. E abriu a bolsa e procurou um trocado. Só encontrou dez reais. Não pensou duas vezes, deu os dez reais pro menino. E pediu a ele: Não chora mais não, tá?
E ele secou suas lágrimas com a pequena camiseta. E esboçou um sorriso. Lindo.
Ela se levantou e continuou a descer as escadas. Nunca dava esmolas pra ninguém. Mas, para ver um sorriso naquele rosto, valeu a pena. Ela sabia que era só naquele dia e que, no dia seguinte, o problema estaria de volta.
E concluiu que, se pudesse, o teria levado para casa com ela e o teria feito seu filho, um menino feliz.
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OBS.: As fotos são da Children at Risk Foundation, no Flickr.
Um comentário:
Poizé...
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