quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Tempo, tempo, tempo, tempo...

Estava no aeroporto de Navegantes, aguardando a avó do meu marido desembarcar. Enquanto esperávamos, eu, meu marido e minha sogra, um casal me chamou a atenção. Eram tão idosos quanto a pessoa que esperávamos, talvez ele tivesse 90 anos e ela, cinco anos menos. Eles estavam muito ansiosos e diziam um para o outro: "nossa filhinha vai chegar, vai chegar!"

Eu estava curiosa para ver a filhinha. Por um momento, esqueci que os pais sempre tratam seus filhos como crianças, por mais idade que eles tenham. Ao abrir a porta do desembarque, pude constatar que a filhinha e o seu marido já eram cinquentões, e que tempo é uma coisa mesmo muito relativa.

O tempo passa voando, a gente sabe, sente isso na pele todos os dias. O dia mal começa e, de repente, cai a noite e sua "to-do list" continua cheia de afazeres. Para os pais, somos como eternas crianças, não tem jeito, eles se preocupam mesmo com a gente, inegavelmente, inequivocamente. E com o tempo, a situação vai se invertendo e nós vamos nos preocupando cada vez mais e mais com eles. Quando a gente se dá conta, eles já viraram as nossas crianças.

Aquele casal que esperava no aeroporto abraçou o casal mais novo com tanta força, tanta força, que aquela emoção toda transbordou e inundou os corações de quem estava assistindo a cena. Minto, de quem estava prestando atenção. A mãe chorava enquanto abraçava a mais nova e repetia: "minha filhinha, minha filhinha".

É nessas horas que a gente consegue entender o significado mais profundo da palavra saudade. Eu chorei junto com a senhorinha, por mais que tentasse me controlar. As lágrimas saltavam dos meus olhos quase que involuntariamente, não deu pra controlar.

Embarcamos eu e meu marido no voo seguinte. Durante a viagem de volta, eu me perguntei por quanto tempo eles ficaram sem se ver, o quão longe uma das outras estavam aquelas pessoas, que caminhos teriam percorrido para estarem tão distantes. Fantasiei um monte de coisas sobre aquelas vidas, e me perdi tentando preencher as lacunas de uma história de pessoas que eu não conhecia, mas que ali, na minha frente, viveram um momento de felicidade.

7 comentários:

Alberto Mauricio disse...

Gostei muito do texto e da foto (você que tirou?).
É verdade, o tempo passa e a gente não se dá conta...

Letícia disse...

Essa história é muito linda!
Se eu estivesse lá, choraria também.

Beijos

Lady Shady disse...

Nossa...eu chorei aqui só de ler vc narrando...
Sempre adorei aeroportos, rodoviárias, é sério. Sempre adorei ver as pessoas chegando, partindo...
Sempre, sempre presto atenção.

Cacau disse...

Que bela postagem...como Leticia, choraria também se estivesse la. Beijocas.

Rebecca Leão disse...

Vocês não sabem como pensei na minha avó naquela hora. Mas, Alberto, infelizmente, a foto não é minha não. Bjs

Luis Paulo disse...

"O trem da chegada é também da partida... a plataforma desta estação é a vida deste meu lugar..."
Olho para os meus filhos já marmanjos e lembro que ainda me refiro a eles como "as crianças".
Que estranha percepção esta que nos faz perder a noção de tempo e espaço, para nos manter eternamente embalados no doce sabor das emoções.
Belo texto.

Rebecca Leão disse...

Luis, vc está aí, me lendo e eu estou aqui, te moderando. Muito estranho - e ao mesmo tempo gostoso - isso! Bjs