Eu quero ser excomungada!

Quem me vê escrevendo compulsivamente sobre propagandas de tv deve achar que eu vejo muita tv. Eu vejo! Na minha casa, a tv é a grande companheira de todas as horas. Chego em casa e a primeira coisa que faço é ligar a tv. Porque quando ela está ligada, me sinto menos só, quando estou sozinha.

E é na tv que eu tenho visto os maiores absurdos do mundo. Pessoas que se sentem rejeitadas e por isso se acham no direito de sair matando todo mundo, pai que mata filha tentando jogar um avião contra um shopping center (com a intenção de provocar uma tragédia ainda maior), gente que se explode no meio de outras pessoas, terroristas que derrubam dois edifícios enormes e matam mais de 3000 pessoas de uma vez, loucos capazes de torturar crianças, pais que estupram e mantêm suas filhas em cárcere privado por anos... enfim, talvez seja aquilo que chamamos de fim do mundo... ou talvez o mundo sempre tenha sido assim, a gente agora só passou a ter mais acesso à informação e tudo ficou terrivelmente escancarado. Tão escancarado que a gente está anestesiado e é, muitas vezes, incapaz de tomar alguma providência.

Pois bem, nestas duas últimas semanas, acompanhei o maior absurdo de todos. Pela tv, fiquei sabendo que um padrasto, com ou sem a conivência de sua mulher, abusava das filhas dela, uma delas de nove anos e a outra, deficiente mental, de 14, no interior de Pernambuco. A primeira, por sofrer os abusos desde os seis anos, já havia tido sua primeira menstruação e agora encontrava-se grávida de gêmeos.

Ao ser examinada por uma equipe médica na capital do estado, ficou constatado que o estado de saúde da menina era gravíssimo e que ela deveria passar por uma cirurgia para realizar um aborto, caso contrário, poderia vir a sofrer sérias consequências em sua saúde, ou até mesmo, falecer. Diante deste quadro absurdo no qual já se encontrava a menina, a igreja resolveu se posicionar contra o aborto. E depois que ele foi realizado, o arcebispo da cidade, Dom José C. Sobrinho, resolveu excomungar a todos: a mãe, que consentiu com o aborto, e a equipe médica, que o realizou.

Perguntado se excomungaria também o padrasto que seviciou a menina, Dom Dedé, como é conhecido, disse que não, já que o estupro é um ato menos grave que o aborto. Como assim? Como não encarar que deixar a gravidez da menina ir até o fim poderia ser uma indução ao suicídio? Como não pensar na saúde psicológica desta menina, na mulher que ela será, na criaturinha que passou por tanta coisa já aos nove anos de idade?

Está certo que depois da polêmica que o fato gerou, a igreja voltou atrás (eles não são bobos nem nada, né?). Mas, cada vez que eu vejo o que a igreja católica faz com as pessoas, mais eu me afasto dela. Não tenho vontade de pisar numa igreja, converso com o meu Deus em casa mesmo. Ele é bom, Ele não concordaria com isso.

Diante desse horror, eu

TAMBÉM QUERO SER EXCOMUNGADA!

PS.: É por isso que vovó, quando viva, já não via mais telejornal há muito tempo!