Saudades

Ontem estive na casa dos meus pais. Eles têm duas fotos da minha avó uma na sala e outra no escritório, nas quais, na minha opinião, ela já não estava bem. Gosto dessa aí ao lado, onde ela revela, sutilmente, a mulher forte que era.

Lendo o livro do Rubens Alves, que continua na minha cabeceira e sempre estará, me deparei com uma crônica, na qual ele fala da Cássia Janeiro, poetisa que escreveu uma poesia em homenagem ao professor Antonio Candido. Essa poesia tem tudo a ver com o que eu sinto quando penso na minha avó e por isso, eu a transcrevo aqui.

O que sobrou

O que sobrou de você neste

Apartamento

Foram as suas roupas,

Que logo vão ser dadas,

Os seus livros,

Alguns dos quais serão meus,

Aqueles que compramos juntos,

As lembranças.

O que sobrou foram os seus retratos e,

Quando vi uma foto sua, sorridente e saudável,

Lembrei-me de que não me preparei

Para a sua vinda,

Mas pude me preparar para a sua ida.

Mas quando você foi,

Ah, meu Deus!

O que sobrou?

O que sobrou

Fui eu.

Eu sabia que a minha avó não estava bem. Irma era forte, bem humorada e sorridente, mas já andava meio cansada. Eu sabia que ela podia me deixar a qualquer momento, mas eu não estava preparada pra isso, da mesma forma que não estava preparada quando a outra avó, Maria, se foi.

Esta semana eu comprei uma roupa para um evento e quando a vi, pensei logo na Irma, porque a roupa era toda forrada e a saia tinha um cinto forrado do mesmo tecido. Imediatamente, eu pensei que ela teria adorado me ver com aquela roupa, tão feminina. E quando eu me arrumei, estava pensando nela. Quando pus a meia-calça e o sapatinho de modelo Channel, pensei que ela ia achar lindo.

Mas, ela não está mais aqui pra me ver... espero que ela ainda esteja por aí, olhando por mim, porque eu sinto muitas saudades dela.