Ele entrou no carro e se deitou ligeiramente no banco do carona para abrir a porta para ela. Ela tinha uma dificuldade danada de abrir aquela porta. Ela entrou, se ajeitou no banco e olhou para ele. Ele começou a falar e ligou o carro. De repente, o volume de sua voz começou a aumentar e ela passou a escutar apenas algumas frases do que ele falava. "Eu acho que já te conheço um pouco". "Eu não dormi essa noite pensando numa forma de te ajudar". "Ontem, você me deu uma patada, mas eu não reagi, não fiquei chateado". "Eu quero paz". "Você não sabe a força que tem". (...)
No trajeto, dirigia vagarosamente para ter tempo de dizer tudo o que queria para ela. Ela ia ouvindo, tentando absorver, mas pensava no quanto estava se esforçando para dar conta do que tinha que fazer, num momento que talvez fosse o mais difícil da sua vida. Ele dizia para ela que ela tinha que tomar as rédeas das coisas, que as pessoas esperavam isso dela. E ela esperava também que um dia ela tomasse as rédeas da própria vida, mal parada há muito tempo.
Sem se dar conta, ela começou a chorar. Mas, não... não queria chorar na sua frente, não queria se mostrar frágil. Tinha vergonha. Ele ficou quieto, respeitando o tempo e a dor dela. Ela evitava olhar para ele, com medo daqueles olhos que enxergam através. De repente, não foi preciso dizer mais nada para que tudo fosse dito.
Ele parou para abastecer, e fez piada com o frentista, só para vê-la sorrir. Ela quis beijar a sua mão como forma de agradecimento, mas não o fez. Só agradeceu a carona e saiu do carro.
E ficou feliz em saber que o amanhã viria, e talvez lhe trouxesse um pouco de sol.
2 comentários:
Assim como ela, fico feliz quando lembro que amanhã poderá ter sol.
=)
Bonito texto!
bjs!!!!
Postar um comentário