Coloque um cachorro bem grande numa jaula bem pequena.
Imagine assim: se ele for alto e magro, coloque numa jaula mais baixa do que ele e bem estreita, um pouquinho maior do que a sua largura.
Faça-o se sentir apertado, encurralado, sem saída, sem poder se mexer.
Prenda-o a uma corrente, ponha nele uma focinheira que o impeça de uivar.
Deixe-o acoado, acossado, de orelhas baixas.
Hoje eu vi alguém assim.
Eu já me senti assim.
O tempo não passa.
Qualquer tentativa de grito é pouco esforço para abafar a dor.
O esôfago se contrai.
O estômago se retrai.
Mas, uma hora, o cansaço te vence.
O pior é saber que o alívio só viria se se pudesse proferir aquilo que não pode ser dito, que não deve ser dito.
A covardia mata lentamente.
Entorpecido, dependente, se opta pela droga à cura.
O final, este já se conhece.
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