segunda-feira, março 29, 2010

Cachorros, sentimentos e nós na garganta

Coloque um cachorro bem grande numa jaula bem pequena.

Imagine assim: se ele for alto e magro, coloque numa jaula mais baixa do que ele e bem estreita, um pouquinho maior do que a sua largura.

Faça-o se sentir apertado, encurralado, sem saída, sem poder se mexer.

Prenda-o a uma corrente, ponha nele uma focinheira que o impeça de uivar.

Deixe-o acoado, acossado, de orelhas baixas.

Hoje eu vi alguém assim.

Eu já me senti assim.

O tempo não passa.

Qualquer tentativa de grito é pouco esforço para abafar a dor.

O esôfago se contrai.

O estômago se retrai.

Mas, uma hora, o cansaço te vence.

O pior é saber que o alívio só viria se se pudesse proferir aquilo que não pode ser dito, que não deve ser dito.

A covardia mata lentamente.

Entorpecido, dependente, se opta pela droga à cura.

O final, este já se conhece.

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