Sentou-se na cafeteria do shopping e pediu uma água. Estava cansada. Muito cansada. Ainda que estivesse bem, e que a médica lhe tivesse dado alta, ainda tinha dias em que ela ficava mais cansada do que o normal. Aquele era um deles. Muita andança, muito calor, muito sol, muito cansaço.
Abriu água e a bebeu toda, quase que num gole só. Depois, ficou olhando ao redor. Duas amigas na mesa ao lado conversavam, falavam da vida. Coisas banais. Ela se lembrou da última vez em que estivera ali. Estava com sua melhor amiga, aquela de quem ela ousou dizer um dia que era uma outra irmã que tinha ganho nesta vida. Pensava nela agora como alguém de uma vida que não esta, uma encarnação remota, algo como um grande equívoco, alguém que ela nunca enxergou direito, uma visão míope. Como pudera errar tanto na sua avaliação? Como pudera gostar tanto de alguém que ela não entendia?
Lembrava de suas palavras na última vez em que estiveram ali, como ela estava vestida, de short, parecendo uma menina, ela que às vezes parecia tão garota, mas em outras, tão cansada de uma vida não muito amiga dela. E, de repente, sem que ela pudesse entender, ela tinha deixado de ter importância para essa sua irmã de coração. Sentia que tinha virado um estorvo, alguém para quem essa amiga não queria mais contar seus segredos, como antes. Alguém em quem ela não confiava mais, talvez nunca confiara, de quem talvez ela até sentisse vergonha. Um susto. Uma surpresa. Uma dor. Uma mágoa. Sempre tivera a certeza que, acontecesse o que acontecesse, fizessem o que fizessem, seriam sempre cúmplices, tentariam sempre entender o ponto de vista da outra.
Afinal, foi assim que aconteceu quando, mesmo contra tudo e contra todos, ela tinha resolvido voltar para um namorado muito cretino que tivera quando ainda era muito nova. A outra podia até não concordar, até se preocupar por saber que aquilo acabaria em muito sofrimento para sua amiga, mas entendia que o coração prega peças, é mais dono da nossa razão do que podemos imaginar. E dava o suporte. Quem sabe sua amiga não tivesse tido certeza de que receberia o mesmo apoio, que a outra seria capaz de lhe oferecer reciprocidade...?
Então ela pediu um café e uma porção de pães de queijo (mesmo sabendo que isso era um crime contra a dieta que iniciara na última semana) e ficou pensando nos erros de avaliação que fizera ao longo da vida, com outras pessoas. Em algum momento sua amiga havia mudado e ela não percebeu. Talvez tivesse tentado lhe dizer das decisões que ia tomar, e ela não lhe deu abertura. Talvez, tivesse tentado até lhe pedir ajuda para decidir, mas ela estava preocupada demais em sobreviver a um ano difícil, em que a saúde, o coração e o trabalho estiveram muito mal, e foram massacrantes pra ela.
O fato é que tudo isso não teve explicação. Abriu uma cratera gigante em seu coração, como a imagem da cratera do metrô de São Paulo, engolindo tudo. De repente, tudo que ela acreditava não fazia mais sentido. Não sobrou nada. Só que ela olha pros lados agora, e no meio da enorme mágoa que ficou, vê um oceano de possibilidades. Vê relações mais leves. Vê pessoas interessadas em iniciar um novo caminho ao lado dela, em compartilhar a sua companhia, em curtir com ela muitas coisas... vê o quanto ela se limitava a cultivar algumas poucas relações tendo o mundo a sua frente. Vê que sim, é possível. Consegue enxergar conquistas advindas da tsunami. Foi difícil, ela bebeu muita água, mas está firme, como sempre. De pé.
Caia, mas de pé.
Começa a entender quando dizem que você pode levar uma pessoa até uma fonte de águas cristalinas, mas não pode obrigá-la a beber da água. É isso, as coisas mudam, desde que você mude primeiro. Tem muito a ver com o post anterior. Não tentar mudar os outros já é um grande entendimento.
E se alguém resolve mudar de caminho e prescindir da sua companhia, só o que se tem a fazer é torcer para que este alguém seja feliz, se um dia ele lhe foi importante. Porque a vida é isso. Como dizia a Elis, vivendo e aprendendo a jogar... nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas, aprendendo a jogar...
4 comentários:
Play the game !
Passei por isso. Pessoas que eu julgava amigas fizeram um julgamento equivocado de mim. Até de "pobre de espírito" fui tachado, ainda bem que será meu o Reino dos Céus.
Bjs
Eu sofri muito... o bom é que quando certas coisas caem no esquecimento, deixam de ter importância... e aí você nem se lembra mais porque mesmo que sofreu!
Depois de passar por seu blog li esse poeminha, achei bonitinho voltei para deixar uma partezinha pra ti, rs
"Gostaria de ter em minhas mãos...
O antídoto da tristeza...
O licor da gentileza...
O remédio para a dor...
Fico aqui no meu cantinho...
Sempre pensando num jeitinho...
De algo por alguém poder fazer...
Mas continuarei procurando...
E um dia eu acabo encontrando...
E assim poderei dizer...
Que bom poder ajudar!"
é duro, mas a gente supera, não é mesmo?
o que não adianta é querermos nos aproximar de quem não nos quer por perto.
demorei a aprender, mas agora sei que o melhor, nessas horas, é sair de cena.
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