Chegou ao consultório ás 18 hs. Tocou a campainha e aguardou. Lá estava ela, sua terapeuta, abrindo-lhe a porta. Pediu que esperasse, devia estar com algum paciente. Quem seria, a menina ou o Paulo? Ela sabia seu nome de tanto ouví-la dizer “Oi, Paulo, aguarda um pouquinho?”. Esse tempo de espera era sempre triste para ela, sempre a levava a pensar que já não precisava mais daquilo. Temia estar inventando problemas.
Enquanto esperava, só pensava que se vive a vida inteira ao lado de alguém e ainda assim não é possível dizer que se conhece a pessoa. Todo dia, a cada minuto, pode-se ter uma surpresa. Pode ser um gesto inesperado, uma fala inusitada, uma informação do passado surpreendente... quanto mais se convive, maiores são as revelações.
Essa foi a primeira fala dita à terapeuta. Assim que foi dita, ela se deu conta: “mas eu não conheço nem a mim mesma, como posso querer conhecer os outros?” Não se pode mesmo querer viver dentro do previsível, no controle dos fatos, nem tudo a gente vai saber. Dos mais reservados, é que emergem as maiores novidades, não fossem eles reservados.
O que a tocou desta vez nunca disse respeito à ela, foi algo que aconteceu na vida do outro antes que eles se conhecessem, algo que ele não precisava contar a ela, ou talvez até quisesse esquecer. E ela só descobriu porque foi curiosa, foi atrás, remexeu um passado que não era dela, resolveu analisar o histórico das páginas web navegadas por ele. Para quê? Por quê? Ela ainda não sabe.
Talvez buscasse ter com ele uma certa cumplicidade, sem medo de ser considerada invasiva. Talvez, tenha sido à toa. O fato é que ela nunca fizera isso antes. Mas fez desta vez. E quem procura, acha.
A gente vive junto com alguém por tanto tempo e, ainda assim, tem tantos segredos! Nós somos um eterno quebra-cabeças que não fecha, está sempre faltando uma peça fundamental. Às vezes, ela está ali, no meio das outras, nós só não as colocamos no lugar por medo que vamos enxergar. Talvez a paisagem não seja tão bonita, talvez a gente não se orgulhe tanto do que somos, mas sabemos que a busca pela “peça perdida” é eterna, vamos sempre procurar por ela.
Até que chegue um dia em que a busca não seja mais necessária, pois no fim da jornada, as respostas já estão lá há tanto tempo... Nesse dia, você não surpreenderá à mais ninguém, nem a você mesmo.
3 comentários:
Concordo que não conhecemos de fato as pessoas, nem mesmo as que convivemos diariamente, mas isso pq talvez temos mania de mostrar o nosso melhor... errar faz parte... mas quem quer admitir? ou escancarar os defeitos? E na maioria das vezes somos uma pessoa diferente pra cada um que nos conhece... quer saber quem vc é pra mim? Além de uma mulher mtooo bonita, simpática e inteligente, sensível e forte ao mesmo tempo... Fico feliz por conhece la =)
Sinto que vc me conhece, mas não quer se mostrar. Tudo bem, mas... será que talvez a melhor parte de vc é o Anonimato? Abraço!
Nem sempre podemos mostrar nosso melhor Rebecca, ;(
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