domingo, julho 01, 2012

O que não se pergunta



Tem perguntas que suscitam meu lado mais nervoso ao estilo do "Tolerância Zero". Aquelas do tipo: "Por que você gosta do Fulano?" ou "O que você tem contra o Ciclano?"

Ora bolas, se eu gosto de alguém, é porque gosto. Desenvolvemos empatia, cumplicidade, algum tipo de amizade. O "santo" bateu! Se não gosto, é porque aquela pessoa não me agrada de alguma maneira, ou porque é o meu oposto, ou porque é o meu espelho. Vai saber...

De qualquer modo, na minha opinião, essas são perguntas que não se deve fazer a ninguém. Porque talvez seja muito difícil de responder. E aí, gera um certo constrangimento.

Às vezes, você conhece alguém que é a cara do teu ex-namorado que te magoou muito, e isso dói. E daí, você quer ver qualquer um menos aquele indivíduo... e ele pode ser até um cara legal, mas não rola uma aproximação. Ou então, você tem uma história com alguém, não é de hoje, e não quer abrir isso pro mundo. E por isso, só por isso, vocês se tratam de um modo especial. Alguém precisa saber destes detalhes? Não, né?

O fato é que hoje, ninguém sabe mais o significado de privacidade. Não adianta insistir, melhor não comentar. Mas, com o advento das redes sociais, e da superexposição em público, todo mundo quer saber de tudo, quem conhece quem, quais são as relações, os motivos, as histórias, as fofocas. Não se permite mais que alguém seja um sujeito reservado. Em pouco tempo, ele passa de reservado a chato.

De acordo com Eric Hughes, "privacidade é o poder de revelar-se seletivamente ao mundo." Para Rainer Kuhlen, a "privacidade não significa apenas o direito de ser deixado em paz, mas também o direito de determinar quais atributos de si serão usados por outros".

Outro dia, eu fui almoçar com uma pessoa com quem eu não simpatizo muito, pelo simples fato de que eu acho que as pessoas merecem uma segunda chance, e que às vezes, elas (ou eu mesma) não estavam num dia bom quando me causaram uma primeira impressão. Ao chegarmos ao restaurante, nós éramos em quatro, o garçom nos ofereceu uma taça de vinho.

Papo vai, papo vem, uma das colegas disse a tal moça que eu não bebia vinho. "Por que, é religião?", ela me perguntou, como seu eu fosse um alien. Retruquei que não, e a conversa até esticou um pouquinho, mas como eu estava sem paciência para explicar, deixei que ela morresse na primeira folheada do cardápio.

Então, sem mais nem porquê, a conversa enveredou para filhos. E ela quis saber quantos filhos eu tinha. "Nenhum", respondi. "Por que, é religião?", ela perguntou novamente, já com ar de deboche, querendo se fazer de engraçada. Foi quando constatei que a minha primeira impressão estava certa, infelizmente. Não se debocha de alguém por suas opções ou história de vida, isso é uma questão de respeito, ou de falta dele, neste caso.

Eu sei que a vontade era deixar a mesa ali mesmo, com a comida pela metade, e ir solenemente almoçar sozinha. Depois do ocorrido, fiquei me perguntando por que, afinal, eu me havia deixado sucumbir e aceitado fazer algo que eu não estava a fim de.

E cheguei à conclusão de que preciso ser mais vigilante comigo mesma.

Música do dia: "Uninvited" - Alanis Morissette.

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