Entrou apressada no último vagão do metrô, do último trem, da última estação. Sentou-se bem no finzinho do vagão, onde quase ninguém ia procurar abrigo aquela hora, nem a ficaria encarando.
Fechou os olhos, como fazia sempre, de modo a lidar com a terrível sensação de claustrofobia que sentia. Deixou os braços escorregarem pelo seu corpo, até encontrarem o frio do banco do coletivo. No vão entre os dois assentos, encontrou um envelope.
Olhou para os lados para ver se havia alguém ainda por perto, talvez o dono ou dona do pequeno envelope. Não, não havia ninguém por perto. Olhou pro envelope e viu que na frente estava grafada, com uma letra bastante feminina e rebuscada, a frase: "Para o meu amor".
Ela, que adorava histórias de amor, não pensou duas vezes, abriu o envelope.
"Rio de Janeiro, 13 de julho de 2011.
Meu querido amor,
Agora que você foi embora, me sinto mais confortável em te dizer tudo isso que eu preciso dizer. Não sei se você nunca percebeu, ou se simplesmente o fez mas, por uma questão de dignidade, nunca tocou no assunto... o caso é que eu te amo... muito. Amo-te desde o primeiro dia, desde a primeira vez que te vi e te achei incrivelmente bonito. Desde o primeiro momento em que rejeitei você e o tachei de chato. Amo-te de raiva, por seres tão insistente. Amo-te, mas amo-te tão perdidamente, que só me reconheço quando olho em teus olhos. O que foi dúvida para mim, de repente se tornou uma verdade irrefutável. Não há espelho mais revelador de si mesma do que os olhos do homem a quem se ama.
Meu amor, você se foi. Está tão longe. Não sei quando, nem onde poderei encontrá-lo novamente. E o que era medo de perder-te virou uma urgência. Anseio todos os dias por ver-te, tocar-te, beijar-te. Tenho urgência da tua boca, da tua pele, to teu beijo e to teu abraço. Lembro-me de cada momento contigo, daqueles em que eu disse meias verdades, por medo, puro medo, e dos que fui intensamente provocada por você. Não sei como não sucumbi, não sei como resisti a você. Por vezes, tive a impressão de que toda a atenção e energia deste mundo estavam destinados a juntar um homem e uma mulher: nós.
Da menina que podia esperar, sonhar e imaginar, não sobrou nada. Sobrou apenas uma mulher madura, ciente dos seus desejos, aberta para o mundo, que te ama muito, imcompreensivelmente. Peça, chame, grite meu nome, que eu vou ao teu encontro, onde você estiver. Só não me deixe aqui sozinha, sem você.
Eternamente tua Pequena".
Ela fechou a carta e pensou absurdos. Pensou na coragem daquela declaração. Pensou se a "Pequena" era correspondida por ele. Pensou no quanto ele um dia quisera ouvir aquilo tudo, e talvez já fosse um pouco tarde... Pensou que já era hora de viver.
E apesar do adiantado da hora, deixou a carta no vão entre os bancos onde a havia encontrado, e foi à vida!
Música do dia: "O meu amor" - Chico Buarque, na Ópera do Malandro
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