quinta-feira, dezembro 13, 2007

Carta pra Mainha

Rio, 12 de dezembro de 2007

Bença mãe!

Aqui é tanta belezura que fico aboletado, arriado dos quatro pneus. Já fui ao Cristo (que os daqui chama de Corcovado), Maracanã, Copacabana, na Feira da Gente em São Cristóvão e na feira de Foguinho. Vixe Maria! Já posso bater a caculeta! Tô tirando a maior gréia, é muita fuleragem. Ê lasqueira! Mas ainda não consegui nenhuma colada com as minas daqui. Até as graxeiras são umas jumentas, mas as daqui não são piriguetes.

To trabaiando num tar de DSG. Esta sopa de letras de letras é pomposa e significa “Desenvolvimento de Sistemas de Gestão”, porém num pense que eu faço computador não. Deus que me livre! É porque como a palavra sistema é arretada de holística, botaram este nome. Pra entrar na minha sala tem um tar de crachá (crachá é um prástico, com a foto da gente e uma faixa preta por detrás). Eles dizem que o tar de crachá é quem abre a porta, mas como eu sou sabido mãe, já descobri que é a Luana e o Tiago os abridores de porta. Precisa ver meu computador! Aqui eles deram outro nome pro retado, eles chamam de workstation. Na sala tem uma renca deles; tem três que são mais engalalados do que cruz em beira de estrada.
Por falar em nome esquisito, tem uma coisa que não tô gostando. É que toda reunião que vou, tem sempre um garganteiro usando uns dizeres estranhos. Até os nomes dos galalaus são diferentes: Alexandre Cara Vai Tu (parece propaganda de político), outro tem nome de povilho antiséptico, a outra tem nome de profissão de fabricante de bolsas e, um novato (no setor, não de idade), tem nome de homem-bomba. O nosso sobrenome é pinto aqui.

Mas, pra piorar, a linguagem deles é abilolada. Outro dia, num meeting (esse é o apelido que eles dão para reunião), meu colega gazo perguntou pra mim se eu tinha acordado o plano de cut over. Olhei estranho e perguntei “O de quem?”. Aí ele me disse “Preciso do plano deste plano para o go live do projeto. Sem ele não tenho referência para o business case, não tenho como especificar o workflow, nem identificar os drivers e outcomes.”. Mirei aquele aquerijebá de gravata, já apoquentado, e pensei “Tô a ponto de fazer uma agrestia, mas como preciso da bufunfa perguntei “O prezado está falando sério ou dizendo dixotes?”. Superiormente, ele arreliou da minha fala e continuou “Colega, se você ainda não desenvolveu os modelos mentais para estar aqui no DSG, talvez seja melhor eu falar com seu sponsor sobre um programa de change management para roll out as necessárias competências. Talvez um mentoring ou um coaching, sendo conduzidos por um deliverable business plan possa ser um adequado kick off para o seu desenvolvimento.”. Naquela altura, tive vontade de procurar frete, mas com medo de perder a chave e ficar com fama de azuretado ponderei, e, na tora, como um chibungo, perguntei educadamente “Prezado, para a gente se entender, para evitar mandu, qual é o prazo para a entrega do tal plano de cut over?”. Mas fique tranqüila, porque depois desta iniciação, tô sabendo até o que é slide wear ( a tradução é: dê-me o power point que eu conquistarei o mundo. Power point é um programa legal de computador que serve para amenizar notícia ruim), outros dizeres da língua-patroa e a começar meu correio sempre com o tratamento de “Prezado...”.

Bem, vou ficando por aqui, cheio de efes e erres, cheio de guéri-guéri e com meu paletó preto e minha gravata colorida apertada, neste Rio Maravilha de 40ºC, em um dezembro ensolarado.

Do seu filho.

Cássio Távora Cavaco

domingo, dezembro 02, 2007

Le Petit Prince

Lendo o blog Disritmia, descobri que sou afetulosa. Foi justamente na frase da raposa que fiquei pensando quando terminei de ver o filme do post de ontem. Claro que a autora lança mão deste termo de uma forma totalmente pejorativa, mas... não é que a frase da raposa tem tudo a ver com os dias de hoje, nos quais as pessoas temem em se conectar com as outras e são completamente irresponsáveis com o que fazem (inclusive com quem cativam!)?!!!?

Veja só:

“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.”
A sábia raposa ensina o pequeno príncipe a compartilhar.
E explica-lhe que, apesar de existirem milhares de flores parecidas, a dele é única, e foi o tempo que ele dedicou a ela que a fez tão importante.
Cativar quer dizer conquistar e requer responsabilidade.
Responsabilidade por um amor, por um amigo, pelo talento que possuímos e pelo que conquistamos em nossa carreira profissional e pessoal.
Seja responsável pelas suas conquistas.
Valorize-se. Cuide do que você cativou.

Esta é a terrível fala da raposa, que só toca o coração dos "afetulosos"!!! O mais incrível é que ela fala em sermos responsáveis por nós mesmos... E eu, que só comecei a me dar conta do quanto eu me adoro depois de duas anestesias gerais! Pode?

Quer ver a fala dos outros personagens? Entre no site oficial, ele é bacaninha: http://www.opequenoprincipe.com/index.html

O engraçado é que eu só fui procurar por este site por causa da definição de "afetuloso"! E aí, encontrei o oficial dos oficiais: o francês. Eu não falo francês, mas o site é legal à beça. Uma boa recomendação para os afetulosos! Dá uma olhada: http://www.lepetitprince.com/fr/



Em especial, sugiro que você visite o link "Le Club", onde você vai encontrar um Concurso promovido pelo site só de Calligrammes... e eu nem sabia que isso tinha esse nome!!!

Adorei! Ah, se todas as crianças e adultos conseguissem entender este livro...

PS.: Ele vai muito além do universo das misses, viu? Obrigada por me lembrar que, quando criança, eu li e adorei este livro e não tenho vergonha disso!!!

PS2.: Já estou preparando o meu Calligramme, para postar aqui antes do Natal!

PS3.: O livro "El principito" em Espanhol também é muito bacaninha!

sábado, dezembro 01, 2007

Uma estrela e dos cafés

Este título singelo logo me atraiu e tirei o filme da estante disposta a levá-lo. Perguntei ao vendedor se era bom e ele me respondeu dando de ombros.

Já tinha virado hábito passar na "El Ateneo" toda vez que eu ia a Buenos Aires a trabalho. Dava sempre um jeitinho de dar uma corridinha lá para comprar alguma coisa. Desta vez, orientada e estimulada por minha professora de Espanhol, resolvi trazer DVDs. Escolhi dois, um espanhol e este, argentino, "Una estrella y dos cafes".

A sinopse não dizia muito do filme, mas eu resolvi arriscar. Conta a história de uma cidade distante de Buenos Aires, Purmamarca, que fica ao norte da Argentina, e cuja população não se parece em nada com a aristocracia portenha. Todos têm estereótipo andino, e aquele pelo maravilloso!


Vale à pena visitar o site do filme, depois de assistí-lo. Ligue o som, a trilha sonora é linda! Mas, voltando ao filme, ele é de uma sensibilidade impressionante. Aborda um tema não muito comum aqui pelas nossas locadoras - nem os filmes brasileiros, nem as super produções americanas tratariam do mesmo tema. Mostra a transformação pela qual passa uma menina de treze anos ao se apaixonar por um estranho, que chega a cidade, passa uma chuva e depois vai embora.

O cara jura para a esposa que não seduziu a menina, mas não há como negar que o modo como ele a tratou fez com que ela deixasse de se sentir menina e passasse a se sentir mulher. A menina muda com o comportamento cativante do cara.

Por isso, tome cuidado! Veja lá o que você faz, rapaz!

Conselho apropriado nesses nossos tempos, né?

sexta-feira, novembro 23, 2007

Tsunami

As coisas estavam mudadas. Era como se a Terra tivesse levado dois anos para dar a volta ao redor do Sol. O tempo estava meio congelado, lento, devagar.

Durante esse período, ela sofrera com as mudanças inconstantes das marés, alterando sua regulação hormonal. Esteve duas vezes muito próxima do outro lado: como o bêbado que entrega a sua vida ao desequilíbrio no parapeito do terraço no alto do edifício, ela entregara a sua ao mesmo anestesista, fornecendo-lhe uma aura mística que ele não pedira, mas insistindo em debater-se como alguém que é quase um "herói da resistência".

Se em momentos de maré alta, ela fortaleceu-se, revelando-se uma mulher guerreira e corajosa, nos de maré baixa, ela surpreendeu-se e quase entregou os pontos. Entretanto, agora ela sabia que a grande onda estava de volta, feito tsunami, a devastar com a sua energia o que encontrasse pela frente.

Parte de um oceano sem memória, mas imponente e inebriante, a onda dificilmente a reconheceria. Não se lembraria que havia passado por ela há dois anos e levado tudo que ela possuía, deixando-a viva para assistir à reconstrução do mundo. Ela se perguntava se seria poupada, se a ela seria concedido o direito de sobreviver à onda, a chance de ver o desastre e ser imune a ele novamente. Se, ao menos, sofreria menos ao ver a morte alheia.

Ela sabia que o medo paralisa, mas, como dizia Vinicius, era preferível viver que ser feliz. O ritual era sempre o mesmo, havia um toque de sedução no ar, um cortejo, como que se fosse a preparação para aquela iniciação. A onda era tão forte, tão poderosa, ao mesmo tempo devastava, mas deixava saudade. Ela sentia arder dentro de si a energia. Como se pedisse a sua volta.

O dia da grande onda estava quase chegando. Só ela, como uma das pouco sobreviventes, havia recebido os sinais, havia sentido sua presença. De repente, a lua cheia se firmou no céu, deixando a todos mais sensíveis e abertos às mudanças, criando um clima de quase devoção àquela luz. No horizonte, só se podia ver a retração do mar.

Ela parou em frente à praia e abriu os braços. A brisa da noite enluarada envolveu-lhe o corpo. Pisou a areia úmida e esperou.

E, em segundos, em pleno janeiro de Capricórnio, sem medo, sem dor, sem razão, ela que sempre sonhou com o mar, olhando para aquele paredão de água salgada, entendeu o mistério da vida...

quinta-feira, novembro 22, 2007

Infinito Particular

Infinito Particular
Arnaldo Antunes, Marisa Monte, Carlinhos Brown

Eis o melhor e o pior de mim
O meu termômetro o meu quilate
Vem, cara, me retrate
Não é impossível
Eu não sou difícil de ler
Faça sua parte
Eu sou daqui eu não sou de Marte
Vem, cara, me repara
Não vê, tá na cara, sou portabandeira
de mim
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular
Em alguns instantes
Sou pequenina e também gigante
Vem, cara, se declara
O mundo é portátil
Pra quem não tem nada a esconder
Olha minha cara
É só mistério, não tem segredo
Vem cá, não tenha medo
A água é potável
Daqui você pode beber
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular

quinta-feira, novembro 15, 2007

Os homens e seus barcos

Por que os homens constroem barcos? 'Navegando' pelas quase 50 mil fotografias de barcos disponíveis no Flickr, fiquei me perguntando o porquê dessa necessidade, quase uma obsessão, de construir barcos - e fotografá-los!

Barcos são os meios de trasporte mais comuns em praticamente todas as culturas - até para os índios eles são vitais! Aqui, eu incluo as canoas, os botes, as jangadas, os caiaques, os navios, os transatlânticos...

Os barcos servem aos homens para a prática de esportes e para a pesca, além de muitas outras funcionalidades. Mas, por trás deste artefato está o desejo desbravador, de conhecer outros lugares, vencendo rios e mares e descobrindo portos e marinas.


Como fizia o poeta, "navegar é preciso, viver não é preciso"! O que se vê numa carta de navegação é um caminho imaginário, uma rota intangível que viabiliza o desejo de ir de um ponto ao outro. Agora, experimente olhar para a linha do horizonte, deparando-se com o seu infinito particular, e me diga o que ves?

E o que leva os homens a abandonarem seus barcos? A descrença na existência de novos locais a descobrir, de novas paisagens a apreciar? Ou o medo da opressão desse inifinto que é a vida (ou você acredita que ela acaba depois que você morre)? Os barcos estão lá, esquecidos em alguma praia, entre algumas pedras, às vezes congelando, esperando por alguma nova estação ou pela maré cheia, batizados com o nome da mulher amada...



Mulher essa que espera seu homem regressar de sua aventura, dona do abraço mais gostoso do mundo...

segunda-feira, novembro 12, 2007

:: Paris

Meu amigo saiu de férias. Foi viajar. Deparou-se com Paris, em dia de pouco sol.

Tirou uma foto...


Fiquei imaginando o que mais ele viu por lá...

Mesmo sem sol, esta foto ficou linda...meu amigo é perfeccionista!

Desejo, necessidade, vontade...

Desejo (substantivo)
1. Ação de desejar; 2. O que se deseja; 3. Anseio, aspiração veemente; 4. Cobiça; 5. Apetite, vontade de comer ou de beber; 6. Apetite carnal, concupiscência. 7. Desígnio, intenção (Michaellis).

Necessidade (substantivo)
1. Aquilo que é absolutamente necessário; 2. Indispensabilidade; 3. Inevitabilidade; 4. O que não pode ser de modo diverso do que é; 5. O que tem de ser; 6. Fatalidade; 7. Impulso orgânico (Michaellis).

Vontade (substantivo)
1. A principal das potências da alma, que inclina ou move a querer, a fazer ou a deixar de fazer alguma coisa; 2. Capacidade de tomar livremente uma deliberação; 3. Energia, firmeza de ânimo, fortaleza e perseverança no querer realizar (Michaellis).

Você tem sede de quê? Você tem fome de quê?

Traduza-me!

"De lo que no cuesta, se llena la cesta..."

(dicho popular de España)

Babel

Entrou no cinema sem saber do que se tratava aquele filme. Não se lembrava de ter visto o trailer e o resumo que o jornal trazia era simplório, não dava detalhe algum. Havia gostado do título e acreditava na força da atuação da dupla de protagonistas. O filme era "Babel", com Brad Pitt e Cate Blanchett, e ainda contava de quebra com a participação do Gael García Bernal.

À medida que a estória ia se desenrolando, ela ia ficando assustada, enjoada, desconfortável com a realidade nua e crua das cenas que iam aparecendo na telona, se descortinando diante de seus olhos. Todas elas lhe faziam refletir muito, sem exceção...chocou-se com a cena das crianças marroquinas que, sem noção do perigo e sem pensar nas consequências, brincam com uma arma de caça... com o pai irresponsável que dá a crianças de dez, doze anos no máximo, uma arma daquelas... com a mulher que fica entre a vida e a morte num vilarejo esquecido no Marrocos, onde ela não tem a menor condição de ser atendida e salva de uma bala perdida...do marido que se sente impotente ao ver a mulher à beira da morte e ele pouco pode fazer para salvá-la...dos companheiros de viagem que não são nem um pouco solidários com o casal, principalmente com a mulher, e agem como se não tivesse nada a ver com aquilo...




Assistindo ao filme, ela se pergunta o que passou pela cabeça do roteirista ao escrevê-lo? Como pode um diretor fazer algo tão impactante como aquilo, sem usar quase nenhuma tecnologia? Ela já havia tentado assistir a outro filme do mesmo diretor Alejañdro Gonzáles Iñárritu - "Amores Perros" - sem muito êxito. Desistiu, justamente por ser forte demais!

Agora, estava completamente aturdida com aquelas cenas... com a babá mexicana que decide ir ao casamento de seu filho no México, levando consigo os dois filhos do casal que está do outro lado do mundo, no Marrocos, vivendo o drama de uma bala perdida... com o sobrinho da babá que decide abandoná-la com as crianças americanas à sua própria sorte no deserto depois que eles são descobertos pela polícia de emigração americana... com a polícia americana que deporta a babá sem permitir que ela retorne à sua casa para buscar tudo o que conquistou durante 16 anos de trabalho ilegal nos EUA - a razão para viver fora de seu país... com a adolescente japonesa que tenta suicídio por ser surda-muda e nunca ter tido um namorado... com seu pai, um homem viúvo, que cinco anos antes havia presenteado um guia camponês marroquino com uma espingarda de caça, que daria início a essa história...



O que a chocou neste filme foram os acontecimentos em cadeia. Mostra-se, com tintas muito fortes, uma verdade inquestionável: o que se faz num determinado ponto do planeta tem consequências indiretas num outro ponto qualquer, ou em mais de um. Mesmo que não nos demos conta disso, temos que ser responsáveis pelos nossos atos.

Ela saiu do cinema ciente de que havia assistido a um grande filme, que lhe havia marcado para sempre. Mas, ao contrário do que ela imaginava, a repercussão em seu país não foi grande. Ela colocou então mais um item nas listas a fazer: comprar o DVD de "Babel", para rever o filme.

E você já viu "Babel"? Se não, vá até a locadora mais próxima: alugue, assista e reflita.

sábado, novembro 10, 2007

Entreouvido por aí...

Como eu adoro esta coluna publicada na Revista de Domingo, do jornal "O Globo", estou anotando algumas pérolas aqui no blog...

Ontem, na hora de nos trazer os talheres, o garçom soltou essa:
"A ordem dos tratores não altera o viaduto..."

Alterava e muito, menino, ou você queria que nós tomássemos a sopa com garfo e faca?

A propósito, esse garçom deve ser um engenheiro frustado, né?

sexta-feira, novembro 09, 2007

:: Cinema :: Leões e Cordeiros

Estreou hoje no Rio de Janeiro o filme "Leões e Cordeiros". Fui ver. Muito interessante, este filme dirigido pelo Robert Redford, faz pensar. Não dá para sair do cinema com aquela sensação gostosa de estar "leve". Sobre a Guerra Norte-americana contra o "Eixo do Mal", a história leva a gente a se perguntar principalmente por que os Estados Unidos têm sempre que se meter em tudo. Recomendo, mas se você é "engajado", tome um antiácido antes. Veja aqui o trailer (http://leoesecordeiros.com.br/) e se inspire!

Antes do filme, paguei um super-mico! Fui convidada a fazer um vídeo de 15 segundos para a propaganda do celular Nokia que passou antes do filme começar! E fiz! Quando me vi na telona, pensei:"Ai, meu Deus, tomara que ninguém me reconheça depois!" Não é que uma moça me reconheceu na saída do Bistrô do Espaço Unibanco? Caramba! Meus 15 segundos duraram mais que alguns minutos!!!

Quando eu estava chegando em casa, crente que aquilo tudo já era suficiente por uma noite, vi um táxi rodar em quase 360 graus. Estava com passageiros... depois que controlou o carro, o motorista deu um cavalo de pau, e seguiu caminho.

Aí, vem cá, você não pedia pro cara encostar e descia do táxi? Que anjo da guarda poderoso esse!

quinta-feira, novembro 08, 2007

Família

Assistir pela televisão ao noticiário tem sido uma tarefa para lá de árdua. A gente vê cada coisa, que se assuta. Das últimas que vi, a mais chocante, com certeza, foi a queda do jatinho comercial que causou a destruição de uma casa onde estava toda uma família. Morreram oito pessoas, dois tripulantes do avião e seis membros da família. Sobrou uma menina de dezesseis anos, internada no hospital, que dizem ser autista. E seu cachorro (mais uma vez os animais, salve São Francisco de Assis!). Juro que fiquei pensando em como esta menina vai sobreviver sem os pais, sem sua família e sem sua casa.

Perdeu, literalmente, todas as suas referências.

Visitando o site do pintor espanhol Quintana Martelo, deparei-me com um quadro que retrata tudo o que é uma família...não preciso dizer nada...

A chuva, a união para vencê-la e se proteger dela, a mãe guiando os filhos, as sombras...simplesmente fantástico.

Bravo!

Pêlo marrom, olhos azuis

Pro cachorro não tem horário. Ele não segue convenções, nem estatutos. Teima em não ser educado. Não sabe, nem de longe, o que é "Lei do Silêncio". Não se importa com as tenras horas da manhã, nem com a calada da noite.

Se o deixam sozinho, ele chora. Chora muito. E uiva para a lua. Percorre a casa, desesperado, ora arranhando a porta, ora roendo a mesa de jantar.

Quando fica feliz, ele late. Late muito. E late alto, a plenos pulmões. Pula, salta, corre de satisfação.

Apesar de grande e bonito, o cachorro é novinho. Tem olhos azuis e pêlo marrom, de raça, um weimaraner. É tratado como um filho.

Ele é um bobo. E não é meu. Mas, eu até que gosto dele. Preciso descobrir o seu nome.

quarta-feira, novembro 07, 2007

Playmobil - trauma de infância

Eu adorava brincar de playmobil com a minha irmã, quando éramos crianças. Espalhávamos tudo pelo chão do quarto, tínhamos um monte de bonequinhos, mais a casinha, o saloon, a delegacia, o circo...



Depois de tudo montado, a minha irmã sempre me dizia: "não quero brincar mais, não!" Até hoje acho que isso é um trauma. Acho que ela gostava de arrumar as coisas, de construir, mas odiava vê-las prontas, talvez porque quisesse ver tudo sempre inacabado e bagunçado!

Que frustação!

Entreouvido por aí...

Hoje comprei minha segunda saia florida para o verão.



Na hora de pagar, ouvi a seguinte história:

"Estava naquele emprego faziam apenas dez dias. Odiei! Como já tinha um outro em vista, mudei e estou mais feliz. Demorei a aceitá-lo porque era longe, mas vai ser legal. Esse emprego parecia amargo como um jiló, eu demorei a comer, mas ao contrário do que se imaginava, no final, era doce!"

Essa moça não disse tudo? Não é filósofa?

terça-feira, novembro 06, 2007

O Barquinho


Dia de luz festa de sol
E um barquinho a deslizar
No macio azul do mar
Tudo é verão e o amor se faz
Num barquinho pelo mar
Que desliza sem parar...
Sem intenção,nossa canção
Vai saindo desse mar
E o sol
Beija o barco e luz
Dias tão azuis!
Volta do mar desmaia o sol
E o barquinho a deslizar
E a vontade de cantar!
Céu tão azul ilhas do sul
E o barquinho,coração
Deslizando na canção
Tudo isso é paz tudo isso traz
Uma calma de verão e então
O barquinho vai
A tardinha cai
O barquinho vai
A tardinha cai...

Quando foi a última vez que você experimentou pela primeira vez uma coisa diferente?

Depois de ouvir esta pergunta em uma propaganda de televisão, ela ficou a semana inteira se perguntando a mesma coisa, só que de formas diferentes: quais são os meus projetos? o que eu tenho vontade de fazer que ainda não fiz? o que me desafia? quem eu sou afinal?

As respostas para tudo isso não vinham, não surgiam, e ela ia ficando angustiada. Parecia que a sua vida tinha entrado numa monotonia sem fim, que ela não tinha ânimo para nada...não malhava, não dirigia, não podia comer quase nada, já que estava numa dieta infernal, não saía para dançar, não bebia... enfim, tinha pouco para contar... e tudo que ela sempre quis na vida era ter história!

Estava aos poucos aprendendo a gostar de si mesma, mas queria experimentar algumas novas sensações. Então, pegou um bloco e começou a fazer uma lista:

1 - voltar a andar de bicicleta - a de verdade, não a da academia!
2 - aprender a dirigir motocicleta - carro não é o lance dela!
3 - saltar de asa delta, parapente, pára-quedas, enfim, correr um certo risco!
4 - aprender a fazer escalada...
5 - conhecer algumas trilhas, do Rio e de outros lugares.
6 - visitar o Caribe Colombiano, que dizem que é lindo!
7 - aprender dança de salão!
8 - entrar para um curso de ourivesaria!
9 - escrever um livro...
10 - apaixonar-se, sem medo de ser feliz!

Achou que estes dez itens da sua lista já eram suficientes para programar 2008. Resolveu que não podia perder tempo, que ações tinham que ser tomadas, que aquilo tinha que deixar de ser desejo e passar à realidade. Afinal, só faltavam dois meses para 2007 acabar. Quem sabe ela não se descobria por ali.

Arrancou a folha do bloco e saiu correndo contra o vento, mas a favor do destino!

domingo, novembro 04, 2007

Lente

Lente
Arnaldo Antunes
Composição: Arnaldo Antunes / Roberto Frejat

Mudou a minha lente
De repente ficou tudo maior
Mudou a sua lente
De repente ficou tudo menor
Mudou a nossa lente
Ficou tudo do tamanho da gente

A lente não mente
Mente quem está detras da lente
A lente não mente
O objeto transparente
Me deixe ver o que sempre foi aparente

Mudou a minha lente
De repente ficou tudo diferente
Mudou a sua lente
Você estranha o que vê a sua frente
Mudou a nossa lente
Agora você vê e eu te vejo claramente

A lente não sente
Sente quem está detras da lente
A lente não sente
Objeto transparente
Me deixe ver qualquer coisa que eu invente

Depende do ponto de vista
Depende do ângulo certo
Deixa que eu vejo, observe
Um pouco mais longe
Um pouco mais perto
Mas vitrine é vitrine
Depende do ângulo certo
Às vezes me confunde
Às vezes nem define

Objeto trasparente
Me deixe ver qualquer coisa que eu invente

Segredo [4]

De uns tempos para cá, fiquei muito covarde. Principalmente, no que diz respeito às relações humanas. Quando não tenho certeza de que tipo de reação esperar das pessoas, não dou o primeiro passo,..., nem o último.

Tenho sido covarde até com a família, não telefono como medo de incomodar. Este medo de incomodar é que acaba incomodando, eu sei. Acho que a terapia não ajudou.

Esta insegurança me mata! O pior é que eu acho que poucos percebem.

Segredo [3]

Na época que eu era magrinha, roía as unhas. Elas eram horrorosas. Olhava as unhas vermelhas da minha avó e pensava: como eu queria ter as unhas iguais às dela!

Trabalhei para isso, fiz um esforço danado e passei a controlar o meu ímpeto de roê-las.

Hoje, minhas unhas são bonitas! Largas, estão sempre bem cuidadas e pintadas. Gosto de esmaltes claros e dos escuros. Eu mesma as pinto. Minha segunda profissão (fome, não passo!).

Outro dia, ouvi de uma amiga que minhas mãos eram lindas! Fiquei vaidosa!

Segredo [2]

Eu sempre fui muito magrinha. Naquela época, eu tinha inveja das meninas que tinham um corpo bem feito.

Procurei a cura: encontrei uma receita para engordar. Fiz tudo bem direitinho. Direitinho até demais!

Cheguei a ter o corpo que invejava durante um ano: tive até bunda bonita!

Hoje, neste corpo que mais parece a estrada Rio-Santos, com todas estas curvas, não me reconheço.

Tenho inveja das magrinhas.

quarta-feira, outubro 24, 2007

Segredo [1]

Você tem um segredo só seu? Qual é?... me conta!

Secret

Secret (Maroon 5)

Watch the sunrise
Say your goodbyes
Off we go
Some conversation
No contemplation
Hit the road

Car overheats
Jump out of my seat
On the side of the highway baby
Our road is long
Your hold is strong
Please don't ever let go
Oh No
I know I don't know you
But I want you so bad
Everyone has a secret
But can they keep it
Oh No they can't

Driving fast now
Don't think I know how to go slow
Where you at now
I feel around
There you are
Cool these engines

Calm these jets
I ask you how hot can it get
And as you wipe of beads of sweat
Slowly you're saying
I'm not there yet!
I know I don't know you
But I want you so bad
Everyone has a secret
But can they keep it
Oh No they can't

terça-feira, outubro 23, 2007

Despedida [7]

Sim, sim, já estou encerrando este tema...

Mas, falando em meu pai, lembrei-me dos dois anos de despedidas entre meu pai e minha mãe que presenciei...

Acredito que, para eles, devia ser muito difícil sustentar aquela situação. Para mim, que era pré-adolescente, ver meu pai despedir-se todos os domingos, e minha mãe triste em sequência, era algo que eu não compreendia bem, mas que me ajudou a amadurecer muito.

Depois de alguns anos desempregado e aceitando qualquer tipo de trabalho (vendedor de roupas, de uniformes, de carros etc.), meu pai finalmente havia conseguido um novo emprego na sua área. Mas, em São Paulo. Nós todas (minha mãe, eu e minha irmã) ficamos irredutíveis: não nos mudaríamos com ele para aquela cidade terrível (terrível por conta de uma fantasia nossa, afinal nenhuma de nós três sabia de fato o que era morar em São Paulo)... Ele então alugou um apartamento com uns colegas de trabalho e ficava todas as semanas na ponte rodoviária. Sim, porque o meu pai não ganhava o suficiente para viajar de avião. E o trato era que ele viria todos os finais de semana.

Quem me ouve contar não consegue imaginar o quanto ele chegava cansado e o quão duro era para ele ter que voltar para São Paulo no domingo à noite. Acho que, com o tempo, ele foi desistindo, aquele trabalho foi se tornando para ele um martírio...

Meu pai era um desenhista à moda antiga, daqueles que foram substituídos pelos "cadistas", na onda do AUTO-CAD dos anos 90. A cada despedida, minha mãe ficava rezando para que ele fizesse uma boa viagem, não fosse assaltado no ônibus, não sofresse um acidente, e depois tivesse uma boa semana, maneirasse na bebida (se bebesse) e se alimentasse direito... Eu ia para a cama da minha mãe, e dormia com ela de mãos dadas... às vezes, ela chorava. E eu deixava a minha irmã sozinha no outro quarto. Ficava preocupada, mas sabia que era muita preocupação para uma garota de 12 para 13 anos. Enfim, ninguém - nem minha mãe, nem eu, nem minha irmã, nem meu pai - merece isso!

Hoje, ele já não trabalha com desenho...não sei o que se passa pela cabeça dele. Nem na da minha mãe. Não sei se eles ainda se lembram desse tempo que vivemos. Ou se já passaram uma borracha nesse passado. Hoje, eu teria dado uma força para a família ir com ele. A gente teria ficado mais unido.

Mas sabe se lá o que o destino deseja para a vida da gente?

sexta-feira, outubro 19, 2007

Despedidas [6]

Apesar de antiga, e fazer mais a cabeça do meu pai do que a minha, tenho que reconher que a música é linda... segue a letra:


"Moon River"
music by Henry Mancini, lyrics by Johnny Mercer

Moon River,
wider than a mile,
I'm crossing you in style some day.
Oh, dream maker, you heart breaker,
wherever you're going
I'm going your way.
Two drifters off to see the world.
There's such a lot of world to see.
We're after the same rainbow's end--
waiting 'round the bend,
my huckleberry friend,
Moon River and me.

© 1961 Paramount Music Corporation, ASCAP

Despedidas [5]


Das últimas coisas que vi na TV que mais me emocionaram, está o episódio do "Sex and the City" no qual Big se despede de Carrie e muda-se de Nova Iorque para Napa, na Califórnia.

Quando me lembro do episódio, não consigo esquecer a emoção que havia naquela despedida e a forma como ela foi tão bem contada!

Os que acompanharam esta série maravilhosa e que aguardam ansiosamente pelo filme devem se lembrar que Big e Carrie estiveram apaixonados desde o dia em que se conheceram, num esbarrão no meio da rua, até o último capítulo.

Big sempre foi o milionário disputado de Nova Iorque e Carrie o conquistou justamente por ser quem ela é, sem jogos de sedução, nem armações. Tão simples, assim como eu gosto que seja tudo na vida.

Para o dia da despedida, Carrie planeja um encontro inesquecível, mas quando está com Big fazendo um passeio de carruagem pelo Central Park, é interrompida por um chamado de Miranda, que está dando a luz ao seu primeiro filho. É domingo, e o trabalho de parto demora muito, o que estraga de vez o programa de Carrie e Big. Apesar da alegria do nascimento do bebê, Carrie fica um tanto decepcionada por não estar com Big aquela noite.

No dia seguinte, Big está de viagem marcada para às 17 horas. Carrie ainda corre para encontrá-lo em seu apartamento, mas quando chega, se depara com a casa fazia e...

Duas mensagens... a primeira, presa a um LP de Henry Mancini, que contém a música "Moon River", adorada por Big por fazê-lo lembrar-se de seus pais. Big e Carrie haviam dançado esta música dois dias antes, em mais um dos breves momentos em que percebiam o quanto gostavam um do outro (veja a cena completa em http://www.youtube.com/watch?v=rLAGlh1GGlY). No papel preso ao disco, Big escreveu: "If you ever feel lonely".

Big deixou ainda um envelope, com uma passagem ida-e-volta para Napa, em nome de Carrie. Na segunda mensagem, escrita no envelope, Big foi mais direto: "If I ever feel lonely".

Precisa dizer mais alguma coisa?


Big e Carrie, "Sex and The City", último episódio da quarta temporada.
http://www.hbo.com/city

Despedidas [4]

Despedidas
Álvares de Azevedo

Se entrares, ó meu anjo, alguma vez
Na solidão onde eu sonhava em ti,
Ah! vota uma saudade aos belos dias
Que a teus joelhos pálido vivi!

Adeus, minh’alma, adeus! eu vou chorando...
Sinto o peito doer na despedida...
Sem ti o mundo é um deserto escuro
E tu és minha vida...

Só por teus olhos eu viver podia
E por teu coração amar e crer...
Em teus braços minh’alma unir à tua
E em teu seio morrer!

Mas se o fado me afasta da ventura,
Levo no coração a tua imagem...
De noite mandarei-te os meus suspiros
No murmúrio da aragem!

Quando a noite vier saudosa e pura,
Contempla a estrela do pastor nos céus,
Quando a ela eu volver o olhar em pranto...
Verei os olhos teus!

Mas antes de partir, antes que a vida,
Se afogue numa lágrima de dor,
Consente que em teus lábios num só beijo
Eu suspire de amor!

Sonhei muito! sonhei noites ardentes
Tua boca beijar... eu o primeiro!
A ventura negou-me... mesmo até
O beijo derradeiro!

Só contigo eu podia ser ditoso,
Em teus olhos sentir os lábios meus!
Eu morro de ciúme e de saudade...
Adeus, meu anjo, adeus!

Encontros e despedidas

Encontros e despedidas
(1985)
Composição: Milton Nascimento e Fernando Brant

Mande notícias do mundo de lá
Diz quem fica
Me dê um abraço
Venha me apertar
Tô chegando

Coisa que gosto é poder partir
Sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar
Quando quero

Todos os dias é um vai e vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar

E assim, chegar e partir
São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro
É também despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida ....
Lara lala lele e auê
Lara lala lele e auê

Todos os dias é um vai e vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar

E assim, chegar e partir
São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro
É também despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida ....
É a vida desse meu lugar
É a vida ....

Despedidas [3]

Será que a despedida tem a ver com a intensidade do desejo pelo outro para ser inesquecível?

Uma vez, há muito tempo, tive um amigo que era como um raio de sol para o grupo do qual fazíamos parte. Um dia, o grupo viajou e ele levou um monte de coisas que ele gostava. Aos poucos, durante o final de semana, ele foi distribuindo entre os seus amigos seus objetos mais queridos, dando um boné para um, uma camiseta para outro, uma fita K7 com a seleção de suas músicas preferidas para a namorada... enfim, foi deixando um pouquinho dele com quem ele mais gostava...

No domingo, três dos rapazes do grupo sofreram um acidente de carro... ele ficou em coma por uma semana e depois nos deixou. Foi a despedida mais inesquecível da qual eu me lembro.

Um dia, quando todos nós ainda sofríamos a sua perda, sonhei com ele. No meu sonho, ele aparecia feliz, de camisa florida (que ele tanto gostava de usar), no meio de uma festa, e me dizia para avisar ao rapaz que dirigia o carro que ele estava bem, e que era para ele não se sentir culpado, que a vida tinha que continuar...

Foi como se ele tivesse vindo se despedir de mim, e estivesse me usando como mensageira para confortar o coração do outro amigo que ele tanto gostava... até hoje eu não me esqueço do rosto daquele amigo, que perdemos tão jovem, aos 23 anos.

Contando esta história para outras pessoas, vi que muitos dos que morrem intuem que vão morrer...várias pessoas que conheço já passaram por situação semelhante. Estas despedidas costumam ser inesquecíveis.

E você, qual é a sua história?

segunda-feira, outubro 15, 2007

Despedidas [2]

Uma amiga acrescentou que a despedida é inesquecível quando a pessoa que se despede é alguém que tocou seu coração, que deixou uma grande marca... por um tempo, você e esta pessoa tiveram um grande encontro.

Não sei...será que é isso mesmo? Às vezes, o encontro foi grande só para você, aquela pessoa foi para você alguém muito especial, te disse coisas que fizeram refletir à beça, mas ela nem se deu conta disso...mesmo assim, a gente sofre de saudade só de pensar que ela está indo embora.

E o adeus fica pra sempre gravado na nossa mente como um momento inesquecível...

Despedidas


Bye, bye, so long farewell... Adeus também foi feito pra se dizer...

O que torna uma despedida inesquecível?

Um beijo dado no meio da rua, num lugar improvável, com um acerto de amanhã que nunca acontece...?

Um tchau por entre os lábios semi-cerrados de alguém que sabe que não vai voltar, mas que prefere te deixar no vazio?

Um papo meio amargo de quem te deseja "tudo de bom nesta vida", mas que já não quer que você faça parte da sua?

Pra você, o que torna uma despedida inesquecível?


quarta-feira, outubro 10, 2007

Olho por olho...

I
Desceu a ladeira de acesso ao morro apressado, arrumando a camisa, colocando-a para dentro da calça, pensando no quão arriscado era perambular pelo morro às 5 horas da manhã. Tinha pedido a autorização do líder do grupo que controlava o morro, explicado que precisava sair cedo de casa, que às vezes tinha que assumir o turno das 6... Eles consentiram que ele continuasse vivendo ali com sua família, mas ele ficava sempre inseguro. Pensava nas crianças, em todos os riscos que já teve que correr para garantir o “pão de cada dia”...

Era quinta-feira, ele trabalharia dirigindo aquele ônibus até às 13 horas e depois voltaria para casa para continuar a construção da segunda laje. Era cada vez mais urgente terminar o quarto das crianças porque a patroa já não queria mais sexo na frente dos meninos, que estavam crescidos.

II
Ao chegar na garagem, encontrou os colegas e logo veio o Silveirinha falando ao pé do ouvido para pedir favor. “Ô, Moreira, preciso da tua ajuda hoje... quebra o meu galho, eu tenho um lance pra resolver!” “Não dá, Silveira...eu tenho que trabalhar na obra lá de casa...hoje não dá...” “Pó, Moreira, cobre meu turno, vai! Me ajuda, só hoje...eu juro que não te peço mais nada!”

O turno do Silveirinha começava às 16 horas aquele dia. Dia de jogo do Flamengo com o São Paulo no Maracanã. O Moreira não queria encarar este evento, ele sabia dos engarrafamentos, dos problemas, das torcidas organizadas, das galeras que invadiam e pilhavam os ônibus... O Silveirinha insistiu, insistiu, o Moreira resistiu bastante e...por fim, acabou cedendo.

Nem bem conseguiu avisar à patroa que não ia mais voltar cedo para casa, Moreira teve que assumir o volante do 433 – linha Barão de Drummond – Leblon – com um sorriso falso nos lábios e toda a paciência do mundo. Já estava na hora.

III
O dia foi comprido, parecia não passar. Moreira tinha muita competência em fazer seu trajeto no tempo estipulado pela empresa. Quase nunca havia sido advertido por este motivo. Aproximava-se a hora do jogo: 20:30h. Era incrível ver como a cidade ia parando. A Zona Norte, então, parecia que ia dando um nó. Moreira respirava fundo, enchia o peito de ar, pensava na patroa, nas crianças...

Passando pelo Estácio, Moreira sentiu um calafrio. De repente, um grupo de cinco crianças, de 9 a 15 anos, camisas do Flamengo por baixo de um uniforme municipal surrado, entraram no ônibus. Transformaram aquela viagem num aquecimento para o grande jogo. Aliás, naquele dia, todos pareciam estar em função do jogo. Afinal, era um dos lanternas contra o líder isolado do campeonato. David contra Golias, que era apoidado pela maior torcida do Brasil.

IV
O ônibus que Moreira dirigia naquele dia não era muito sofisticado, não tinha ar condicionado, mas era novo, devia ter no máximo dois anos e meio, se ele não tinha errado nas contas. Havia pouco tempo que a empresa tinha renovado a frota. Mas, era um “quentão”, como o povo chamava. Num engarrafamento como aquele, Moreira deixava as portas abertas, contrariando a recomendação da empresa de só trafegar com as portas fechadas. Grande erro esse seu.

Com aquele bando de crianças dentro do ônibus, era de se esperar que elas fossem inventar alguma coisa para passar o tempo. E criança adora brincar com o perigo. O líder do grupo, Quinzinho, decidiu que a onda era viajar pendurado na porta, segurando as alças de apoio da escada traseira. Foi rapidamente seguido pelos demais, que se alternavam na brincadeira perigosa. O vai-e-vem na porta e a algazarra começaram a perturbar os demais passageiros, que volta e meia viravam-se apreensivos para o fundo do ônibus. Afetaram também ao trocador e ao próprio Moreira, que já não sabia mais se concentrava sua atenção no trânsito engarrafado ou no que estava acontecendo dentro do ônibus.

De repente, como se encontrasse uma solução para o problema, e vendo o engarrafamento se dissipar a sua frente, Moreira decidiu fechar as portas. “Pronto, resolvi. Acabou!”

V
No meio do barulho de buzinas e roncos nervosos de motores daquele grande engarrafamento, Moreira então passou a ouvir gritos. “Meu pé, meu pé! Meu pé ficou preso! Ai, meu pé! Solta o meu pé!” “Moço, abre a porta, solta o pé dele, moço!” Os gritos passaram a ser cada vez mais altos, acompanhados de murros nas laterais do ônibus: “Motorista, abre a porta! Solta o meu pé! Meu pé ficou preso, motorista!” Moreira não queria acreditar que aquilo estava acontecendo, que um dos meninos havia ficado com o pé preso na porta.

Aos poucos, todos começaram a gritar e a esmurrar as laterais do ônibus. Os passageiros gritavam que era verdade e pediam que o Moreira, atônito, abrisse a porta do ônibus. Ele, numa espécie de transe, se levantava repetidas vezes para se certificar que aquilo estava mesmo acontecendo, sem, contudo, fazer o que as pessoas pediam, abrir a porta.

VI
O pé esquerdo do menino já estava ficando roxo quando o trocador gritou para o Moreira: “Porra, Moreira, abre a merda da porta! Agora!”

Solto daquela ratoeira, o pequeno e enfurecido líder do grupo resolveu que o ataque merecia uma vingança. Nestas horas, não se sabe como, sempre aparecem paus e pedras para servir de instrumentos para depredar e ferir. Moreira esperou pelo pior, como se o calafrio que sentiu já lhe tivesse avisado de que algo ruim fosse acontecer.

Janelas quebradas, pára-brisas rachado, laterais amassadas, passageiros aterrorizados...esse era o quadro que aquelas cinco crianças estavam pintando para Moreira.

VII
“Porra, Moreira, você está lesado? Por que demorou tanto a abrir esta porta?”, bradou o trocador, já recolhendo a féria do dia e pulando do seu assento, para encolher-se no corredor do ônibus.

Os passageiros então começaram a engrossar o coro do trocador. Um homem, de aproximadamente quarenta anos, partiu para cima do Moreira, questionando-lhe porquê ele havia exposto a todos daquela forma. Assustado, Moreira viu que, mesmo que ele não tivesse feito aquilo de propósito, não tinha aliados naquele ônibus. Ao contrário, já havia sido julgado, condenado, e só Deus sabia qual seria a sua condenação.

Pensando em levar o que sobrara do ônibus até uma delegacia de polícia, Moreira não percebeu que os passageiros se aproximavam dele com ganas assassinas.

VIII
Para sua sorte, uma patrulhinha se aproximava do local e seus ocupantes, dos policiais das antigas, conseguiram evitar o linchamento. Muito machucado, Moreira foi conduzido à 18a. DP, sem a companhia de seu colega trocador, que já tinha sumido muito antes deste desfecho.

O Flamengo venceu o São Paulo com um inexplicável 1 x 0. Segundo os comentaristas, foi a força da enorme torcida que empurrou o time.

Moreira havia acabado de sentir na pele a força de outro grupo. Todo o seu corpo doía. Já eram mais de onze horas da noite quando o delegado liberou Moreira para seguir para a garagem da Companhia com um Registro de Ocorrência que relatava a depredação e o quase linchamento.

IX
Chegando à garagem da empresa, Moreira não percebeu dois homens do outro lado da calçada, observando seus passos.

Entrou, procurou o supervisor, entregou-lhe o RO e, envergonhado, contou-lhe o que acontecera ao ônibus. Teve que ouvir, mais humilhado, as repreensões do homem e, por fim, perguntou se podia ia para casa. Seu dia derradeiro estava quase no fim.

Ao fechar o portão de ferro atrás de si, Moreira sentiu uma mão em seu ombro e ouviu alguém perguntar: “Moreira, do 433?” Foi o tempo de se virar para o sujeito e sentir um tremendo ardor queimando o pé esquerdo: um tiro dilacerante, de armamento pesado. Nem teve coragem de olhar para seu pé.

O homem que lhe chamou ainda riu, enquanto o outro jogou-lhe um bilhete.

“Da próxima vez, pense rápido, seu Mané! Ass. Quinzinho”

domingo, setembro 02, 2007

A casa da minha mãe

Hoje estive lá. Depois que me casei, demorou um tempo para que eu parasse de chamar aquela casa de minha casa. Voltar lá e não me encontrar sempre me pareceu improvável. Foi lá que vivi a maior parte da minha vida, que sofri por meus amores fracassados, que recebi meus primeiros buquês de rosas, que chorei, que estudei, que fui feliz, que me refiz.

Hoje aquela casa já não é mais a minha casa. Não tem mais os meus sinais, não tem mais nenhum rastro meu. Naquele quarto em que vivi por tantos anos, nem o meu velho armário se parece com o meu velho armário de guerra. As minhas roupas nem caberiam mais naquele espaço...

Na minha casa, é tudo tão diferente... e ao mesmo tempo, tão igual. É daquela casa a maior parte das referências que pontuam a minha casa.

Por que a minha casa é o meu lar... lar...

sexta-feira, agosto 31, 2007

A Moebius strip

Five years. There she was, alone again. After five years of a solid relationship, Valentina was – not-naturally – alone. And she didn’t know what to do. She was totally lost. When she looked back, she didn’t find the reasons that lead to that break-up. She knows that she had something to learn with that so fool-end, but what? And much worse than this was to look ahead and not knowing what to do and how to re-start. Why now if everything seemed to be ok?

During that time she spent with Peter, she passed through moments of hapiness, but also, through moments of a completely loneliness, even when they were together. It was always too uncomfortable, but now, time has changed and she was feeling actually abandoned. In those moments with Peter, she felt that he didn’t know her and also what she wanted. Now alone, she was in a more terrible situation: it was like she didn’t know herself.

Maybe it was just a case of therapy. She should ask for a meeting with her therapist, talk about her feelings, fears and any sort of silly stuffs she could think about that email. Yes, my dear, it’s true: he broke up by sending me an email. Few words, but a lot of poverty. She knows that the best medicine to this kind of problem was talking about, speak with someone who could listen and help to understand all the whys involved. However she feels a kind of inactivity; she didn’t manage even to hang up the phone.

Her life was not simple and she spent a lot of years to understand that things would not come easy to her. Some of the most important men of her life gone away in an un-waited unwanted way, without any signs. Some times, she felt like being in a Moebius strip, with no beginning and no ending, like a curved road. The fact was that she was not prepared to that separation.

She had made a lot of plans for their future, she had talked about all of them in details to him, she had reserved money to implement them, and he did not say anything. In what moment he had changed his mind? She couldn’t notice his change… she couldn’t notice anything.

She knows that Peter was important to her for a lot of reasons, for being her best friend, for being her support in the most difficult moments, even contributing with money when she needed, helping her to pay for the apartment she was living now. Peter was a good man, polite, fair, honest, but a little selfish and self-centered. Sometimes, she could feel that he didn’t need anyone else to be happy, just himself, his CDs, his DVDs and books. He was so material! He was not a person who enjoyed going out in a Saturday night to see and be seen. And she feels like he wouldn’t ever change his behavior. Most of those times, Valentina feels like having stolen moments.

What am I to him?, Is he ashamed to go out with me?, she asked herself a lot of times. She loved him a lot, exactly the way he was, with all those qualities and faults. But it has been a hard job to stand by all those strong characteristics, without complaining, and having to say yes to some unacceptable things. She used to imagine him looking at her like a mother or a courtesan, even like a sister, but never as a lover, as his lover. Why it was so hard to him to love me in the way I wanted? Why it was so difficult to him to look after me, to show me that he was concerned about me? Why is so important to me to find an answer to all these questions?

Valentina was now a 35 year-old woman, with no marriage, no babies, and no expectations for her future. It was time to be an easy rider, time to be free, to meet a lot of new people, to see a lot of new movies and plays, to find new places to go, to look for new friends and also for the oldest ones, to take care of herself, to spend her now big earnings. She knows everything about the magic formula to forget a man, but it seemed to be impossible. Not that man, my man.

Each time Valentina started to think about the whys and all that stuff, Peter seemed to be even more special to her. With a little detail: he was the man that broke up with me by email. He has been coward since then. He didn't give her a single call. He didn't appear to talk, to explain his decision, to tell her his reasons. He made nothing.

She tried to be with any sort of people, she also tried the new way of meeting: the blind date. And it was terrible. Even though she knew that she had to be patient, as long as the time was going by, Valentina felt that hers was ending. Just five years have passed, how can things change so much? What are the new codes? How can I see a man and notice that he is interested on me? How can I establish contact?

One day, when she didn’t expect anything else from Peter, he appeared in her front door. It was another silly situation she wasn’t prepared to face. Knoc knoc knoc. Valentina, are you there?, he asked loudly. Valentina couldn’t answer, she didn’t know anymore if her feelings were the same they were before. Valentina, will you not open this door? , Peter seemed to know everything he wanted now. Valentina opened the door and gave her back to him, walking toward the window in the wall in front. She was not prepared to that, but she could listen to him.

Valentina, I thought a lot about us… I'd like you to forgive me… I want to come back home; I need to be with you, in your life. Is it possible to think about my proposal? May I come back? Are you hearing? You’ve to remember our love, our good moments. I know you must be sad about the way I left, but I was afraid of not being as good as you wanted me to. Can you forgive me?

What seemed improbable finally happened. He was there, asking, needing, begging. Valentina didn’t have any reaction, didn’t say any word, didn’t look at his face. Peter left in the same way he arrived: fast. Valentina felt reborn. She had learned. She forgot him.

sexta-feira, julho 27, 2007

Um pouco de coragem...

I
Eram exatamente cinco horas em ponto quando ela desceu a plataforma do metrô. Teve tempo de olhar o relógio, pois o trem acabara de partir e ela já sabia, por experiência, que, naquele horário, um novo trem levaria cinco minutos para chegar. Enquanto isso, ficou se distraindo com os detalhes daquele ambiente antigo, talvez porque aquela tivesse sido uma das primeiras plataformas a serem construídas na cidade. Duas escadas, lado a lado, lajotas retangulares de cor creme, a mesma música clássica de sempre, piso emborrachado negro, duas vias paralelas, uma para o trem que segue em direção a Zona Sul, outra para o que vai para a Zona Norte.

Já se iam oito meses que eles estavam separados. A saudade, que em alguns dias era maior, noutros menor, naquele chegava a doer. Ela ficava se perguntando: "será possível perdoar alguém sem que seja possível esquecer o que esta pessoa lhe fez"? Ela sabia que o que havia feito a ele tinha sido muito grave, aos olhos dele, e que dificilmente, ele conseguiria passar uma borracha sobre tudo que aconteceu e aceitá-la de volta. Mas isso era exatamente o que ela mais desejava, o que ela pedia a Deus todos os dias, um perdão. Depois do relacionamento que tivera com ele, ela tentou outros relacionamentos furtivos, bobos até, sem maiores conseqüências. Alguns serviram para provar que ela ainda era muito boa de cama. Outros se tornaram entediantes, já que o diálogo, quando existia, era de péssima qualidade. Enfim, nada, nem ninguém, conseguia tirá-lo de dentro dela... E ela estava cansada de tentar esquecê-lo, de tentar descobrir uma fórmula para esquecer um grande amor com outro amor (não era isso que suas amigas sempre lhe diziam?)...

Pensando nisso tudo enquanto olhava para aqueles cartazes de propaganda que enfeitavam (ou enfeiavam?) a parede da estação, percebeu que o trem, que seguia para a direção oposta a que ela pretendia seguir, aproximava-se da estação praticamente vazio. Nem parecia que eram cinco da tarde (cinco e três, para ser mais precisa). E ele estava lá, dentro do vagão que estacionou em frente a ela. Sozinho, de costas, de pé. De pronto, ele não a viu, mas como se tivesse sentido a sua presença, virou-se na direção dela. Quando descobriu ela ali, do outro lado da estação olhando para ele, ficou sem ação, sem graça, e abaixou a cabeça. Depois, a levantou ligeiramente, olhou novamente para ela e sorriu com o canto da boca, meio sem saber o que fazer. Ela, emocionada, queria fazer um gesto qualquer, queria pedir a ele que lhe telefonasse, mas, ao contrário, nada fêz. Continuou de pé, olhando para ele, sentindo seu coração acelerar e temendo que, a qualquer momento, ele pudesse sair-lhe pela boca. O trem fechou as portas e começou a acelerar. E foi sumindo dentro do túnel escuro.

Cinco e quatro. O trem dela começava a aproximar-se. Ela já estava atrasada para o seu compromisso, mas, mesmo assim, assistiu ao trem chegar a plataforma, abrir as portas, deixar passageiros, receber novos deles, e partir. E continuou imóvel, torturada por sua total falta de ação. Uma lágrima escorreu pelo canto dos olhos e ela tentou disfarçar para que não vissem que ela estava chorando. A maquiagem borrou um pouquinho, mas ela logo conseguiu consertar a “máscara”. "Como alguém que quer tanto uma chance pode deixar que ela escape assim, por entre os dedos"?

Cinco e oito. Um novo trem se aproximava. Recomposta e decidida a aproveitar a próxima oportunidade, ou a descolar uma para dar uma ajudazinha no destino, ela resolveu que iria seguir neste trem, pois seria de muito mau gosto deixar suas amigas esperando.

Quando a porta se abriu, lá estava ele, de pé, olhando para ela. Estendeu-lhe a mão, praticamente pedindo que ela entrasse no vagão. Havia descido na estação seguinte, retornado e ficara torcendo, no seu íntimo, para que ela não tomasse a composição que aparecesse imediatamente, dando-lhe tempo de chegar ao seu encontro. Aquele tempo longe dela havia sido muito difícil para ele também e ainda doía muito saber que ela o traíra com um antigo namorado, ainda mais por ter sabido da história por ela mesma.

Ela entrou no vagão e ficou olhando para ele. “Para onde você está indo?”, ele perguntou. “Para a estação do Flamengo, encontrar com a Lúcia, a Bella, a Renata e a Malú, lembra delas?”. “Claro que sim”, ele fitou seus olhos, “então temos alguns minutos para conversar”... “Que bom que você voltou”, ela lhe disse, ainda emocionada... “Estava indo para casa?”. “Não, não moro mais por aqui. Estava vindo apenas checar se havia alguma correspondência para mim com o porteiro. Mas, posso fazer isso outro dia”. A respiração dele também estava bastante ofegante. “Como você está?”, ele sussurrou para ela. “Na verdade, estou indo. Está tudo na mesma. Continuo com o mesmo trabalho, no mesmo apartamento, saindo com as mesmas amigas. Mas, sinto muito a sua falta, esse sentimento é novo”, ela respondeu em tom confessional. “Será que não poderíamos tentar ser amigos? É muito difícil?” “É! Você nem sabe quanto!”, ele retrucou.

Então, eles ficaram um bom tempo se olhando, como se ali não houvesse mais ninguém, ignorando o vai-e-vem das portas, como se quisessem fazer algo que não pudessem. Como se o certo fosse errado e o errado fosse o mais certo possível. Estavam tão próximos, que ela podia sentir seu hálito quente, seu perfume fresco e agradável, amadeirado, sua respiração. Ele estava suando frio, podia perceber. Olhava para ela como que se quisesse lhe dizer alguma coisa, mas não disse.

Ela respirou fundo e pediu: "Se você mudar de idéia, me liga?" "É claro", ele respondeu. Ela então beijou-lhe o rosto e desceu na estação do Flamengo, deixando um ex-namorado para trás, visivelmente perturbado com o encontro.

II
Encontrar as amigas era um costume freqüente de Rafaela. Pelo menos uma vez por semana, em geral aos sábados, elas se encontravam para fazer um lanche e colocar o papo em dia. Na maioria das vezes, conversavam sobre namorados ou potenciais namorados. Às vezes, sobre “ficantes”. Esporadicamente, sobre trabalho. Elas eram amigas há muito tempo, desde os tempos da faculdade. Cada uma tinha seguido o seu caminho. Não trabalhavam na mesma empresa, mas tinham mantido a amizade. Quanto mais o tempo passava, mais elas tinham a certeza de que tinham umas as outras.

Rafaela parecia um pouco distante para as amigas naquele dia. Apesar de ser a mais tagarela, ela pouco abriu a boca. A conversa foi entremeada por “hum, hum”, “hã, hã” e outros murmúrios, e ela sequer chegou a emitir sua opinião quando Bella contou ao grupo que estava pensando em largar o emprego para cuidar exclusivamente da casa, do marido e das crianças, uma atitude impensável para Rafaela tempos atrás, quando ela teria sido a primeira a bater boca com a amiga, alegando que isto não era atitude digna de uma mulher do século XXI. Elas eram “balzaqueanas” agora, sentiam o peso da idade, mas adoravam ter a experiência que os trinta anos traziam.

Rafaela estava longe. Só conseguia pensar no encontro com Cezar, em como ele a havia olhado, em como ela gostaria de ter lhe abraçado e confessado que ainda o amava, correndo o risco de ser novamente desprezada por ele. Pensava também se deveria contar para as amigas sobre o encontro no metrô, por um lado temendo pela reação delas, por outro, querendo um conselho, uma direção, uma palavra que lhe servisse de amparo.

O lanche não se estendeu muito naquele dia, porque, coincidentemente parecia que todas elas tinham mais o que fazer. As amigas se despediram e Rafaela resolveu que ia andar até o Museu da República, para espairecer e pensar um pouco. No caminho, pensava se Cezar ia conseguir perdoá-la e telefonar para que conversassem um pouco mais. “Mas como perdoar, se ele não consegue esquecer?”, ela se perguntava. E ela, será que já tinha se perdoado pelo que tinha feito? Por que às vezes temos a impressão de que o desejo sexual por uma pessoa é mais forte do que o amor que sentimos por outra? Por que as pessoas não pensam nas conseqüências antes de agir por impulso?

Chegando ao Museu, percebeu que ele estava fechado. Os funcionários estavam em greve, já há dois meses, e Rafaela havia esquecido completamente deste detalhe. Não lhe restou muita opção a não ser tomar novamente o metrô em direção a Tijuca. Talvez tivesse vontade de andar um pouco mais e descesse no caminho.

III

“Por que é tão sério quando o traidor é a mulher, e tão mais fácil de aceitar quando quem trai é o homem?” Rafaela sabia que essa sua pergunta podia ser vista como uma tentativa desesperada de se desculpar, ou de minimizar o problema, mas o fato era que a sociedade perdoava mais facilmente um homem que trai do que uma mulher que o faz.

Ela foi para casa e ficou pensando no encontro, pensando em quantos dias Cezar ia levar para tomar uma atitude e telefonar, pensando se Cezar ia tomar uma atitude qualquer, ou se virar a página daquele relacionamento tinha sido a sua primeira e irreversível decisão. Lembrou-se do quão difícil fôra definir que o relacionamento que mantinham era um namoro. Ficaram juntos dois anos até começar a dizer para os amigos que estavam namorando. Disseram-se amigos por muito tempo e quando assumiram seu relacionamento, sentiam que já se conheciam muito bem. Ela sabe o quanto deve ter feito Cezar sofrer com aquela revelação, já que tudo ia bem, que eles estavam bem, se gostavam, se curtiam, saiam bastante e ele não havia notado nada de diferente nela. Nem ela sabia como ele não havia notado nada de diferente nela. Talvez ele simplesmente não quisesse notar que ela estava diferente e distante no final.

IV

"Por que razão eu não percebi que estava acontecendo algo no final do nosso namoro? Ouví-la confessar que me traía foi pior do que descobrir por mim mesmo, me mostrou o total desconhecimento sobre aquela mulher, aquela que eu dizia que amava, aquela que eu achava que conhecia bem, que queria para mim, para o resto da minha vida". Do outro lado da cidade, Cezar estava pensando, pensando, pensando em Rafaela, desde a hora em que ela se despediu dele com um beijo no rosto e ele ficou desejando que tivesse sido na boca, quente, molhado, como era antes.

O que era adequado fazer nestas situações? Encarar o fato de que ele ainda não estava preparado para viver longe dela ou suportar a dor da saudade e evitar os reencontros? Como afinal aquele encontro casual fôra acontecer? Por que, de fato, ele havia decidido voltar e encontrá-la? Por que ele teve tanta certeza de que ela estaria lá, parada, aguardando o próximo trem? Será que ele estava preparado para ser só amigo?

V

Quando o telefone tocou três vezes e parou, Rafaela percebeu que teria que ser rápida na próxima vez e atender. Era o Cezar do outro lado, ela sabia, e ele poderia desistir, se ela não atendesse rapidamente.

O telefone tocou novamente e ela imediatamente atendeu. "Alô!", disse afoita. "Alô! Rafa, é você?" Bingo! Era ele. Dois dias haviam se passado até que algo mudou. Ele ligou. Parecia que ele tinha muito pouco a dizer, mas muito para falar. E queria ouvir também. "Vamos nos ver?", ele pediu. "Claro, onde?" "Olha, abriu um bistrô muito simpático aqui perto de casa, na Rainha Guilhermina, a gente pode se encontrar na esquina da Rainha com a General San Martin, você conhece?" "Conheço, te encontro em 40 minutos, pode ser? É o tempo de me arrumar e tomar um taxi!" "Pode. A propósito, o que você está escutando? É a Norah?" "É, 'Come Away With Me', seu disco favorito, lembra?" "Lembro. Engraçado, eu não escuto este disco desde que a gente se separou!"... "Eu também não o escutava há bastante tempo, mas hoje me deu vontade de ouvir 'Turn me on'. Você lembra como eu gostava de transar com você ouvindo esta música?" "Lembro... mas vamos deixar para conversar pessoalmente? Estou te esperando! 40 minutos. Não se atrase. Beijo".

Quando ela desligou o telefone, nem acreditou que aquilo tinha realmente acontecido. "Será que estou sonhando?" Então, ela começou a travar uma batalha muito pessoal: "com que roupa vou a este encontro?" Não tinha muito tempo, tinha sido muito otimista em dizer que conseguia chegar lá em 40 minutos. Começou a se lembrar do que a fazia sexy para Cezar, antes daquela confusão toda com Marcelo. Depois, lembrou-se de que o que ele mais apreciava era o seu jeito natural, pouca maquiagem, roupa confortável, cabelos molhados. Foi por este caminho. Escolheu uma roupa confortável e caprichou nos acessórios...e pôs um bom perfume. Ligou para a cooperativa de taxis que fazia ponto próximo a sua casa e pediu um que tivesse ar condicionado, para os próximos 10 minutos.

Quando o taxi chegou, viu que o motorista já era seu velho conhecido. Ele já a tinha visto chorar várias vezes dentro daquele taxi nos últimos oito meses, e naquele dia, pôde perceber que ela estava feliz. Ansiosa, mas feliz. Pediu que a levasse para a esquina onde haviam combinado o encontro, e que fosse pelo caminho mais curto, pelo amor de Deus, que ela não podia se atrasar. Ele até quis perguntar o que havia acontecido para trazer àquele rosto um novo sorriso, mas acabou achando que seria muito atrevimento. Ela seguiu calada até o final da viagem...sonhando acordada com o que iria acontecer.

VI

"R$ 45,00? Nossa, essa 'bandeira dois" é cara mesmo, heim? Toma, pode ficar com o troco. Valeu! Até a próxima!"

Ao chegar a esquina de General San Martin com Rainha Guilermina, nada do Cezar. Já havia se passado 50 minutos. Ele não poderia estar atrasado, já que disse que esta esquina ficava próxima a sua nova casa. "Quem diria, ele que dizia que nunca moraria na Zona Sul, veio parar logo no Leblon?"

Ficou andando de um lado para o outro, olhando as vitrines do Shopping e nada do Cezar. "Será que ele desistiu de me esperar e foi embora?" À medida que o tempo ia passando, ela ia se angustiando cada vez mais. Afinal, resolveu tentar o celular dele para ver se algo havia acontecido.

VII

"Alô, Cezar? Sou eu, Rafa, cadê você? Desistiu de me esperar?"

Cezar estava olhando para ela do outro lado da rua há uns 20 minutos, em pé, no balcão de uma lanchonete, tomando coragem para atravessar. Ver aquela que fora a sua mulher descer do taxi e ficar andando de um lado para o outro na maior ansiedade, deixou-o ainda mais confuso e inseguro. Ele tinha demorado tanto tempo para tirá-la da cabeça, não podia ser tão tolo de tentar recomeçar aquela história agora. Por que será que seu coração era tão insano?

"Oi, Rafa, não, não desisti, não! Estou chegando, é que eu tive um imprevisto. Me espera cinco minutos". Pagou a conta e atravessou a rua. Foi tão descuidado que quase foi atropelado, mas ela sequer percebeu a confusão.

"Rafa"..."oi, cheguei". "Oi, Cezar, que bom que você veio." Os dois se cumprimentaram educadamente, formalmente até, e foram caminhando lado a lado pelas ruas do Leblon, em direção ao tal bistrô. Cezar havia escolhido um lugar tranqüilo para que conversassem, mas sabia que a conversa não ia ser fácil.

"E então, agora você acredita que podemos ser amigos?", perguntou Rafaela. Cezar balançou a cabeça negativamente, para surpresa dela. Depois de pensar um pouco, ele respondeu: "Eu nunca quis você para minha amiga, nem na época em que nos dizíamos amigos para os nossos amigos". Então foi Rafaela que não soube o que dizer ("O que ele quer com este encontro, afinal? Me pregar um sermão? Me culpar novamente por tudo o que aconteceu?").

"Então... o que vai ser?", perguntou o garçon. "Para mim um capuccino, para ela, café expresso, com creme. Adoçante, por favor", Cezar tomou a liberdade de pedir, visto que sabia de cór o que ela gostava de beber. "Você vai querer comer alguma coisa? Aqui eles têm umas empanadas deliciosas, fora as tortas". "Não, obrigada, estou tentando uma dieta agora".

"Bom, eu liguei para você por que acho que tínhamos que conversar. Depois que nós terminamos, não tivemos mais a chance de conversar. Naquele nosso encontro no metrô, senti que estávamos precisando de perdão. Eu precisava te perdoar pelo que você fêz, precisava me perdoar pelo que eu não fiz, precisava nos perdoar por não termos insistido e por termos desistido tão facilmente... O fato é que eu achava que você era a mulher da minha vida. E achava que o Marcelo era um amigo, ele não podia ter feito isso comigo, nem com você... Aliás, por que vocês não estão juntos agora? Não era o que ele queria?"

"Não, não era. Ele só queria provar que, apesar de estar com você, eu ainda gostava dele. Só isso", respondeu Rafaela, meio envergonhada com a pergunta.

"E era verdade? Ele conseguiu o que queria, não foi?"

"Não, o que eu sentia por ele era algo inexplicável, até para mim. Mesmo sabendo que aquilo não daria em nada, visto que não deu por cinco anos, eu não consegui resistir a ele, não consegui ser mais forte do que ele, e sucumbi ao desejo"... "Mas eu estava muito bem com você, muito melhor do que estive nos cinco anos que estive com ele, tenha certeza disso."

"E depois ele te dispensou?", perguntou Cezar.

"Não, nós dois chegamos a conclusão de que aquilo era novamente um erro. Muito rapidamente percebemos o tamanho da besteira que estávamos fazendo. Mas, para mim, já era tarde demais"... "Depois, conversando com o André, fiquei sabendo o quanto você havia sofrido. Foi tanto, que eu não pude acreditar. Você foi tão frio quando eu te contei o que estava acontecendo... realmente, acho que você merece um Oscar por sua atuação...eu não percebi que aquilo estava te afetando tanto, não percebi mesmo"... "Mas, eu nunca achei que o Marcelo não era nosso amigo...ele é apenas um cara egoísta e egocêntrico, e sempre vai pensar nele primeiro"...

"Então não serve para meu amigo. Aliás, eu me mudei para cá para começar de novo, fazer novas amizades, me livrar daquela perspectiva insana de esbarrar com vocês a qualquer momento"...."Estou gostando, morar perto da praia é realmente um luxo. Faço caminhadas todos os dias."

"É, você está muito bem, em ótima forma".

De repente, o que ela temia aconteceu, um tremendo silêncio se estabeleceu entre eles. Ela mal conseguia olhar nos olhos dele e ele estava ali, quieto, bebendo o capuccino, sem dizer palavra. Minutos depois, ele perguntou se ela não queria continuar a conversa no calçadão. Ela não estava em condições de discordar, queria apenas que aquele encontro se perpetuasse, que fosse para sempre.

Era inverno, estava frio. Ele passou o braço por suas costas, como fazia quando eram namorados, e, quase que automaticamente, enrolou o dedo em seus cachos, devagarinho. Ela sentiu uma sensação tão acolhedora, ele ali, o mar, um dia de sol fraquinho e um pouco de vento, a paisagem perfeita. De repente ela parou de andar, passou a mão pelo seu rosto e o beijou na boca, da forma como ele gostava, docemente, mas, ao mesmo tempo, quente, um beijo molhado e cheio de desejo. Ele não resistiu e se entregou a ela.

E eles ficaram ali, compondo a paisagem, sem dizer mais nada, se perdoando.

VIII

Cezar fêz sinal para um taxi qualquer e disse que ligava para Rafaela. Ela entrou no taxi e disse que ia esperar. Se foi só o encontro derradeiro, o tempo ia dizer. Quem teria mais coragem para recomeçar aquela história? Quem seria capaz de confiar depois de tudo? Qual o preço a pagar? O tempo... o tempo ia dizer.

quarta-feira, julho 25, 2007

Solidão padronizada

Ela estava sentada de frente para a grande janela de sua sala olhando para a paisagem lá fora, às quatro da tarde de uma quarta-feira, pensando porquê ela estava em casa, apesar de estar de férias. Chovia e ventava muito, mas há muito tempo ela sabia que não era feita de açúcar. As férias não haviam saído como ela havia planejado, mas ela precisava daquele tempo para repor as baterias, para descansar, ficar um tempo longe do trabalho, das infindáveis preocupações de todos os dias...era preciso ter um tempo para ficar de bobeira, fazendo nada, mas de forma consciente, sem se preocupar com o que estava para acontecer no dia seguinte.

Não conseguira planejar uma viagem. Então acabou ficando em sua cidade mesmo, sem dramas. Na cabeça, um pensamento insistia em voltar: por que ele sumiu? Por que não deu mais notícias? Por que ninguém mais fala nele? Nem parecia que ele estava para voltar...

Com estes pensamentos insistentes em sua cabeça, ela começou a se questionar sobre os seus padrões: por que será que ela sempre insistia nos mesmos caras, nos mesmos tipos? Por que sempre se interessava por aquele cara enigmático, com tão pouco amor e carinho para oferecer? Era sempre o cara mais velho, mais bonito, mais inatingível!

Será que este era o padrão: gostar de quem é inatingível? Muitas vezes, ela se perguntou se este era um problema que só ela possuía, que talvez, em seu lugar, a maioria das mulheres já tivesse desistido há muito tempo de um cara como este. Mas, ela não, ela continuava sentindo saudades dele, fantasiando uma vida juntos, como namorados, como amantes, nem ela sabia mais de que forma.

Será que todas as mulheres sempre seguem um determinado padrão para buscar seus homens? Há aquelas que buscam os desprotegidos; outras querem alguém que as proteja. Algumas buscam um homem para competir, outras um eterno romântico, tem também aquelas que não suportam “grude”, sentem-se perseguidas, enaltecidas, endeusadas e odeiam isso. Enfim, todas buscam um padrão: seja um homem mais forte, ou mais fraco; mais romântico, ou mais frio; mais doce, ou mais rude. E eles? Também estão atrás de um padrão de mulher ou querem apenas ter ao seu lado uma mulher com quem possam testar a sua virilidade?

Eram muitas perguntas sem resposta. Do lado de fora, o tempo piorava. Ela então decidiu que, se era para continuar sozinha e em casa, teria que buscar alguma companhia. Acendeu um cigarro e abriu uma garrafa de vinho tinto... seco. Ficou saboreando o vinho, pensando, ao mesmo tempo, que sem o maldito tabagismo talvez ela pudesse apreciá-lo muito mais. No fundo, no fundo, queria afastar da cabeça mais um pensamento estranho que insistia em perturbá-la: qual seria o padrão de mulher dele agora? Como seria esta tal namorada que o faz tão feliz atualmente? E por que é tão difícil conviver com o fato de que ele não está mais sozinho e está muito feliz – sem ela?

Durante muito tempo, foi difícil ter que assumir que ele era gato, que estava no auge da idade, apesar de dez anos mais velho, e que muitas mulheres ficaram interessadas nele quando souberam que ele era o mais novo solteiro da praça. Foi difícil ter que competir com todas elas, e mesmo quando ela percebeu que era a “dona do pedaço”, não soube como agir, nem como afastar estas predadoras vorazes. Rapidamente, ela o perdeu, ou pelo menos perdeu o encantamento.

De fato, ele não soube lidar com a insegurança dela, buscava alguém que estivesse disposta a tudo, que fosse com ele para onde a vida mandasse, sem medos, dúvidas ou questionamentos. O futuro, nós construímos, ele dizia. Ela o perdeu, sem sequer tê-lo tido. Foi tudo muito rápido. Quando ele se foi, ela pensou que fosse perder o chão, que a vida fosse acabar. Hoje ela estava ali, pensando em como ia ser quando ele voltasse, no quanto isso ia mexer com os seus instintos femininos, o quanto ia doer vê-lo com outra pessoa e feliz.

O cigarro acabou, ela acendeu outro. O silêncio só não era absoluto porque ela podia ouvir o barulho do vento forte e da chuva batendo na enorme janela. Repôs o vinho em sua taça de cristal e ficou ali, bebericando. O futuro, nós construimos, ela repetiu... e pegou o telefone.

quarta-feira, junho 13, 2007

Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós...

Como é doce o sabor da liberdade...

Hoje acordei mais leve. Deixei para trás o que me prendia, o que me acorrentava, o que não permitia que eu deixasse o corpo solto, para ser levado pelas correntezas da vida...

Acordei mais bonita, me sentindo mais dinâmica. Acordei menos cansada, com mais gás.

Hoje de manhã, pensei em quanto o dia estava bonito, o sol estava mais forte, mais quente, o céu, mais azul.

Acordei com menos medo, e vou dormir do mesmo jeito. Agora eu sou mais eu, me livrei de você.

Da saudade dos teus pelos, do teu cheiro, do teu gosto. Mais livre das tuas mentiras vazias, pois no final, mentiras levam a mais mentiras.

Acordei mais viva! Viva a vida colorida! Sem você! Vivas!

segunda-feira, abril 16, 2007

Desesperança

Faz meses que não escrevo neste blog uma só linha...

Penso, penso muito. Sou cada vez mais crítica com o mundo ao meu redor. Mas, ainda insisto em me emocionar. Trago comigo um encantamento e um medo...

Hoje, este medo está tão forte. Medo da morte. Medo de não ter tempo de viver para te dizer "eu te amo".

Fui percorrendo as entre-linhas do que você passou a me escrever com um certo fervor, quase uma dedicação. E quanto mais eu achava que me aproximava de você, mais longe eu estava do seu mundo, do seu universo, da sua vida. Ia lendo um amor inexistente entre os trechos dos e-mails curtos e longos que você me escrevia e buscava encontrar explicação para as fotografias que você me enviava, todas elas submersas em uma aura de mistério e fantasia, que chegavam a me enebriar.

Sentia nelas o teu cheiro. E ao fechar os olhos, quase podia ouvir a sua voz, e a sua respiração ofegante depois do sexo. Sexo que eu não fiz com você. Sexo que eu somente ouvi falar. E nos meus sonhos, eram os fios dos teus cabelos que iam parar nas minhas mãos. E o toque suave do seu corpo a pesar sobre o meu parecia algo tão real. Mas, todos os dias, ao acordar, me dava conta de que aquilo tudo não passava de uma singela e avassaladora desesperança.

Tenho este medo da morte, tão forte, tão presente. Queria poder te dizer que meu amor por ti é real, que a fé que tenho em você é diretamente proporcional à admiração que eu sinto. Queria poder estar perto, mesmo longe, e ter significado.

Tenho medo da morte. De me arrepender por não ter feito, de deixar cair no esquecimento, de não me permitir viver todo esse amor. Tenho medo da morte.