Chegou cedo do almoço e enfiou a cara no computador. Não tinha ninguém na seção, um deserto. Ela pegou seu caderninho e começou a planejar o resto do dia. Muito o que fazer, como sempre.
As pessoas aos poucos foram chegando. Seu colega do lado perguntou por onde ela andava.
"Estava numa reunião fora, só isso".
Voltou-se para o computador. De repente, se engasgou com a própria saliva. A sensação foi a pior possível. Sentiu-se uma retardada, alguém que tem que levar um susto para acordar!
Olhou a sua volta. Uma guria organizava os armários, contando livros e DVDs, como se não houvesse amanhã, num comportamento autista. O colega do lado, que a havia interrogado minutos antes a respeito de sua ausência, estava com a cara enfiada no computador... e não se virou para ver o que acontecia.
Ela foi ficando roxa, roxa, muito roxa. Tentava falar, mas a voz não saía. Olhava para eles e ninguém reagia. A guria que arrumava os armários até levantou os olhos para entender o motivo daquele esporro todo, já que ela não parava de tossir involuntariamente, tentando fazer o ar voltar. Ele, ao contrário, sequer se virou. Aquela tosse toda o devia estar incomodando, evidentemente.
Ao mesmo tempo que ela não conseguia falar, também não conseguia entender o comportamento deles. Nos seus lugares, ela tentaria, ao menos, perguntar a pessoa se poderia ajudar, se a pessoa precisava de um pouco de água. Mas, não. Ninguém reagiu. Ela precisava de um soco nas costas, para o ar voltar. Mas, ninguém deu.
Ela esticou os braços, se contorceu toda. Até sentir o ar entrar finalmente em seus pulmões. E saiu para dar uma volta pelos corredores do prédio, para respirar paz, e manter a cabeça no lugar.
Chegou a conclusão de que é o final dos tempos. Falta muito pouco...
3 comentários:
Tragicômico, mas real...infelizmente.
É... aconteceu de verdade. Não é ficção. Bjs, Rebecca
Putz, pensei que fosse ficção. Deus me livre!
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