terça-feira, agosto 26, 2008

Duas ou três coisas que aprendemos com estranhos

Esta semana, recebemos dois consultores internacionais na nossa empresa. Um deles é inglês e a outra, portuguesa, mas vive em Londres há muito tempo. Ambos são muito simpáticos.

Vieram ao Brasil pela primeira vez para participar de um evento como palestrantes e visitar nossa empresa. Mas, não tiveram a oportunidade de visitar nossas instalações.

Adoraram o que viram por aqui. Nós os hospedamos num hotel de frente para a praia de Copacabana (ponto para nós) e pusemos um carro à disposição deles - o que eu acho que foi mais um ponto para nós. É, acho que nós acertamos!

Os ingleses não conseguem entender muito bem essa nossa falta de pontualidade. Eles são realmente pontuais. Até se surpreendem com o quão amáveis nós somos, mas acho que preferiam que fôssemos menos expansivos e mais responsáveis com o horário.

Realmente, os ingleses são bem formais, é um tanto difícil "quebrar o gelo". Se eles são tímidos, então, é quase impossível abordá-los. E na hora de cumprimentá-los com beijos? Chega a ser curioso notar o susto que eles levam quando as pessoas começam a se beijar e a beijá-los (ao se conhecer ou se despedir). Ainda mais, quando rola um beijo em cada bochecha. (Mas um aperto de mão já não estava bom?)

Dentro deste contexto de formalidade dos ingleses, eles adoram seguir uma agenda e uma pauta. Se alguma coisa dá errado ao longo da reunião, parece que não há jogo de cintura - como temos - suficiente para mudar o plano. Mas, há que se reconhecer, a competência deles é impressionante.

Ah, e como eles são ansiosos! Acho que se eles tivessem que viver imersos no nosso "regime burocrático" (no sentido mais pejorativo da palavra), sofreriam um enfarto por semana. Imagina receber a autorização para uma viagem internacional na véspera de viajar, se as diárias na mão, nem o bilhete emitido! Um atraso na emissão das passagens gerou uma troca de mais de 30 e-mails em menos de dez dias! Acho que a gente só tem paciência com eles porque eles são estrangeiros e, com certeza, eles não nos entenderiam...

Mas, eles são como nós, curiosos! Afinal, somo todos seres humanos, não é mesmo? Se bem que há quem eu ache que ainda não evoluiu e continua irracional! Ao chegar no Brasil, quiseram conhecer o que era típico do nosso país: frutas, sucos, comidas, pessoas, lugares! Adoraram ir a uma churrascaria, que, muito bem escolhida, fica de frente para o maior cartão postal do Rio de Janeiro: praia do Flamengo, Baía de Guanabara, Pão de Açúcar, Ponte Rio-Niterói, Aeroporto Santos Dumont. Para qualquer lado que se olha, há história para contar. Além do rodízio de carnes - que hoje eu já acho uma coisa assustadora! - a paisagem os impressionou bastante. Ficaram fascinados! Pena que a foto que tiramos não tenha capturado tudo o que vimos, muito menos a emoção que aquela paisagem nos causou a todos!

O inglês voltou do banheiro, ou restroom, como ele mesmo frisou, encantado (ou seria melhor dizer, perturbado?) com um desinfetante que encontrou nos mictórios, na forma de cubos de gelo. Nunca vira coisa igual! Para ele, era como se houvesse descoberto a pólvora. Disse que em nenhum outro lugar do mundo, viu uma inovação dessas. Foi quando um dos convivas brasileiros acrescentou que também serve para evitar a molhadinha, o respingo... (e eu que nem sabia que ela rolava!)...

Ainda sobre banheiro, eles se assustaram quando conheceram nosso protetor de assento - muito comum em banheiros femininos. Não é que, lá pela tantas, fez-se questão de ressaltar que o buraco do tal protetor é em forma de coração (mas, será que isto é uma questão de design, ou o que se quer é passar uma mensagem calorosa com o produto?)...

A portuguesa se encantou com o mostruário de sobremesas. Ficou tão doida por uma mousse de maracujá, que queria comer aquela ali mesmo. Quando botou a mão, aproveitamos para lhes contar: é falsa! Veja que interessante nossas "false desserts"! O inglês rolava de rir, a portuguesa sentiu um misto de vergonha, por não ter percebido antes, e surpresa, pela peculiaridade (Brasileiro é tudo doido mesmo!).

Como curiosos e observadores que são, repararam que a tábua de queijos oferecida pelo hotel cinco estrelas em que fizemos nossa reunião não trazia um só queijo nosso - típico, popular, como o de Minas. Hotel chique só serve queijo italiano ou francês: provolone, cottage, gouda, gruyére... Que bobagem! Quando é que vamos entender que chique é valorizar o que é nosso? Os gringos já entenderam!

Provaram o guaraná Antárctica e se surpreenderam ao descobrir que se tratava de uma "gasosa de fruta brasileira" - uma bebida sem álcool, ao contrário do que pensavam.

Foram nas Sendas da Avenida Nossa Senhora de Copacabana, e acharam o supermercado horroroso. Mas, ficaram surpresos em ver o sabão em pó OMO firme e forte na prateleira, a mesma marca, as mesmas cores. Segundo eles, esse sabão deixou de ser vendido na Inglaterra há trinta anos.

É difícil conversar com pessoas estranhas quando não se domina a sua língua, mas com um pouco de esforço, rolam umas "small talks", como eles dizem. Mas, para que esse relacionamento se desenvolva, não se pode ser apenas superficial. O caminho é árduo, mas possível.

Respeito, cordialidade, atenção e gentileza são palavras que, enfim, resumem o que aprendemos com eles. Daqui a pouco, vou aprender mais um pouquinho. Vou para a terra deles.

Nenhum comentário: