domingo, agosto 10, 2008

Baratas

Deu no jornal de sexta-feira passada. Um homem, vestido de branco, por volta do meio dia, parou nos bueiros da esquina das ruas Sete de Setembro e Avenida Rio Branco e borrifou inseticida fervorosamente contra eles.

Em pouquíssimo tempo, começaram a emergir dos bueiros baratas e mais baratas - desesperadas com o produto tóxico, desorientadas, considerando a tudo e a todos como inimigos, achando que qualquer lugar era esconderijo.

As pessoas que por ali passavam ficaram desesperadas com a cena. As mulheres, menos corajosas, gritaram de terror. Os donos das lojas colocaram hordas de empregados, de vassouras em punho, para defender seus estabelecimentos do ataque. Sob o olhar atento do dono, e na pressão em que se encontravam, a eles nada restava a fazer se não matar as baratas e defender as lojas da invasão, lembrando-se de dizer aos passantes que aquilo ali não era um estabelecimento mal cuidado, tentando evitar denúncias a Vigilância Sanitária.

O homem fatídico, de branco, sem identificação, tratou de fugir.

Lembrei-me de uma passagem da minha vida, quando estava com minhas mãe e irmã próxima à igreja de São Jorge, junto à Praça da República, no centro da cidade. Tirava uma cópias de documentos, para cadastrar-me e ter acesso ao acervo da biblioteca pública municipal, na Presidente Vargas, quando, de repente, uma barata - que a minha irmã chama de "barata-trem", de tão grande - subiu pela minha perna, dentro da calça jeans. Meu único impulso foi fazer um falso "torniquete" com as mãos, para evitar que ela alcançasse minha região pélvica e todo o resto (que vocês podem imaginar...). O nojo era tamanho, que eu só conseguia me movimentar de modo a fazê-la cair, mas ela não descia. Parecia que só tinha um objetivo: continuar subindo! Eu parecia um mamulengo, me contorcendo na rua. Minha mãe e minha irmã não conseguiam entender o que se passava e eu comecei a chorar de nojo!

Quando finalmente a torturadora saiu da minha calça, eu estava lívida, e sabia que ia me lembrar daquilo para o resto da minha vida. Nunca mais eu páro próxima a bueiros, nem que seja para atravessar a rua.

Elas já venceram a guerra, vão sobreviver à bomba atômica. Nós, não.

Um comentário:

Letícia disse...

Que noooooooojo! Bom seria se todas as baratas resolvessem subir no homem de branco. Dava cena de filme, não?