19:30. Ela checa o relógio do computador, depois o do seu pulso. De repente, toca seu celular pessoal, número que ela já tem há muito tempo.
Oi, lembra de mim? Tudo bem com você?
Quem seria, ela não lembra. Reconhece a voz como familiar, mas não lembra do rosto do seu dono. Uma onda de desconforto lhe invade o corpo, varrendo dos seus pés a cabeça.
Vamos lá, vai dizer que você me esqueceu?
Ela ainda não conseguia lembrar, mas sentia algo estranho. Era como se ela não quisesse lembrar do dono daquela voz. Respondeu, de modo firme:
Não, não lembro. Acho que felizmente.
O dono da voz emudeceu. Depois suspirou, bem fundo. Fez-se uma pausa. Ela esperou que ele lhe dissesse alguma coisa.
Sinto sua falta...
(Mas, eu não, ela pensou).
Eu achei que tivesse aprendido a viver sem você. Eu fui muito duro contigo da última vez que nos vimos. É que eu queria que você me odiasse. Eu precisava disso para fazer o que fiz... sabe, tentar outras experiências... Eu tinha muitas dúvidas. Agora, sei que errei muito. Todos me avisaram, mas a ficha demorou a cair...
Cinco anos. Cinco longos anos foi o tempo que a ficha levou para cair. Ela, enfim, se lembrou dele. Tinha sido seu namorado, noivo, quase marido. Depois de muito tempo juntos, a deixou sozinha, com seus planos, seus móveis, seus sonhos, sua auto-estima, todos despedaçados, como o Cravo, quando briga com a Rosa... e ela põe-se a chorar... Trocou a antiga namorada por uma novidade, fresquinha. Tempos depois, a novidade viu que ele era uma bela propaganda enganosa e dispensou-lhe, do mesmo modo que ele fizera com sua namorada. E ele não conseguiu mais nenhum par de pés gelados para dividir o cobertor depois disso. Estava arrependido. Pensava que conseguiria mais alguma coisa ali... tolo!
Ela viu que o Ivan Lins era piegas, mas "começar de novo e contar comigo" era realmente um verso lindo... Reaprendeu a viver. Gostou do que encontrou, depois da tempestade. Chorou muito, mas se viu amparada por uma 'rede' de amigos. Fez análise, redescobriu pequenos prazeres, voltou a fazer tudo aquilo do qual ele andava se queixando no final do namoro: saiu, bebeu, brincou, pulou, dançou, desenhou, encontrou os amigos, fez novos amigos, enfim, viu a vida pulsar de novo em suas veias...
Ia ser mesmo muito chato dividir a vida com alguém que queria ter uma vida tão modesta. Ela queria mais, queria se divertir, queria viajar, queria curtir... queria viver o presente ao qual ela tinha direito e não o que ele vinha oferecendo a ela... Ele a acusou de só pensar no futuro: muitas vezes, foi por pensar que o futuro poderia ser melhor que ela permaneceu ao lado dele, evitando pedir coisas, sugerir programas e gastar um dinheiro que ele não tinha para gastar. O que ele fora ao seu lado? Um encostado. E isso, ela percebeu - finalmente! - que não precisava. Queria um homem que a amasse, que a encantasse, que a fizesse feliz, e que quisesse muito vê-la feliz, tanto quanto ela a ele.
Incrível como ela havia demorado a lembrar da sua voz! Para se lembrar dele, como pôde demorar tanto?
Ela suspirou de desgosto e respondeu...
Moço, acho que você ligou para a pessoa errada. Não sei quem você é. Não te conheço. Não preciso ouvir suas lamurias. Se você me dá licença, está na minha hora...
E desligou.
Ele se sentiu um merda, pois tinha quase certeza de que ela o havia reconhecido. Ela saiu e foi encontrar com a galera, que já a estava esperando. Era hora do happy-hour de quarta-feira.
2 comentários:
Caracaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!!!!!
Rebecca
Acho que já conheço essa história? Será?
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