Abriu a gaveta e olhou lá para dentro. Lá estava o envelope, repleto de fotos. Seu fantasma particular. Por que ainda guardo isso? O picotador de papel está logo ali...
Fechou a gaveta, de rompante. Não vou mais mexer nisso...
Ela pensou nos "e se?"(s) da sua vida e viu que não havia mais o que fazer. O fantasma estava lá, para lembrá-la da porta que se abriu, do vendaval que passou, e do esforço que ela fez para resistir a ele. Como alguém que procura a calmaria do olho do furacão para se proteger.
No final da tarde, ela voltou a abrir a gaveta, para pegar um documento. Descuidada, deixou que o envelope se abrisse e mostrasse uma pontinha de uma foto. Ela viu o negro do cabelo apontando e sentiu vontade de chorar.
Eu não posso pensar nisso, é passado.
Fechou o envelope correndo, para não ser pega em uma armadilha que ela mesma armou. Fechou de novo a gaveta e continuou seus afazeres.
No final do dia, seu telefone tocou. Os fantasmas sempre aparecem, quando estão vivos.
Oi, pensei em você hoje.
Enquanto ele falava, ela, quieta, sentia as lágrimas escorrerem. Não sabia que ainda sentia tanta emoção em falar com ele. Balbuciou algumas palavras e disse a ele que aquele não era o melhor momento para conversarem, que havia muita gente a sua volta. Desligou o telefone e depois não retornou a ligação. Nunca mais.
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Ainda hoje, quando abre a gaveta, tem que segurar o fantasma que insiste em se expor para ela, como ferida aberta, não cicatrizada. Ainda dói. E ela sabe porquê.
2 comentários:
Eu entendo você...
Rebecca, falei de você nos meus insanos escritos.
Sem problemas, Clarisse. Pode falar de mim à vontade. Bjs, Rebecca
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