Saiu do cinema depois de ver "O cheiro do ralo", excelente interpretação do Selton Melo, e só pensava no quanto havia gostado do filme: podre, imoral, machista, mas um retrato da nossa hipocrisia.
Estava se habituando a ir ao cinema sozinha e gostava cada vez mais da sua companhia. Pegou um táxi para casa, um carro velho, meio sujo.
Deu boa noite ao motorista e lhe informou o destino. Ousou até dizer o itinerário que queria, e ele acatou sem reclamar.
De repente, parou atrás de um caminhão de lixo extraordinário. Os vidros do táxi estavam abertos pela metade. Havia um homem pendurado no caminhão, com a cara enfiada na caçamba. Ela teve ânsia de vômito e pensou no filme. Vomitou palavras, já que o estômago estava vazio:
- Quanto tempo será que esse homem teve que conviver com este cheiro até se acostumar a ele?
Não se deu conta que o motorista podia achar que ela estava falando com ele. Mas, se bem que ele achou, e respondeu:
- A gente se acostuma com tudo nesta vida. Só não se acostuma com a morte.
Seguiram em silêncio o resto da viagem.
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