Final de ano é tempo de reflexão. Ele, tentando refletir sobre alguma coisa, ficou pensando na droga do ano que tinha vivido e pensou graças-à-Deus-estou-de-férias-e-não-tenho-que-acordar-cedo-amanhã. Foi o máximo de reflexão que conseguiu fazer. Depois, abriu mais uma cerveja, e virou no copo, meio sem vontade, mas já que tinha cerveja na geladeira, vamos-tomar-que-senão-estraga!
Ela ficou olhando pra ele, enquanto isso. Pensava no quê ele estaria pensando. Ela, que estava ali, há muito tempo sem querer estar, olhando aquele copo de cerveja encher e esvaziar, e depois encher e esvaziar, pensava consigo mesma como ele podia não agradecer por todas as dádivas que tinha recebido ao longo desse ano e como-Deus-tinha-sido-generoso-com-ele, apesar dele desdenhar do bom e do melhor que ganha ano após ano.
A mulher do outro lado da sala olhava para os dois e pensava em-como-eram-felizes-aqueles-dois. Sempre cuidando um do outro, sempre atentos um com o outro, ele sempre simpaticão, ela sempre cuidadosa com ele. Tolinha!
O cara sentado na bergère do cantinho da sala olhava para aquele grupo e pensava o quão loucos eram todos eles, convivendo sem vontade, se reunindo, mês após mês sem saber porquê, sem assunto, sem intimidade, só para manter um convívio que eles nem sabiam porquê sustentar...
A mocinha no sofá pensava no porquê sua mãe sempre insistia em fazê-la participar destas festas, principalmente a de final de ano, porque essa turma era insuportável, era sempre o mesmo assunto, e ela não tinha idade, nem saco pra ficar aturando aquele papo...
Enquanto isso as crianças corriam pela sala e enlouqueciam os adultos, uns ainda gritavam cuidado-menino-não-esbarra-aí-que-essas-coisas-quebram!
A vida é tudo uma questão de ponto de vista. O que é ruim pra um é ótimo pros outros. E vice-versa.
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