Isso me dava um complexo de inferioridade danado. O pior é que eu sempre me apaixonava pelo menino mais baixinho da turma, o que não ajudava em nada. Com o tempo, eu fui tentando encolher, fechando os ombros e me entortando toda para não parece tão alta.
Quando chegava ao final do ano, era a hora do sofrimento pois tínhamos sempre que tirar aquela foto de turma, enfileirados, ao lado da nossa querida professora. Eu ficava sempre lá atrás, junto com os meninos mais altos e mais desengonçados, como se fosse o final da escadinha. Os meninos mais legais, aqueles de quem eu gostava, assim como as minhas amigas, ficavam na frente e apareciam em destaque.
Um dia, ainda na escola, um coleguinha chamado Romualdo, irmão da Marcinha, me chamou de girafa e eu me enfureci: quebrei meu guarda-chuva vermelho na cabeça dele. Ficou um galo enorme. Fomos enviados para a coordenação. Tia Silvona, a diretora, nos perguntou o motivo da briga e eu contei. Não é que ela me deu razão? Até hoje ela diz que me adora! E eu também adoro ela, minha diretora que era altona e que agora está baixinha (o tempo passa e a gente encolhe).
Num dos meus anos mais sofridos, precisei fazer fisioterapia na ABBR, onde eu ia para uma sala de alongamento. Naquela época, eu tomava muito ácido fólico e fazia alongamento quase todos os dias, num estalar de ossos que me dava arrepios. Eu estava entrando na puberdade, uma época que a gente muda muito. Minha mãe começou a ficar apavorada quando percebeu o quanto eu estava crescendo (em média 1 cm por mês). Não tinha jeito, eu estava cada vez mais desengonçada. Me lembro da minha mãe me ameaçar de colocar um aparelho nas costas caso eu não me endireitasse. Como teria sido bom se ela tivesse feito isso, hoje eu penso! Eu não parava quieta na cadeira, era muito difícil ficar ereta. Hoje, também sofro para manter as costas no lugar e penso muito em fazer RPG ou pilates.
A girafa estava lá, desengonçada e sem remédio. Foi quando a escola fechou um convênio para que tivéssemos aula de ginástica no Clube Militar, no bairro do Jardim Botânico. Eu escolhi fazer jazz, porque eu adorava música. Mas, eu era como aquela girafinha ao nascer, que mal consegue dar os passos corretamente. Fazia um giro e já alcançava o final da sala. Tinha que ficar na última fila, porque se não encobria todas as meninas. Eu mal conseguia me ver no espelho de tanta gente que havia na minha frente. Tinha muita flexibilidade, mas não conseguia ter uma boa noção do tamanho do meu corpo e sempre esbarrava em alguém quando tentava dançar.
Foi uma pena que eu tenha desistido do balé, porque hoje eu estaria muito melhor no que diz respeito à minha flexibilidade (que eu teria mantido em níveis excelentes), mas porque eu não teria endurecido tanto ao dançar - e naquela época eu dançava muito, em casa então, nem se fala!
Hoje, não tão magra, já não pareço tanto a girafinha, mas sim uma mulher grande. Gosto de salto alto, coisa que eu demorei a usar, e de me exibir, hábito que eu não tinha quando menina, pois o que eu queria mesmo era sumir. Não ligo mais de ser grande. Luto é para manter o peso sobre controle, com tantas guloseimas ao alcance. Não tive tanta dificuldade assim para arrumar namorados. Afinal, eles também cresceram nesta minha geração e nas que vieram depois. Homens altos são bonitos e cada vez mais comuns, mas sem tirar o charme dos baixinhos. Com o tempo, e a maturidade, foi ficando cada vez mais fácil ver a beleza no coração das pessoas e não no seu corpo físico. E a girafinha virou ícone, um animal querido, parte da infância, que vou levar para toda a vida.
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