terça-feira, novembro 18, 2008

Preciso falar...

Ela pegou o saquinho com o sanduíche a o copo do suco e caminhou em direção ao banquinho da praça. Era um bonito dia de primavera, quase verão, e estava começando a esquentar pra valer. E aquele era um bom lugar para fazer um lanche, já que almoçar não seria possível para ela. Com o tempo, estava se acostumando a estas substituições de refeições, coisa comum naquele país, mas tão incomum no seu.

No entanto, apesar do clima agradável daquele lugar, ela sentia um mal estar, como se algo estranho estivesse prestes a acontecer. Sentou-se no banco, acomodou o lanche em suas pernas e abriu o pacote com o sanduíche. Na segunda mordida, começou a perceber a chegada de moscas, muitas moscas. Elas vinham na sua direção e ficavam pousando no seu corpo. Num piscar de olhos, já estava tomada por moscas da cabeça aos pés. De chofre, soltou o sanduíche que caiu na terra, ao lado dos seus pés. Sentia o corpo todo tomado por moscas, como fica de abelhas o corpo do apicultor quando lida com colméias.

Abertos, apenas os olhos, buscando ajuda, alguém que pudesse afugentar aqueles insetos repugnantes. O medo era tanto, que ela evitava piscar, apreensiva de ter uma mosca presa em suas pálpebras. A boca mantinha fechada, para evitar qualquer contato. De súbito, começou a sentir dor em seus lábios, pois era tanta a força em prende-los que seus dentes começaram a feri-los. O zumbido em seus ouvidos era enorme e as asas das moscas lhes faziam sentir cócegas, dando-lhe a sensação de que seus ouvidos haviam virado túneis para aqueles seres brincarem de esconde-esconde.

Diante do inesperado da situação, ficou se perguntando: por que com ela? De onde haviam saído aquelas moscas todas? Se mosca gosta de carne podre, onde estaria escondida aquela podridão toda, por tanto tempo? Por que nela? Por que ninguém se prontificava a ajuda-la?

Sentia um asco tão grande, um desespero, um nojo daquela situação. Os olhos aflitos começaram a ver gente se aproximando, gente que estava muito assustada, sem entender o que se passava, mas ao mesmo tempo querendo descobrir quem estava ali embaixo. Pessoas foram se aglomerando em torno dela, mas como medo do contágio, evitavam espantar as moscas, pois temiam que as mesmas os escolhessem também como pista de pouso.

De repente, diante da agonia de não poder falar, nem pedir ajuda, ela se deu conta. Tinha que sair daquele filme de terror. Não era real. O cérebro percebeu que tinha que agir e rápido. Com um movimento brusco, ela jogou o corpo para trás.

Sete horas. Soou o alarme do despertador.

Ufa! Consegui acordar.

2 comentários:

Clarisse Bronté disse...

Seu pesadelo provavelmente teve o roteiro escrito pelo Stephen King. Que meda!

Bjs

Letícia disse...

Nooooooooooooooooozo!