Estava sentada no banco de trás do taxi. Pensava no tempo. No quão doloroso seria encarar os próximos dias... e se via como um presidiário que faz marcações na parede enquanto o tempo teima em demorar a passar.
De repente, olhou pela janela, para fora do carro, e viu um mendigo, sem dentes, sentado na calçada. Ele estava muito sujo e carregava um monte de lixo, a maior parte dele composta por folhas de jornal.
Enquanto aguardava o sinal abrir, notou que, mesmo com o sol à pino do meio dia, o mendigo tratava o tempo como ele deve ser tratado: a seu dispor. Gastava todo o tempo do mundo organizando e dobrando, com o maior cuidado, as folhas de jornal, uma por uma, com uma calma irritante.
Ia colocando primeiro as maiores, depois as dos cadernos menores. Parecia calmo e tranquilo, como que se esperasse que algo grande fosse lhe acontecer. Talvez sabendo que nada ia acontecer, mas, de que adianta a ansiedade? Afinal, o que se pode esperar da vida, não é mesmo?
Daí ela supôs que Deus estava tentando lhe dizer alguma coisa: que o tempo de esperar talvez seja apenas tempo de saborear.
2 comentários:
Que dificuldade a gente tem em usar o tempo como aliado, não é?
Adorei esse texto.
Beijos e boa viagem!
Adorei!!!!!
Postar um comentário