Tinha perdido o hábito de lutar. Estava certa de que a vida se resumia a casa-trabalho-casa e olhe lá. Não sabia mais o que era o amor. Racionalizava tudo. Era melhor, mais seguro. Lera em algum lugar que "navegar é preciso, viver não é preciso", de algum autor famoso. Se não é preciso, como pode ser seguro? Vivia enforcada aos nós que ela mesmo escolhera tecer. Tinha medo, não arriscava. Nem se lembrava quando foi a última vez que dissera um "eu te amo" enebriado pelo calor da emoção. Sequer lembrava se um dia esse "eu te amo" foi dito.Tinha perdido o hábito...
terça-feira, julho 31, 2012
quarta-feira, julho 25, 2012
Memórias vãs...
Existem programas na tv - à cabo, infelizmente - que são realmente instigantes. Um dos que eu realmente amo é o "Saia Justa", principalmente agora, com a participação dos maravilhosos Xico Sá, Dan Stuback, Dú Moscovis e Léo Jaime. Eles são realmente demais.
No programa de hoje, discutiram um tema sobre a infância, se a criança que fomos um dia se reconheceria no adulto que somos hoje. Eu fiquei pensando a meu respeito, se eu era essa criança responsável que se tornou essa mulher batalhadora... acho que era...
E isso me lembrou de tempos idos, de coisas que eu fazia na infância, do que eu gostava e do que eu não gostava,..., ai, acho que abriu uma porteira enorme de recordações....
Estes dias mesmo estava conversando com o meu marido a respeito dos Trapalhões, personagens também mencionados pelo Dú Moscovis no programa de hoje. O fato é que o meu marido O-D-E-I-A os Trapalhões (pelo menos, o Didi, disso eu tenho certeza)... ele sempre reclama aos domingos, quando eu esqueço a tv ligada e ele me pega na cozinha 'vendo' os Trapalhões.
Eu então me lembrei dos domingos na casa do meu tio-avô, Seu Mário, no Humaitá. Ele morava numa casa grande, de três andares, mas que não tinha muito espaço para brincar. Tinha um terraço, mas nós não podíamos ficar sozinhos por lá porque os adultos não deixavam. Lembro da programação de domingo: subir a ladeira de carro no maior esforço, porque a ladeira era íngreme e o carro não tinha lá tanto motor assim, manobrar bem lá em cima (onde o povo gostava de fumar uma erva), estacionar o carro (acho que ainda era um fusca o que o meu pai tinha), entrar na casa pela porta da garagem. Aí começava o meu sofrimento, porque a casa cheirava a cachorro, eles ficavam na sala de estar na maior parte do tempo, deitados sobre os sofás. Minha tia tinha um dinamarquês enorme, branco malhado de preto, que se chamava King, e um cocker spainiel preto chamado Xereta. Eles tinham pulga. E cheiravam a cachorro mal lavado que secou à sombra. King morreu atropelado por um ônibus, num dia de descuido e porta da garagem aberta. Xereta morreu de velho. Eram ícones daquela casa.
Eu não sentava naquele sofá nunca. Nós constumávamos chegar na casa deles à tarde, lá pelas cinco horas. Antes do Fantástico, passava uma sessão de uma hora de "Os Trapalhões", naquele que se podia considerar os áureos tempos, com a turma completa: Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. Lembro de ouvir meus primos dando risada sobre as besteiras que eles faziam, mas eu confesso que achava o programa um festival de piadas sem graça. Confesso que durante muito tempo tive medo de ir ao teatro para assistir a uma comédia ou a um stand-up por medo de não rir. Será que o meu problema é que eu não entendia as piadas? Eu ainda gostava um pouquinho do Mussum, e seu jeito de falar errado, mas o Didi era sempre tão cruel com todo mundo, que eu não curtia... aliás, como ele é até hoje...
Depois dos "Trapalhões", começava o Fantástico, e a gente sempre via ainda por lá o placar da rodada com o Léo Batista dando o resultado da loteria acompanhado da Zebrinha, que volta-e-meia dizia "Coluna do Meio", para alegria de todo mundo lá de casa (que ria da piadinha idiota a que a expressão "coluna do meio" fazia referência). Então, o sofrimento estava completo. Titia trazia a canja de galinha, numa louça brança com desenhos azuis que ela tinha - e adorava - e nós éramos obrigados a comer aquilo antes de qualquer sanduíche ou cachorro quente. Com bastante hortelã. Eu acabei me tornando uma pessoinha que odeia canja de galinha por causa disso, talvez pelo mesmo motivo que eu odeie beterraba e miolo de boi, ou seja, o fato de ter sido obrigada, em um dado momento da minha vida, a comer essas coisas, seja lá de que jeito...
O que salvava era o bolo de chocolate, que levava coca-cola na receita e ficava beeeeeemmmmm molhadinho... era sempre a sobremesa final, com um sorvete de flocos, e eu amava. Muito frustrante foi, tempos depois, descobrir que a velhice havia feito a titia a esquecer do bolo e de sua receita... Ela sequer se lembrava que fazia esse bolo pra gente...
Ah, não posso esquecer. A sensação da casa da minha tia eram duas, na verdade. Uma delas era vê-la preparando o macarrão na máquina artesanal, naquela cozinha espremida. Eu sempre me oferecia para ajudar, pela curtição de ver uma massa disforme virar macarrão fresco. A outra era um melro-preto, um pássaro para quem ela assoviava e que lhe oferecia em troca a cabeça para coçar... todo mundo queria coçar a cabeça daquele melro...
Foi na casa da minha tia que eu descobri a minha intolerância ao álcool e aos pobres bêbados... mas isso já é outra história...
No programa de hoje, discutiram um tema sobre a infância, se a criança que fomos um dia se reconheceria no adulto que somos hoje. Eu fiquei pensando a meu respeito, se eu era essa criança responsável que se tornou essa mulher batalhadora... acho que era...
E isso me lembrou de tempos idos, de coisas que eu fazia na infância, do que eu gostava e do que eu não gostava,..., ai, acho que abriu uma porteira enorme de recordações....
Estes dias mesmo estava conversando com o meu marido a respeito dos Trapalhões, personagens também mencionados pelo Dú Moscovis no programa de hoje. O fato é que o meu marido O-D-E-I-A os Trapalhões (pelo menos, o Didi, disso eu tenho certeza)... ele sempre reclama aos domingos, quando eu esqueço a tv ligada e ele me pega na cozinha 'vendo' os Trapalhões.
Eu então me lembrei dos domingos na casa do meu tio-avô, Seu Mário, no Humaitá. Ele morava numa casa grande, de três andares, mas que não tinha muito espaço para brincar. Tinha um terraço, mas nós não podíamos ficar sozinhos por lá porque os adultos não deixavam. Lembro da programação de domingo: subir a ladeira de carro no maior esforço, porque a ladeira era íngreme e o carro não tinha lá tanto motor assim, manobrar bem lá em cima (onde o povo gostava de fumar uma erva), estacionar o carro (acho que ainda era um fusca o que o meu pai tinha), entrar na casa pela porta da garagem. Aí começava o meu sofrimento, porque a casa cheirava a cachorro, eles ficavam na sala de estar na maior parte do tempo, deitados sobre os sofás. Minha tia tinha um dinamarquês enorme, branco malhado de preto, que se chamava King, e um cocker spainiel preto chamado Xereta. Eles tinham pulga. E cheiravam a cachorro mal lavado que secou à sombra. King morreu atropelado por um ônibus, num dia de descuido e porta da garagem aberta. Xereta morreu de velho. Eram ícones daquela casa.
Eu não sentava naquele sofá nunca. Nós constumávamos chegar na casa deles à tarde, lá pelas cinco horas. Antes do Fantástico, passava uma sessão de uma hora de "Os Trapalhões", naquele que se podia considerar os áureos tempos, com a turma completa: Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. Lembro de ouvir meus primos dando risada sobre as besteiras que eles faziam, mas eu confesso que achava o programa um festival de piadas sem graça. Confesso que durante muito tempo tive medo de ir ao teatro para assistir a uma comédia ou a um stand-up por medo de não rir. Será que o meu problema é que eu não entendia as piadas? Eu ainda gostava um pouquinho do Mussum, e seu jeito de falar errado, mas o Didi era sempre tão cruel com todo mundo, que eu não curtia... aliás, como ele é até hoje...
Depois dos "Trapalhões", começava o Fantástico, e a gente sempre via ainda por lá o placar da rodada com o Léo Batista dando o resultado da loteria acompanhado da Zebrinha, que volta-e-meia dizia "Coluna do Meio", para alegria de todo mundo lá de casa (que ria da piadinha idiota a que a expressão "coluna do meio" fazia referência). Então, o sofrimento estava completo. Titia trazia a canja de galinha, numa louça brança com desenhos azuis que ela tinha - e adorava - e nós éramos obrigados a comer aquilo antes de qualquer sanduíche ou cachorro quente. Com bastante hortelã. Eu acabei me tornando uma pessoinha que odeia canja de galinha por causa disso, talvez pelo mesmo motivo que eu odeie beterraba e miolo de boi, ou seja, o fato de ter sido obrigada, em um dado momento da minha vida, a comer essas coisas, seja lá de que jeito...
O que salvava era o bolo de chocolate, que levava coca-cola na receita e ficava beeeeeemmmmm molhadinho... era sempre a sobremesa final, com um sorvete de flocos, e eu amava. Muito frustrante foi, tempos depois, descobrir que a velhice havia feito a titia a esquecer do bolo e de sua receita... Ela sequer se lembrava que fazia esse bolo pra gente...
Ah, não posso esquecer. A sensação da casa da minha tia eram duas, na verdade. Uma delas era vê-la preparando o macarrão na máquina artesanal, naquela cozinha espremida. Eu sempre me oferecia para ajudar, pela curtição de ver uma massa disforme virar macarrão fresco. A outra era um melro-preto, um pássaro para quem ela assoviava e que lhe oferecia em troca a cabeça para coçar... todo mundo queria coçar a cabeça daquele melro...
Foi na casa da minha tia que eu descobri a minha intolerância ao álcool e aos pobres bêbados... mas isso já é outra história...
On the road again
“The only people for me are the mad ones, the ones who are mad to live, mad to talk, mad to be saved, desirous of everything at the same time, the ones who never yawn or say a commonplace thing, but burn, burn, burn, like fabulous yellow roman candles exploding like spiders across the stars and in the middle you see the blue centerlight pop and everybody goes "Awww!"
(...)
"The wind from Lake Michigan, bop at the Loop, long walks around South Halsted and North Clark, and one long walk after midnight into the jungles, where a cruising car followed me as a suspicious character. At this time, 1947, bop was going like mad all over America. The fellows at the Loop blew, but with a tired air, because bop was somewhere between its Charlie Parker Ornithology period and another period that began with Miles Davis. And as I sat there listening to that sound of the night which bop has come to represent for all of us, I thought of all my friends from one end of the country to the other and how they were really all in the same vast backyard doing something so frantic and rushing-about. And for the first time in my life, the following afternoon, I went into the West. It was a warm and beautiful day for hitchhiking."
-- Jack Kerouac, from 'On The Road'
---
Ao contrário do que muitos pensavam, o filme do Walter Salles é bacana, como já comentei no outro post. Tão bacana que às vezes me pego pensando nele. Sem saber, me lembrei do Dylan, que não é um dos meus cantores favoritos, mas que era perceiro dessa geração beat.
Por isso, a música de hoje é "On the road again", do Bob Dylan...
terça-feira, julho 24, 2012
Culpa
Nada é mais profundo do que uma pessoa com os olhos vidrados de culpa. Pessoas sem culpa são monstros morais. O discurso segundo o qual a culpa é uma forma pensada de controle dos mais fortes sobre os mais fracos (em que pese o fato de que a culpa pode ser mesmo manipulada, como tudo o mais que é verdadeiro na vida humana) é falso e indica antes de tudo uma mentalidade infantil, na medida em que se sentir culpado é um dos modos mais típicos da consciência moral.
Em assuntos como esses, melhor do que a argumentação pura e simples é a experiência. Você, caro leitor, já fez mal a alguém? Alguém que não merecia? Se a resposta for não, você é um mentiroso.
-- Pondé, Luis Felipe, Guia Politicamente Incorreto da Filosofia, 2012
A imagem acima me é interessante porque toda vez que a gente
aponta o dedo contra alguém, tem sempre 4 dedos apontados na nossa direção
- e são os nossos. Quem nunca errou na vida que atire a primeira pedra.
segunda-feira, julho 23, 2012
Leituras e filmes nas férias
Desde a semana passada, regada a muita chuva e céus enfarruscados, a leitura e os filmes no dvd têm sido minhas companhias constantes. Gripada e com a garganta arranhando, não me restou muita coisa a não ser me proteger do frio sob as cobertas, aninhada ora no meu sofá, ora na minha cama. Adoro ler na penumbra, apenas com o abajour a iluminar meus pensamentos e a minha imaginação. O sol começou a arriscar uma aparição ontem, tentando vencer o nevoeiro que transformava o Rio de Janeiro numa Londres pré-olímpica.
Com todos estes companheiros de viagem, estive em Paris, enquanto me deliciava com o livro "A Elegância do Ouriço", emprestado pelo meu querido amigo Alberto. Apesar do cenário restrito a um prédio de grandes apartamentos de 400 m2, tão pouco usual numa Paris repleta de aps esprimidinhos, pude me sentir por lá durante todo o tempo, passeando pela cidade que conheci há dois anos.
Na sexta-feira, vimos o filme "O turista", com o maravilhoso Jonny Deep e a linda, mas extremamente fria, Angelina Jolie. Confesso, tenho outras preferências entre as atrizes de sua geração, como a própria Catherine Zeta-Jones. Neste filme, fomos transportados para Veneza, o que me fez pensar que preciso urgentemente programar uma viagem para a Itália, que ainda não conheço. Veneza é estranha, com todos aqueles canais e o esgoto despejado nos mesmos, mas também pitoresca... aqui, teríamos o maior nojo de andar por eles, mas lá, eles são a atração...
Assim que terminei de ler o livro emprestado, emendei a leitura de um dos três que me foram presenteados por meu marido, "Marina", do Carlos Ruiz Zafón. Sem saber direito a história, de repente estava em Barcelona, uma cidade que não conheço ainda, mas que já estou aprendendo a amar, por meio da literatura deliciosa deste escritor. Foi de uma só vez. Não que não tenha feito mais nada durante todo o final de semana, longe disso. Mas, o livro é realmente instigante e nos prende em cada detalhe de uma investigação feita pelos protagonistas adolescentes, Óscar e Marina.
Então, marido e eu resolvemos rever "Meia-Noite em Paris", filme que amamos no cinema. Não sei se não estava igualmente inspirada como quando da primeira vez, só sei que achei o filme menos empolgante do que antes. Cheguei a dormir um pouquinho no meio, o que me deixou um pouco frustrada. Dos Woody Allen que já vi mais de uma vez, nada se compara a "Match Point". Enfim...
Agora, estou em Londres, com o Ian McEwan, lendo "Serena". Estou bem no comecinho, e já sinto que vou gostar. Depois desse, acho que me permitirei ler algo sobre o Rio de Janeiro, talvez um Garcia-Roza, quem sabe?!
O bom de tudo isso é que esse contato nos inspira, nos torna criativos, faz que com melhoremos nosso próprio texto e nos dá vontade de conhecer outros lugares, de sair do lugar, o que pra mim é o melhor para não criarmos limo...
E você, pode onde tem andado?
Música do dia: You Know I'm No Good - Amy Winehouse
Com todos estes companheiros de viagem, estive em Paris, enquanto me deliciava com o livro "A Elegância do Ouriço", emprestado pelo meu querido amigo Alberto. Apesar do cenário restrito a um prédio de grandes apartamentos de 400 m2, tão pouco usual numa Paris repleta de aps esprimidinhos, pude me sentir por lá durante todo o tempo, passeando pela cidade que conheci há dois anos.
Na sexta-feira, vimos o filme "O turista", com o maravilhoso Jonny Deep e a linda, mas extremamente fria, Angelina Jolie. Confesso, tenho outras preferências entre as atrizes de sua geração, como a própria Catherine Zeta-Jones. Neste filme, fomos transportados para Veneza, o que me fez pensar que preciso urgentemente programar uma viagem para a Itália, que ainda não conheço. Veneza é estranha, com todos aqueles canais e o esgoto despejado nos mesmos, mas também pitoresca... aqui, teríamos o maior nojo de andar por eles, mas lá, eles são a atração...
Assim que terminei de ler o livro emprestado, emendei a leitura de um dos três que me foram presenteados por meu marido, "Marina", do Carlos Ruiz Zafón. Sem saber direito a história, de repente estava em Barcelona, uma cidade que não conheço ainda, mas que já estou aprendendo a amar, por meio da literatura deliciosa deste escritor. Foi de uma só vez. Não que não tenha feito mais nada durante todo o final de semana, longe disso. Mas, o livro é realmente instigante e nos prende em cada detalhe de uma investigação feita pelos protagonistas adolescentes, Óscar e Marina.
Então, marido e eu resolvemos rever "Meia-Noite em Paris", filme que amamos no cinema. Não sei se não estava igualmente inspirada como quando da primeira vez, só sei que achei o filme menos empolgante do que antes. Cheguei a dormir um pouquinho no meio, o que me deixou um pouco frustrada. Dos Woody Allen que já vi mais de uma vez, nada se compara a "Match Point". Enfim...
Agora, estou em Londres, com o Ian McEwan, lendo "Serena". Estou bem no comecinho, e já sinto que vou gostar. Depois desse, acho que me permitirei ler algo sobre o Rio de Janeiro, talvez um Garcia-Roza, quem sabe?!
O bom de tudo isso é que esse contato nos inspira, nos torna criativos, faz que com melhoremos nosso próprio texto e nos dá vontade de conhecer outros lugares, de sair do lugar, o que pra mim é o melhor para não criarmos limo...
E você, pode onde tem andado?
Música do dia: You Know I'm No Good - Amy Winehouse
Quitandinha
Ano passado, quando nossos amigos alemães estiveram aqui, no meio da loucura em que nos encontrávamos, naquela busca incessante por um apartamento, resolvemos levá-los para conhecer um pouco da nossa serra germânica... Petrópolis e Itaipava.
E, graças à Deus, resolvemos fazer uma parada no Hotel ou Palácio Quitandinha, hoje apenas um local aberto a visitação.
O engraçado é que, toda vez que eu pergunto aos meus amigos que vão conhecer Petrópolis se eles se lembraram de visitar o Quitandinha, eles me perguntam de volta: "Não, e o que tem lá?"
A minha resposta sempre é: "Além de ser um lugar lindo, de uma arquitetura incrível, o Quintandinha tem história!!!!"
Imagina só! Ele foi construído em 1944 por Joaquin Rolla para ser o maior hotel cassino da América Latina. Por dentro, seu estilo arquitetônico utiliza o rococó hollywoodiano, só que por fora, ele segue o padrão normando-francês, muito presente na arquitetura de Petrópolis devido à colonização alemã. Foi lá que ocorreu a assinatura da declaração de guerra dos países americanos às Potências do Eixo, durante a Segunda Guerra Mundial.
O Palácio teve seus dias de Cassino interrompido pelo Presidente Eurico Gaspar Dutra, que proibiu o jogo no Brasil a pedido de sua esposa, em 1964. Tentaram fazer dele um hotel apenas (não deu certo) e depois um clube (também não deu certo) e hoje, parte de suas dependências é utilizada em convenções e parte pelo Sesc.
E, graças à Deus, resolvemos fazer uma parada no Hotel ou Palácio Quitandinha, hoje apenas um local aberto a visitação.
O engraçado é que, toda vez que eu pergunto aos meus amigos que vão conhecer Petrópolis se eles se lembraram de visitar o Quitandinha, eles me perguntam de volta: "Não, e o que tem lá?"
A minha resposta sempre é: "Além de ser um lugar lindo, de uma arquitetura incrível, o Quintandinha tem história!!!!"
Imagina só! Ele foi construído em 1944 por Joaquin Rolla para ser o maior hotel cassino da América Latina. Por dentro, seu estilo arquitetônico utiliza o rococó hollywoodiano, só que por fora, ele segue o padrão normando-francês, muito presente na arquitetura de Petrópolis devido à colonização alemã. Foi lá que ocorreu a assinatura da declaração de guerra dos países americanos às Potências do Eixo, durante a Segunda Guerra Mundial.
O Palácio teve seus dias de Cassino interrompido pelo Presidente Eurico Gaspar Dutra, que proibiu o jogo no Brasil a pedido de sua esposa, em 1964. Tentaram fazer dele um hotel apenas (não deu certo) e depois um clube (também não deu certo) e hoje, parte de suas dependências é utilizada em convenções e parte pelo Sesc.
Detalhe da fachada, com um jardim frontal extremamente bem cuidado.
Entrada principal em pedras portuguesas, com desenhos bem particulares ao Palácio.
Detalhe do desenho do piso de pedras portuguesas na entrada principal.
Frente do Palácio com laguinho para as crianças curtirem o final da tarde...
Escada na entrada lateral, por onde começa a visita.
Iluminação no hall de entrada, lembra um pouco os cassinos de Las Vegas...
Iluminação no hall de entrada, mas merece especial atenção o sofá forrado de veludo vinho.
Exagero das torres de iluminação da entreda para o salão do cassino,
que apesar de conter muitas lâmpadas, não tiram o ambiente da penumbra...
Detalhe do piso de pedras - granito preto e mármore -, recepcionando os visitantes.
Uma parede de pinturas da Pequena Notável - Carmem Miranda -
mostra que ela costumava andar por ali no auge do Hotel-Cassino.
Uma visão da varanda do Palácio...
Sala de brinquedos para as crianças, detalhe para o piso de tacos incríveis...
Lustre da sala de bailes, maravilhosa acústica, imagino
se bandas dos anos 50 tivessem tido a oportunidade de tocar ali...
Pedalinhos completam o visual do lago em frente ao Palácio...
Janelas em arcos compôem a fachada...
... repletas de jardineiras floridas e bem cuidadas...
... seriam camélias?
E no interior do Palácio, lustres em forma de estrelas por toda parte...
Para finalizar, este biombo magnífico, fazendo uma composição em um dos salões de estar...
Como não apreciar esta visita? Por isso, eu tenho recomendado a todos, não deixem de visitar o Quitandinha. Vale à pena!
Música do dia: Fly me to the moon - Frank Sinatra
sexta-feira, julho 20, 2012
93 milhões de milhas
"93 Million Miles" - Jason Mraz
93 million miles from the Sun, people get ready get ready,
'cause here it comes it’s a light, a beautiful light, over the horizon into our eyes
Oh, my my how beautiful, oh my beautiful mother
She told me, "Son in life you’re gonna go far, and if you do it right you’ll love where you are
Just know, that wherever you go, you can always come home"
Ohh…ohh…ohh…
Ohh…ohh…ohh…
240 thousand miles from the Moon, we’ve come a long way to belong here,
To share this view of the night, a glorious night, over the horizon is another bright sky
Oh, my my how beautiful, oh my irrefutable father,
He told me, "Son sometimes it may seem dark, but the absence of the light is a necessary part.
Just know, you’re never alone, you can always come back home"
Ohh…ohh…ohh…
Ohh…ohh…ohh…
You can always come back…back…
Every road is a slippery slope
There is always a hand that you can hold on to.
Looking deeper through the telescope
You can see that your home’s inside of you.
Just know, that wherever you go, no you’re never alone, you will always get back home
Ohh…ohh…ohh…
Ohh…ohh…ohh…
Ohh…ohh…ohh…
Ohh…ohh…ohh…
Ohh…ohh…ohh…
93 million miles from the Sun, people get ready get ready,
'cause here it comes it’s a light, a beautiful light, over the horizon into our eyes…
quinta-feira, julho 19, 2012
Verdade?
Não são fáceis, nem críveis as paixões. São frutos de memórias afetivas, de expectativas, projeções. Por isso, é difícil saber o que é verdade, o que não é. Alguém, inadivertidamente, pode sentir algo não correspondido e jurar pra todo mundo ouvir que o é. Alguém pode jurar que ama um tipo que é de um jeito enquanto todo mundo o sabe muito diferente. Pode?
Conexões não justificam os fatos, apenas reforçam as dúvidas. Afinidade não é algo fingido. É conquista. Se mergulhar no mar do amor é um desafio absurdo, que dá medo, mas traz enorme satisfação para a vida, e para a alma, tenho certeza que isso é o que quer a maioria. Quer o que não é normal, quer o que os tira do sério, quer o que descompensa, e faz parecer flutuar. Verdade?
Música do dia: Pensando em Você - Moska
Conexões não justificam os fatos, apenas reforçam as dúvidas. Afinidade não é algo fingido. É conquista. Se mergulhar no mar do amor é um desafio absurdo, que dá medo, mas traz enorme satisfação para a vida, e para a alma, tenho certeza que isso é o que quer a maioria. Quer o que não é normal, quer o que os tira do sério, quer o que descompensa, e faz parecer flutuar. Verdade?
Música do dia: Pensando em Você - Moska
Paixão na contramão
Ela já nem se lembrava quantas vezes havia esperado por um telefonema dele. Sempre tão longe, tão distante. Estava sempre com a cabeça ligada nele, em cada notícia que recebia dele, sabia quando ele vinha e quando não vinha. Tentava ser sútil, mas seu coração vivia aos pulos a cada chamado... Com o tempo, as notícias foram rareando, rareando... ele aparecia de vez em quando, contava algumas poucas coisas sobre a sua vida...adorava receber seus e-mails, cartas, postais, telegramas, fotografias... ele fazia de tudo para dizer pouco ao mesmo tempo que fazia questão de manter algum contato...
...
Ele já nem se lembrava quantas vezes havia andado de um lado para o outro pensando se era conveniente ligar para ela. Pensava nela nas horas mais estranhas, naquelas horas em que não havia um motivo plausível para um telefonema, algo que fosse causar um mínimo de interferencia em sua vida. Estava sempre com a cabeça ligada nela, em cada notícia que recebia dela, sabia como ela estava e os rumos que sua vida haviam tomado. Acompanhava de longe, sem entender... Tentava ser sútil, mas seu coração vivia aos pulos a cada chamado... Com o tempo, as notícias foram rareando, rareando... ela ligava de vez em quando, e mandava algumas fotos, em retribuição as suas.
...
Ela estava cansada daquele jogo. Eles tinham suas vidas agora. O que quiseram viver no passado não mais os pertencia. Tinha ficado no passado. O futuro era feito de esperança, de que algo bom se realizasse, e ele não tinha mais espaço na sua vida, refeita, estruturada, certinha e no lugar. Não adiantava, nem era bom que ele insistisse em se fazer presente. Não havia mais tempo para bobagens.
...
Ele estava cansado daquele jogo. Era hora de fazer alguma coisa, no tudo ou nada. Aquela mulher o fazia tão bem, como tinha sido tolo em deixá-la ir. Estremecia só de olhar para ela. Tinha que arriscar. Afinal, só se vive uma vez.
....
Um telefonema. "Tá bom, eu te encontro. Sim, tá bom. Perto do restaurante de sempre? Sim, para tomarmos um café? Ok, ok". Ele se olhou no espelho antes de sair, arrumou os cabelos e foi... entregou a sorte aos ventos do amor... que eles fizessem a sua parte...
Música do dia: Set fire to the rain - Adele
segunda-feira, julho 16, 2012
On the road, easy rider!
Ontem, eu e marido fomos ver o novo filme do Walter Salles, "Na estrada". Enquanto muitos diziam que o filme baseado no livro do Kerouac é muito pesado, nós fomos assistí-lo sem preconceito, sem pré-julgamentos. Eu não li o livro, e como já mencionei em outros posts, vivo num dilema enorme entre ler os clássicos do passado e me deliciar com os livros de hoje, com linguagens contemporêaneas mais próximas das nossas. Como não li o livro, não tinha como saber de antemão a história, nem fazer comparações.
Senti falta, em muitos momentos, de explicações. O filme é longo e, na minha opinião, é justamente por este motivo, que ele não deveria se abster de dá-las. Por exemplo, o que leva o personagem principal, Sal, a viver daquele jeito, em busca de algo que ele não sabe bem o que é? O que o leva a conhecer aquelas pessoas, a viajar com elas e a fazer delas a sua família, se num primeiro momento elas parecem tão diferentes dele? Seria apenas a necessidade de ser um escritor? Seria a morte do pai? Seria a inexpressividade da participação da mãe na sua vida? Não fica claro...
Para um filme que se passa logo depois do final da 2a. Grande Guerra, a gente até supõe que a rebeldia daquelas pessoas e a vontade de viver a vida intensamente que tinham é fruto de um inconformismo com o status quo vigente... mas são suposições do espectador. Será que é isso mesmo?
__________________________________
PS.: A música de hoje é de um outro filme muito famoso, que não mencionei no texto, mas que tem tudo a ver com a temática, "Easy Rider", com Peter Fonda e Denis Hopper.
Senti falta, em muitos momentos, de explicações. O filme é longo e, na minha opinião, é justamente por este motivo, que ele não deveria se abster de dá-las. Por exemplo, o que leva o personagem principal, Sal, a viver daquele jeito, em busca de algo que ele não sabe bem o que é? O que o leva a conhecer aquelas pessoas, a viajar com elas e a fazer delas a sua família, se num primeiro momento elas parecem tão diferentes dele? Seria apenas a necessidade de ser um escritor? Seria a morte do pai? Seria a inexpressividade da participação da mãe na sua vida? Não fica claro...
Para um filme que se passa logo depois do final da 2a. Grande Guerra, a gente até supõe que a rebeldia daquelas pessoas e a vontade de viver a vida intensamente que tinham é fruto de um inconformismo com o status quo vigente... mas são suposições do espectador. Será que é isso mesmo?
De qualquer modo, o filme me fez pensar muito na minha vida. No quê fiz quando tinha aquela idade, no quê não fiz, no quê experimentei e no quê não experimentei. Sinto um certo arrependimento por não ter usado nenhum tipo de drogas, por não ter experimentado uma cerveja, quando todo mundo fazia, por não ter dado um "tapa" num cigarro de maconha, nos shows que eu ia... eu sempre fui muito careta e, com o tempo, comecei a achar que não era mais hora de passar por isso, de experimentar isso... e, quanto às bebidas alcoólicas, eu as deixei totalmente de lado. Se for para escolher, eu prefiro não beber, simplesmente porque não gosto, não curto o alcóol. Chato, né? Socialmente, é muito chato, eu sei, mas fazer o quê? Me forçar só para ser aceita? Não, não com mais de 40...
Não que a lucidez tenha me impedido de ter sensações fortes. Eu as tive. Só que as tive com muita clareza do que estava vivendo, o que tornam as minhas lembranças muito fortes, pois misturam as sensações com o lado totalmente racional que sabe dizer se algo aconteceu de fato ou foi um sonho acordado.
Aliás, o meu lado sonhador sempre foi suficientemente pirado para me suprir de toda a loucura que eu precisava. Portanto, eu não necessitava mesmo de nenhum alucinógeno extra, além dos meus próprios neurônios...
Enfim, sair por aí, aproveitando o caminho, me lembrou um outro filme igualmente marcante, que vi há um tempo atrás...
"Na natureza selvagem" também é um filme que aborda a questão que o quê de fato importa é o caminho, e não o destino, apesar do rapaz estar se dirigindo para o Alasca.
Enfim, é o que fazemos da nossa vida, na nossa caminhada. É o que levamos quando partimos, o que foi conquistado enquanto íamos...
São dois filmes bonitos, muito bem filmados, que servem - sinceramente - para pensar! Eu os recomendo...
Música de hoje: Born to be wild - Steppenwolf
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PS.: A música de hoje é de um outro filme muito famoso, que não mencionei no texto, mas que tem tudo a ver com a temática, "Easy Rider", com Peter Fonda e Denis Hopper.
sábado, julho 14, 2012
A vida é muito curta...
Tem horas que me olho no espelho e fico aqui percebendo e realizando o efeito das muitas mudanças pelas quais passei nestes últimos tempos. Estou bem diferente, mais segura. Muita gente percebe isso. O rosto e a expressão estão mais calmos, mais serenos, apesar de surtos de ansiedade como o que eu postei aqui anteontem.
É bom quando a gente se olha no espelho e, simplesmente, se reconhece.
Não sei se o efeito é o das férias, esta semana fiquei de bobeira, encontrei amigos, fiz minhas coisas com calma, arrumei a casa, cuidei das plantas, enfim, sem a preocupação de viajar, de ter que postar milhões de fotos de milhões de lugares diferentes no Facebook, como faz todo mundo...
Eu só queria a paz do meu travesseiro e do meu edredom, a companhia dos meus livros e CDs, o aconchego do quentinho da minha casa nesse friozinho de inverno, um carinho do meu amor, e foi isso que eu conquistei...
O tempo traz pra gente algo chamado "maturidade", algo que só percebi o que era depois dos 40 anos... Pra mim, maturidade tem a ver com prioridade, com leveza, com mudança de ritmo. Por mais que a gente queira fazer muito, ser maduro é entender os limites do seu próprio corpo, é saber que não dá mesmo para abraçar o mundo, é respeitar a individualidade dos demais e saber que cada um, inclusive você, tem o direito de fazer suas próprias escolhas.
Quando estive na Alemanha com uns amigos, conheci um campo de trigo como este. Isso foi há dois anos. Hoje, eu teria feito o mesmo que a moça da foto. Teria me deixado afundar na maciez do trigo que nos alimenta, e nos dá o pão. Teria me preocupado menos com o ridículo, com o infantil, e gozado mais a vida.
Porque a vida está aí para ser vivida. Gosto de uma frase da qual me lembro sempre que estou em "apuros":
Música do dia: Haja o que houver - Madredeus
É bom quando a gente se olha no espelho e, simplesmente, se reconhece.
Não sei se o efeito é o das férias, esta semana fiquei de bobeira, encontrei amigos, fiz minhas coisas com calma, arrumei a casa, cuidei das plantas, enfim, sem a preocupação de viajar, de ter que postar milhões de fotos de milhões de lugares diferentes no Facebook, como faz todo mundo...
Eu só queria a paz do meu travesseiro e do meu edredom, a companhia dos meus livros e CDs, o aconchego do quentinho da minha casa nesse friozinho de inverno, um carinho do meu amor, e foi isso que eu conquistei...
O tempo traz pra gente algo chamado "maturidade", algo que só percebi o que era depois dos 40 anos... Pra mim, maturidade tem a ver com prioridade, com leveza, com mudança de ritmo. Por mais que a gente queira fazer muito, ser maduro é entender os limites do seu próprio corpo, é saber que não dá mesmo para abraçar o mundo, é respeitar a individualidade dos demais e saber que cada um, inclusive você, tem o direito de fazer suas próprias escolhas.
Talvez seja isso, talvez seja assim que deva ser, a gente comendo pelas beiradas da vida, aprendendo a apreciar todos os momentos, entendendo que nada nem ninguém nos vem e nos vai por acaso. O importante é não sofrer com a falta do que passou, é lembrar com uma saudade, uma aceitação daquilo que não se pode mudar."A maturidade me permite olhar com menos ilusões, aceitar com menos sofrimento, entender com mais tranquilidade, querer com mais doçura." - Lya Luft
Quando estive na Alemanha com uns amigos, conheci um campo de trigo como este. Isso foi há dois anos. Hoje, eu teria feito o mesmo que a moça da foto. Teria me deixado afundar na maciez do trigo que nos alimenta, e nos dá o pão. Teria me preocupado menos com o ridículo, com o infantil, e gozado mais a vida.
Porque a vida está aí para ser vivida. Gosto de uma frase da qual me lembro sempre que estou em "apuros":
Pense nisso!"A vida é muito curta para ser pequena..."
Música do dia: Haja o que houver - Madredeus
quinta-feira, julho 12, 2012
Ansiedade
Sei que não vale à pensa viver ansiosa. Isso só desgasta, impede que se durma bem, faz com que a gente tenha rugas, em alguns casos, espinhas (no meu, por exemplo), enfim... torna tudo mais complicado.
Enquanto me dava conta do quanto estou ansiosa, e de que isso não está me fazendo fisicamente bem, porque eu sinto a adrenalina passear pelas minhas veias com toda força, recebi este texto...
Tenho medo de estar a exaurir aqueles com quem eu convivo com estas minhas ansiedades. Vivo assim, com o coração aos pulos, na boca, e a vida pronta para ser despejada a qualquer suspiro. Parece-me até que não me permito o ócio, mesmo sabendo que ele é algo muito salutar, que ajuda a clarear as ideias, a oxigenar a mente, a nos trazer pro lado mais criativo da vida.
Recentemente, um colega passou a me chamar de poetisa. A princípio, não teorizei muito o que ele me falou. Depois, disse que, de observar meu timbre de voz, havia percebido uma certa dramaticidade, uma impressão de força em tudo que eu digo. Então, mesmo quando estou bem, tranquila, livre desta ansiedade que me atormenta, ainda assim passo essa dramaticidade que ele reparou. Já dizia minha saudosa avó que eu era muito dramática.
Foi então que eu me dei conta disso e resolvi que, ao menos no texto, eu tentaria ser pragmática. E comecei a suprimir da minha comunicação escrita todos os recursos (adjetivos, hipérboles e metáforas) que os tornavam densos. Queria ser objetiva. Mas, estou falando aqui do meu trabalho, o que a princípio, parecia facilitar as coisas. Não é que, do contrário, eu ouvi de um cliente que tinha sido "curta e grossa"? Ora, se tento ser delicada, sou dramática; se aposto na objetividade, sou grosseira?
Que difícil!
Aqui, sou eu mesma. Não sei quem me lê. Se se interessa pelo que escrevo, ou apenas faz visitas breves ao blog. Tenho um resumo estatístico das visitas, mas, o certo é que nem o acompanho, eu escrevo para mim. Escrevo para suprir uma profunda necessidade de exprimir o que penso. E de tentar me entender um pouquinho. Escrevo minhas memórias, e decidi há muito tempo que não ia esperar a velhice chegar para registrá-las. Sou eu mesma. Sem máscaras. Sem entrelinhas.
Música do dia: "Caçador de mim" - Milton Nascimento
Enquanto me dava conta do quanto estou ansiosa, e de que isso não está me fazendo fisicamente bem, porque eu sinto a adrenalina passear pelas minhas veias com toda força, recebi este texto...
Como sou partidária da crença de que nada é por acaso, como já dizia o brilhante Kardec, parei para apreciar o texto."A ansiedade traduz desarmonia interior, insegurança e insatisfação.
É a crença no inconformismo, do qual decorre a incerteza em torno das ocorrências do cotidiano.
O ansioso perturba-se e perturba.
No seu estado de ansiedade, desgasta-se e exaure aqueles que se lhe submetem ou com quem convive.
A ansiedade pode ser considerada como um fenômeno de desequilíbrio emocional.
Littré, o eminente pensador positivista, afirmava que a "inquietação, a ansiedade e a angústia são manifestações de um mesmo estado".
Mediante exercício da vontade e recorrendo-se à terapia especializada, a ansiedade se transforma em clima de paciência, aprendendo a aguardar no tempo, na hora e no lugar próprios, o que deve suceder.
Se experimentas contínuos estados de ansiedade, pára a meditar e propõe-te renovação de conceito espiritual."
( Joanna de Ângelis )
Tenho medo de estar a exaurir aqueles com quem eu convivo com estas minhas ansiedades. Vivo assim, com o coração aos pulos, na boca, e a vida pronta para ser despejada a qualquer suspiro. Parece-me até que não me permito o ócio, mesmo sabendo que ele é algo muito salutar, que ajuda a clarear as ideias, a oxigenar a mente, a nos trazer pro lado mais criativo da vida.
Recentemente, um colega passou a me chamar de poetisa. A princípio, não teorizei muito o que ele me falou. Depois, disse que, de observar meu timbre de voz, havia percebido uma certa dramaticidade, uma impressão de força em tudo que eu digo. Então, mesmo quando estou bem, tranquila, livre desta ansiedade que me atormenta, ainda assim passo essa dramaticidade que ele reparou. Já dizia minha saudosa avó que eu era muito dramática.
Foi então que eu me dei conta disso e resolvi que, ao menos no texto, eu tentaria ser pragmática. E comecei a suprimir da minha comunicação escrita todos os recursos (adjetivos, hipérboles e metáforas) que os tornavam densos. Queria ser objetiva. Mas, estou falando aqui do meu trabalho, o que a princípio, parecia facilitar as coisas. Não é que, do contrário, eu ouvi de um cliente que tinha sido "curta e grossa"? Ora, se tento ser delicada, sou dramática; se aposto na objetividade, sou grosseira?
Que difícil!
Aqui, sou eu mesma. Não sei quem me lê. Se se interessa pelo que escrevo, ou apenas faz visitas breves ao blog. Tenho um resumo estatístico das visitas, mas, o certo é que nem o acompanho, eu escrevo para mim. Escrevo para suprir uma profunda necessidade de exprimir o que penso. E de tentar me entender um pouquinho. Escrevo minhas memórias, e decidi há muito tempo que não ia esperar a velhice chegar para registrá-las. Sou eu mesma. Sem máscaras. Sem entrelinhas.
Música do dia: "Caçador de mim" - Milton Nascimento
quarta-feira, julho 11, 2012
A violência e a não-violência
Onde está a violência?
Você já se deu em conta? Ela parece estar em todo lugar. No trânsito, no shopping, no restaurante, no trabalho - ainda que velada -, nas famílias...
Tenho pensado muito sobre isso. A violência é a falta de educação, é o berro ao invés da voz doce, é o descaso, é a falta de atenção, é a ausência do olho-no-olho, é a falta de carinho...
Estamos construindo uma sociedade violenta, ao contrário do que pregava Gandhi, quando falava do conceito da não-violência. Ele adotou este conceito, que mais tarde viraria quase que uma filosofia, ao lutar pela independência da Índia, que era colônia da Inglaterra.
Mas, e se a tal Sociedade de repente fica violenta em todos os seus atos? Se fica impaciente, se se torna descortês, se usa palavras agressivas, se simplesmente finge que não vê quem está precisando de ajuda e passa direto...?
O que adianta a pessoa frequentar igreja, ser devota de algum santo, se dizer muito temente a Deus, se quando tem uma oportunidade, uma só oportunidade, não pratica um ato sequer de bondade? E se de sua boca só saem impropérios?
Eu tenho pensado mesmo muito sobre isso. Penso que ser democrático é tratar os diferentes como diferentes. Por exemplo, eu só vou me lembrar que preciso construir uma rampa de acessibilidade para deficientes físicos numa calçada se eu reconhecer, enquanto faço o projeto, que nós não somos todos iguais e que a acessibilidade é para todos. É o direito de ir-e-vir, que todos temos.
Recentemente, recebi novamente uma propaganda muito tocante, que mexeu de novo com o meu coração. Aqui vai ela.
Onde queremos chegar como sociedade? Quando seremos uma sociedade justa, aquela que preza a amizade e a solidariedade, que valoriza a competência e não a corrupção e a ganância, que se mobiliza em prol de bens comuns, que é responsável, que enfrenta os problemas e procura consertar as coisas na medida do possível?
Quando teremos consciência que temos direitos mas precisamos cumprir também com os nossos deveres, lembrando sempre que não estamos sozinhos?
Quando?
Você já se deu em conta? Ela parece estar em todo lugar. No trânsito, no shopping, no restaurante, no trabalho - ainda que velada -, nas famílias...
Tenho pensado muito sobre isso. A violência é a falta de educação, é o berro ao invés da voz doce, é o descaso, é a falta de atenção, é a ausência do olho-no-olho, é a falta de carinho...
Estamos construindo uma sociedade violenta, ao contrário do que pregava Gandhi, quando falava do conceito da não-violência. Ele adotou este conceito, que mais tarde viraria quase que uma filosofia, ao lutar pela independência da Índia, que era colônia da Inglaterra.
Quem praticou ou pratica a não-violência entende que os fins são resultados dos meios, num ciclo de causas e efeitos que se correlacionam e se estendem numa espiral evolutiva. Assim, a paz não pode ser obtida através de métodos violentos e repressivos. Uma "paz" que se pretende obter através da opressão, cessa assim que os instrumentos de repressão deixam de ser utilizados, logo, um estado real de paz não se mantém quando ela não se estende a todos os indivíduos de uma sociedade."Mas creio que a não-violência é infinitamente superior à violência, o perdão é mais nobre que a punição. O perdão enobrece um soldado. Mas a abstenção só é perdão quando há o poder para punir; não tem sentido quando pretende proceder de uma criatura desamparada. Um camundongo dificilmente perdoa um gato que o dilacera. Compreendo os sentimentos daqueles que clamam pela punição condigna do General Dyer e outros iguais. Haveriam de esquartejá-lo, se pudessem. Mas não creio que a Índia seja desamparada. Não me considero uma criatura desamparada. Apenas quero usar a força da Índia e a minha própria para um propósito melhor.” - Mahatma Gandhi
Mas, e se a tal Sociedade de repente fica violenta em todos os seus atos? Se fica impaciente, se se torna descortês, se usa palavras agressivas, se simplesmente finge que não vê quem está precisando de ajuda e passa direto...?
O que adianta a pessoa frequentar igreja, ser devota de algum santo, se dizer muito temente a Deus, se quando tem uma oportunidade, uma só oportunidade, não pratica um ato sequer de bondade? E se de sua boca só saem impropérios?
Eu tenho pensado mesmo muito sobre isso. Penso que ser democrático é tratar os diferentes como diferentes. Por exemplo, eu só vou me lembrar que preciso construir uma rampa de acessibilidade para deficientes físicos numa calçada se eu reconhecer, enquanto faço o projeto, que nós não somos todos iguais e que a acessibilidade é para todos. É o direito de ir-e-vir, que todos temos.
Recentemente, recebi novamente uma propaganda muito tocante, que mexeu de novo com o meu coração. Aqui vai ela.
Exemplo "Pais e Filhos"
Onde queremos chegar como sociedade? Quando seremos uma sociedade justa, aquela que preza a amizade e a solidariedade, que valoriza a competência e não a corrupção e a ganância, que se mobiliza em prol de bens comuns, que é responsável, que enfrenta os problemas e procura consertar as coisas na medida do possível?
Quando teremos consciência que temos direitos mas precisamos cumprir também com os nossos deveres, lembrando sempre que não estamos sozinhos?
Quando?
segunda-feira, julho 09, 2012
Ele só queria um abraço...
Queria um abraço, mas a outra insistiu em ser espelho. Ralhou, apontou dedo, disse verdades, disfarçou suas mentiras. Construiu castelos de areia com fundações muito rasas. Sem perceber, estava presa no calabouço, com direito a foço repleto de jacarés. Sem ponte, nenhuma ligação com o mundo real. Estava no inferno, optou pelo diabo. "A culpa é minha, eu tenho um vício de me machucar"...
Enquanto tudo o que ele queria era um abraço...
(...)
Hoje, quer distância. E segue convivendo com mentiras que apertam o peito, todos os dias.
Música do dia: "Simplesmente aconteceu" - Ana Carolina
quinta-feira, julho 05, 2012
E não foram felizes para sempre...
Fim.
Não. Foi só o começo.
Ele era dela. Ela era dele. Não tinham olhos para mais ninguém. Só um para o outro. Não sentiam ciúmes. Não tinham medo de perder. Confiavam um no outro.
Agora que estavam finalmente juntos, casados, estavam construindo um lar, felizes com a conquista, precisavam acertar suas vidas profissionais. E foi nisso que eles resolveram investir. Muito.
Dias e dias estudando a fio, os dois. Muito isolamento, muita dedicação, com apenas um foco na cabeça: crescer profissionalmente. Nada de baladas. Nada de amizades fugazes. Só relacionamentos de futuro. Nenhum dos amigos de outrora ficou para assistir o desenrolar desta história.
O tempo foi passando e eles foram sendo soterrados pelos vilões das histórias felizes de amor: o tédio e a monotonia.
Alternavam-se nas tentativas de reascender a paixão inicial em razão do custo de mudança. Não sabiam se queriam, se deviam, ou se podiam continuar juntos. Sentiam um enorme apreço um pelo outro, consideração, carinho, amizade, tudo o que os mais velhos diziam ser os componentes de um grande amor. Eram fiéis. Mas, no fundo, bem lá no fundo, eles se questionavam se era isso mesmo que queriam estar fazendo das suas vidas.
Seria um grande amor regado a falta de desejo? Seria mesmo pecado ter tanto apetite sexual fora daquele contexto? Seria mesmo necessário prescindir de sexo apaixonado em função da preguiça e da rotina?
Estas questões massacravam os dois, e vinham fortes e frequentes, quando deitavam-se lado a lado para dormir. O tempo, os defeitos, as manias haviam afastado os dois. E o que havia entre eles era ora uma ponte frágil, ora um muro alto.
Sabiam que um deles teria que tomar uma decisão: ficar ou não ficar. O outro sentiria muito num primeiro momento mas, depois, se veria aliviado. Ufa!, pensaria enfim bem mais leve.
Como num jogo de xadrez, onde se imagina os próximos passos, ansiavam cada dia mais pelo xeque-mate. Pacientemente. Esperavam apenas pelo fim.
Música do dia: Um Móbile no Furacão - Paulinho Moska
Não. Foi só o começo.
Ele era dela. Ela era dele. Não tinham olhos para mais ninguém. Só um para o outro. Não sentiam ciúmes. Não tinham medo de perder. Confiavam um no outro.
Agora que estavam finalmente juntos, casados, estavam construindo um lar, felizes com a conquista, precisavam acertar suas vidas profissionais. E foi nisso que eles resolveram investir. Muito.
Dias e dias estudando a fio, os dois. Muito isolamento, muita dedicação, com apenas um foco na cabeça: crescer profissionalmente. Nada de baladas. Nada de amizades fugazes. Só relacionamentos de futuro. Nenhum dos amigos de outrora ficou para assistir o desenrolar desta história.
O tempo foi passando e eles foram sendo soterrados pelos vilões das histórias felizes de amor: o tédio e a monotonia.
Alternavam-se nas tentativas de reascender a paixão inicial em razão do custo de mudança. Não sabiam se queriam, se deviam, ou se podiam continuar juntos. Sentiam um enorme apreço um pelo outro, consideração, carinho, amizade, tudo o que os mais velhos diziam ser os componentes de um grande amor. Eram fiéis. Mas, no fundo, bem lá no fundo, eles se questionavam se era isso mesmo que queriam estar fazendo das suas vidas.
Seria um grande amor regado a falta de desejo? Seria mesmo pecado ter tanto apetite sexual fora daquele contexto? Seria mesmo necessário prescindir de sexo apaixonado em função da preguiça e da rotina?
Estas questões massacravam os dois, e vinham fortes e frequentes, quando deitavam-se lado a lado para dormir. O tempo, os defeitos, as manias haviam afastado os dois. E o que havia entre eles era ora uma ponte frágil, ora um muro alto.
Sabiam que um deles teria que tomar uma decisão: ficar ou não ficar. O outro sentiria muito num primeiro momento mas, depois, se veria aliviado. Ufa!, pensaria enfim bem mais leve.
Como num jogo de xadrez, onde se imagina os próximos passos, ansiavam cada dia mais pelo xeque-mate. Pacientemente. Esperavam apenas pelo fim.
Música do dia: Um Móbile no Furacão - Paulinho Moska
segunda-feira, julho 02, 2012
Uma carta perdida
Entrou apressada no último vagão do metrô, do último trem, da última estação. Sentou-se bem no finzinho do vagão, onde quase ninguém ia procurar abrigo aquela hora, nem a ficaria encarando.
Fechou os olhos, como fazia sempre, de modo a lidar com a terrível sensação de claustrofobia que sentia. Deixou os braços escorregarem pelo seu corpo, até encontrarem o frio do banco do coletivo. No vão entre os dois assentos, encontrou um envelope.
Olhou para os lados para ver se havia alguém ainda por perto, talvez o dono ou dona do pequeno envelope. Não, não havia ninguém por perto. Olhou pro envelope e viu que na frente estava grafada, com uma letra bastante feminina e rebuscada, a frase: "Para o meu amor".
Ela, que adorava histórias de amor, não pensou duas vezes, abriu o envelope.
"Rio de Janeiro, 13 de julho de 2011.
Meu querido amor,
Agora que você foi embora, me sinto mais confortável em te dizer tudo isso que eu preciso dizer. Não sei se você nunca percebeu, ou se simplesmente o fez mas, por uma questão de dignidade, nunca tocou no assunto... o caso é que eu te amo... muito. Amo-te desde o primeiro dia, desde a primeira vez que te vi e te achei incrivelmente bonito. Desde o primeiro momento em que rejeitei você e o tachei de chato. Amo-te de raiva, por seres tão insistente. Amo-te, mas amo-te tão perdidamente, que só me reconheço quando olho em teus olhos. O que foi dúvida para mim, de repente se tornou uma verdade irrefutável. Não há espelho mais revelador de si mesma do que os olhos do homem a quem se ama.
Meu amor, você se foi. Está tão longe. Não sei quando, nem onde poderei encontrá-lo novamente. E o que era medo de perder-te virou uma urgência. Anseio todos os dias por ver-te, tocar-te, beijar-te. Tenho urgência da tua boca, da tua pele, to teu beijo e to teu abraço. Lembro-me de cada momento contigo, daqueles em que eu disse meias verdades, por medo, puro medo, e dos que fui intensamente provocada por você. Não sei como não sucumbi, não sei como resisti a você. Por vezes, tive a impressão de que toda a atenção e energia deste mundo estavam destinados a juntar um homem e uma mulher: nós.
Da menina que podia esperar, sonhar e imaginar, não sobrou nada. Sobrou apenas uma mulher madura, ciente dos seus desejos, aberta para o mundo, que te ama muito, imcompreensivelmente. Peça, chame, grite meu nome, que eu vou ao teu encontro, onde você estiver. Só não me deixe aqui sozinha, sem você.
Eternamente tua Pequena".
Ela fechou a carta e pensou absurdos. Pensou na coragem daquela declaração. Pensou se a "Pequena" era correspondida por ele. Pensou no quanto ele um dia quisera ouvir aquilo tudo, e talvez já fosse um pouco tarde... Pensou que já era hora de viver.
E apesar do adiantado da hora, deixou a carta no vão entre os bancos onde a havia encontrado, e foi à vida!
Música do dia: "O meu amor" - Chico Buarque, na Ópera do Malandro
domingo, julho 01, 2012
O que não se pergunta
Tem perguntas que suscitam meu lado mais nervoso ao estilo do "Tolerância Zero". Aquelas do tipo: "Por que você gosta do Fulano?" ou "O que você tem contra o Ciclano?"
Ora bolas, se eu gosto de alguém, é porque gosto. Desenvolvemos empatia, cumplicidade, algum tipo de amizade. O "santo" bateu! Se não gosto, é porque aquela pessoa não me agrada de alguma maneira, ou porque é o meu oposto, ou porque é o meu espelho. Vai saber...
De qualquer modo, na minha opinião, essas são perguntas que não se deve fazer a ninguém. Porque talvez seja muito difícil de responder. E aí, gera um certo constrangimento.
Às vezes, você conhece alguém que é a cara do teu ex-namorado que te magoou muito, e isso dói. E daí, você quer ver qualquer um menos aquele indivíduo... e ele pode ser até um cara legal, mas não rola uma aproximação. Ou então, você tem uma história com alguém, não é de hoje, e não quer abrir isso pro mundo. E por isso, só por isso, vocês se tratam de um modo especial. Alguém precisa saber destes detalhes? Não, né?
O fato é que hoje, ninguém sabe mais o significado de privacidade. Não adianta insistir, melhor não comentar. Mas, com o advento das redes sociais, e da superexposição em público, todo mundo quer saber de tudo, quem conhece quem, quais são as relações, os motivos, as histórias, as fofocas. Não se permite mais que alguém seja um sujeito reservado. Em pouco tempo, ele passa de reservado a chato.
De acordo com Eric Hughes, "privacidade é o poder de revelar-se seletivamente ao mundo." Para Rainer Kuhlen, a "privacidade não significa apenas o direito de ser deixado em paz, mas também o direito de determinar quais atributos de si serão usados por outros".
Outro dia, eu fui almoçar com uma pessoa com quem eu não simpatizo muito, pelo simples fato de que eu acho que as pessoas merecem uma segunda chance, e que às vezes, elas (ou eu mesma) não estavam num dia bom quando me causaram uma primeira impressão. Ao chegarmos ao restaurante, nós éramos em quatro, o garçom nos ofereceu uma taça de vinho.
Papo vai, papo vem, uma das colegas disse a tal moça que eu não bebia vinho. "Por que, é religião?", ela me perguntou, como seu eu fosse um alien. Retruquei que não, e a conversa até esticou um pouquinho, mas como eu estava sem paciência para explicar, deixei que ela morresse na primeira folheada do cardápio.
Então, sem mais nem porquê, a conversa enveredou para filhos. E ela quis saber quantos filhos eu tinha. "Nenhum", respondi. "Por que, é religião?", ela perguntou novamente, já com ar de deboche, querendo se fazer de engraçada. Foi quando constatei que a minha primeira impressão estava certa, infelizmente. Não se debocha de alguém por suas opções ou história de vida, isso é uma questão de respeito, ou de falta dele, neste caso.
Eu sei que a vontade era deixar a mesa ali mesmo, com a comida pela metade, e ir solenemente almoçar sozinha. Depois do ocorrido, fiquei me perguntando por que, afinal, eu me havia deixado sucumbir e aceitado fazer algo que eu não estava a fim de.
E cheguei à conclusão de que preciso ser mais vigilante comigo mesma.
Música do dia: "Uninvited" - Alanis Morissette.
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