Começa a achar que ficarem juntos é algo possível. São as melhores férias da sua vida. Tanto para estudar e tudo acumulado ao lado da sua cabeceira. Ela só quer saber de viver este amor.
De repente, ele vai até o quarto e volta com um livro nas mãos. Olha para ela e pergunta:
- "Você não quer tomar um café comigo?"
- "Quero, claro! Que é que você tem aí? Que livro é esse?", ela está curiosa.
- "Ah, esta é uma de minhas poetizas favoritas. Seu nome é Ana Cristina César, conhece?"
Ela faz que não com a cabeça e pergunta a ele se ele não quer ler um trecho. Ele diz que sim e começa a leitura, olhando firme pros olhos dela.
2.10.71
Abri curiosa
o céu.
Assim, afastando de leve as cortinas.
Eu queria rir, chorar,
ou pelo menos sorrir
com a mesma leveza com que
os ares me beijavam.
Eu queria entrar,
coração ante coração,
inteiriça,
ou pelo menos mover-me um pouco,
com aquela parcimônia que caracterizava
as agitações me chamando.
Eu queria até mesmo
saber ver,
e num movimento redondo
como as ondas
que me circundavam, invisíveis,
abraçar com as retinas
cada pedacinho de matéria viva.
Eu queria
(só)
perceber o invislumbrável
no levíssimo que sobrevoava.
Eu queria
apanhar uma braçada
do infinito em luz que a mim se misturava.
Eu queria
captar o impercebido
nos momentos mínimos do espaço
nu e cheio.
Eu queria
ao menos manter descerradas as cortinas
na impossibilidade de tangê-las.
Eu não sabia
que virar pelo avesso
era uma experiência mortal.
Ana Cristina César
Conta para ela quem foi Ana C. Ela sabe que estar com ele é ter sempre alguma coisa para aprender. Mas desconhece completamente esse seu lado sensível, afetuoso, romântico até.
As férias acabam e os dois estão se vendo, se curtindo intensamente, e ela também se esforça para ter algo a dizer a ele, para mostrar para ele quem ela é (ah, é uma tola completa!).
Entre um encontro e outro, eles pouco se falam. Ele não conta o que acontece na sua vida quando não está com ela e ela também não pergunta. Mas, o pior é que ele não pergunta a ela o que acontece em sua vida quando não está com ele. E isso dói.
No entanto, ela está feliz. Feliz como nunca. Mas guarda para ela o desejo de dizer que o ama.
Um comentário:
A gente empre quer tnto, né? A gente sempre quer tudo...
E a gente merece, hehehe
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